Marcos Fábio Belo Matos é professor dos cursos de Jornalismo e Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão, membro da Academia Imperatrizense de Letras e autor de “O 18º. Andar”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Como eu sou professor universitário, eu sempre começo o meu dia fazendo coisas relativas à minha rotina de professor: corrigindo provas, enviando material para os alunos (textos, pdfs, slides, esquemas para orientação de monografias).
Não tenho uma rotina matinal no que se refere ao ato de escrever; escrever, para mim, ainda se concentra no campo das não sistematicidades. Escrever, para mim, ainda fica muito associado a momentos de prazer e de inspiração.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Em geral, eu costumo escrever mais à noite, porque dou aulas pela tarde. A manhã é muito corrida e a tarde reservo para a universidade.
Não tenho ritual, mas, quase sempre, quando sento para escrever literatura, a ideia já está maturada – já pensei sobre ela, seja um poema, uma crônica, um conto ou o capítulo do livro que estou escrevendo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta diária de escrita, não. Eu costumo escrever em períodos concentrados mesmo – seja sentando para escrever um conto, seja sentando para escrever um capítulo de livro. Quase sempre, quando sento já estou com a ideia mentalmente desenvolvida.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não é difícil começar, não. Eu sento e escrevo tudo de uma vez. Muitas vezes, o que fica difícil é terminar o texto. No caso dos textos mais longos, eu costumo me esforçar para fechar capítulos inteiros “em uma sentada”.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como a escrita não é uma atividade profissional, para mim, esses medos não me massacram muito. Exemplo: estou, neste exato momento, ocupado em escrever um romance, que me propus a fazer depois de ter publicado a minha primeira narrativa mais longa – uma novela, cujo título é “O 18º. Andar”, um texto de 18 capítulos, com 72 páginas. Mesmo sendo esse um grande desafio, ele não me pesa, não fico pensando em que eu preciso superar a expectativa de que ele seja melhor que a novela. Eu vou apenas escrevendo. No fim, eu vejo como ficou.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu costumo fazer assim: quando escrevo textos para publicar pelas redes sociais ou em jornal (contos, poemas, crônicas), eu faço, em geral, uma escrita e uma única revisão. Mas quando eu vou publicar textos na forma de livros (sejam e-books ou livros impressos), aí me preocupo, sim, em fazer mais de uma revisão – inclusive, contrato um revisor para revê-los.
Mas o que eu, às vezes, faço é: quando vou republicar um texto, eu em geral faço uma ou outra alteração. Já cheguei até a mudar nomes de personagens de contos, por exemplo.
A revisão ou refacção de textos literários é uma coisa que acompanha sempre quem escreve.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu escrevo diretamente no computador, no word mesmo. Ainda não consigo escrever textos literários, como crônicas, contos, poemas, novelas, romances, em plataformas digitais. Apenas pequenos versinhos e pensamentos que eu escrevo diretamente no celular, porque os jogo, imediatamente depois de escritos, na internet – Facebook, Instagram, WhatsApp.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias nascem de coisas que vejo, outras são desdobramentos de experiências pessoais (relações afetivas, minha vida particular, meus hábitos, etc). Mas muita coisa nasce também a partir das leituras que eu vou fazendo. Sou um bom leitor e gosto de ler autores os mais diversos. Vou dos clássicos aos desconhecidos.
Muitas vezes, a ideia do texto surge a partir da invenção de um título. Exemplo: tenho um conto que se chama “O Piano”. Eu o fiz a partir deste título, mas levei uns dez anos para, depois do título feito, poder construí-lo. Outro conto que também nasceu assim foi “O aniversário do papai”. Muitas crônicas que já publiquei nasceram depois de eu ter criado os seus títulos. Gosto da sonoridade das palavras e, às vezes, os títulos acabam por provocar o nascimento dos textos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que mudou minha forma de escrever, de resolver os conflitos nas narrativas, de construir concisões nas frases, nos períodos, de dar mais fluidez e velocidade aos parágrafos. Atribuo essa mudança à minha formação em Jornalismo. Quando comecei a escrever, eu era muito mais formalista, os textos tinham um ar um tanto pesado, com palavras mais ortodoxas, com mais volteios verbais. Hoje minha escrita está mais direta, mais seca, mais sintética – porém, bem mais expressiva.
Se eu pudesse dizer algo para aquele jovem escritor, que começou a escrever aos 15 anos, em 1987, eu diria: rapaz, leia mais os bons contistas brasileiros: Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Fernando Sabino, Luiz Vilela, Carlos Faraco. Leia esses caras e aprenda a escrever de modo mais seco, mas mais expressivo.
Mas creio que tudo na vida serve de aprendizado. E é bom, hoje, poder constatar a evolução na minha forma de me expressar literariamente.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho dois projetos que gostaria de fazer. Um deles é um livro de poemas, uma reunião dos poemas que já fiz até agora (acho que uns 200 ou 250). Já tem até título provisório. Minha vida literária começou com a publicação de um livrinho, impresso em xerox, que eu chamei de “Anonimato”, era um livro de poemas, isso quando eu tinha 18 anos. Nunca mais voltei à poesia em forma de livro e acho que esse projeto poderia ser encarado como um reencontro – ou um epitáfio, o que me couber melhor.
O segundo projeto é um romance. Sempre achei que eu tivesse bloqueio para escrever narrativas mais longas, mas a novela me fez ver que eu posso, sim, construir textos mais consistentes, de narrativa mais ampla. O romance até já foi começado, mas segue a passos de cágado. Vamos ver no que vai dar.
Tenho outros projetos, mas estes mais como editor: fazer uma coletânea de textos de “novos escritores da região tocantina”, onde moro e participo da Academia Imperatrizense de Letras, por exemplo.