Marcio Junqueira é poeta, artista visual e professor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
depende da estação do ano, da cidade onde eu acordo e em qual altura está o calendário acadêmico da uneb. em casa (no arraial d’ajuda), não sendo verão, nem fim de semestre, eu acordo, como algo e vou direto pra praia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
de tarde. embora eu também escreva muito de noite e de madrugada.
não sei se é um ritual. mas eu sempre escrevo ouvindo música. então a escolha da trilha tem um certo peso na criação das condições ambientais de produção.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
nunca tive meta e geralmente escrevo todo dia. mas só às vezes é literatura. às vezes é um relatório. às vezes é um projeto. às vezes é um pré-projeto. às vezes é um roteiro pra performance. às vezes um roteiro. às vezes uma carta. às vezes um postal. às vezes uma tradução. às vezes um ensaio. às vezes diário. muitas vezes listas. às vezes até mesmo uma entrevista, como está, pode ser esse momento de escrita no dia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
não acho difícil começar. adoro começos. tudo é possibilidade, tudo é promessa. mais difícil são os retornos. mas isso também pode não ser. a real-real é um clichê: mas cada “texto” tem um processo de construção especifico. nunca é o mesmo gesto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
tem um koan que o alejandro jodorowsky cita que eu acho bem bom:
– O que faz quando não se pode fazer?
– Deixo que se faça!
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
alguns eu nunca acabo de revisar. tem meia dúzia de poemas que cada vez que aparece (em publicações ou performances) vem numa versão ligeiramente diferente. pode ser uma atualização daquilo. ou uma adapatação contextual. antigamente eu sofria mais com isso. ficava tentando fixar o trabalho achando que era assim que devia ser, embora eu mesmo não conseguisse ser assim. uns anos atrás um coment do allan jonnes, sobre a não-necessidade de coincidência entre o mesmo poema falado e escrito, me absorveu um pouco da culpa de ser volátil.
sempre mostro. adoro essa parte.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
sempre começo à mão. depois vai pro computador. fica ali um tempo. testo recursos e possibilidades. volta pro papel. transita muito. um negócio que eu aprendi trabalhando e vendo laura castro e os meninos da sociedade da prensa trabalhando é que o processo de entendimento das demandas do texto tem uma ligação íntima aos processos de materialização do texto. entender que tipo de gesto cada escrita demanda já ajuda um bocado.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
sou inquieto, curioso e me apaixono muito.
acho que é daí que vem parte das minhas ideias.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu acredito que dos primeiros textos pra cá tem uma ampliação de temas, procedimentos e dialogos. mas não me detenho muito em investigar isso.
10. Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
que eu queira fazer e ainda não comecei não me lembro de nada. mas tenho muitas coisas esboçadas, ou começadas e não acabadas, em diversos graus de desenvolvimento. coisas que eu gostaria de retomar em algum momento, embora não saiba exatamente “se” e “quando” isso vai acontecer.