Márcio Almeida é poeta, crítico literário e jornalista.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho uma rotina diária. Meu dia divide-se em (muitas) leituras e em pensares de novos escritos, que podem ser poemas, crônicas, crítica literária ou produção de poesia visual. Ressalto, neste item, o posicionamento em face de releituras, habitué que sou de livros de referência,objetivando a manutenção da reflexão cultural que grassa meu trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
De manhã ou à noite.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho exatamente uma hora para escrever ou ler. Contudo, sempre tenho o que ler. A escritura é produzida conforme um planejamento prévio, que envolve pesquisa e reflexão. Tento agir como um filosoeta. Produzo pouco, porque não me apetece repetir. Como diz Bertrand de Born: não me repito porque “assim a pena em mim ao crime iguala.”
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O processo de produção que utilizo, sobretudo da poesia, é dinâmico mas sem pressa. Tenho, desde o início, responsabilidade com a poética, o mesmo ocorrendo em relação aos demais gêneros que pratico. Importante é não me repetir. Trabalho muito, poeticamente, com a metalinguagem, sem correria, a fim de obter um resultado se possível inédito com o poema.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Às vezes levo anos para considerar um poema pronto; assim salvo o poema de seu staff de mercadoria e de commoditie da cultura. E como todo autor sério, também eu tenho expectativa de o leitor considerar um poema viável ou descartável.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Poema é diamante: precisa de lapidação. Reescrevo o poema até que ele brilhe por si mesmo, criando seu próprio valor literário. Não me é comum mostrar trabalhos para outras pessoas. uma vez que os publico em livros ou em raros veículos de comunicação cultural.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Não escrevo usando o computador. O processo de escrever à mão faz parte do ato de criação. E evita a pressa, o erro imediato, a satisfação com a graspa da linguagem.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias vêm do processo de aprendizado permanente que tenho com a palavra. Quando se trata de produzir metalinguagem ou semiótica visual procuro reunir pistas que oferecem resultados de reflexão.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O amadurecimento da linguagem é um processo permanente e se estende por décadas. Do primeiro livro (“Lavrário”), do início da década de 1960, ao último (“Vesânia”, lançado em 2019, tenho sempre a acuidade de respeitar o leitor e de lidar com a poesia de modo extremamente honesto, sério e capaz de provocar uma emoção inteligente.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Em nível de projeto, gostaria de poder dar continuidade ao que dei início na década de 1990, “Movimento de Resgate do Autor Inédito e Anônimo”, através do qual foi possível publicar 16 autores. Outro projeto está em publicar o livro “Os filhos das frutas”, infanto-juvenil, com ilustrações primorosas do artista plástico William Júnio. Quanto a leitura de livros, gostaria de ler todos os que são de importância para a crítica, uma vez que respeito a crítica literária e vejo no ato de ler uma forma de aprendizagem e de aperfeiçoamento do labor poético.