Marciele Goetzke é escritora, autora de “O tormento de Mary Petri”.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente, ao longo dos seis anos da minha graduação – faço engenharia geológica na Universidade Federal de Pelotas – eu realizava as aulas presencias no turno da manhã e me dedicava à projetos de literatura à tarde e principalmente à noite. Então, essa era basicamente a minha rotina, estudar de dia e escrever a noite.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho melhor quando estou sem preocupações e prazos, mas certamente a noite eu sinto que sou mais ativa. Exceto aqueles dias que acordo cedo e inspirada, faço um chimarrão e sento em frente ao computador, a tela pisca e as idéias surgem. O meu ritual de preparação para escrita, não sei bem se é ritual, mas sempre antes de escrever qualquer linha, leio as primeiras e últimas páginas do que já escrevi…
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Apesar de dizer que trabalho melhor sem prazos, eu instintivamente os coloco em meus projetos porque sei que sem eles a escrita não anda, assim, eu não tenho uma meta diária ao longo do mês, mas escrevo em períodos concentrados quando o meu prazo mental está acabando. Bem doida. (risos)
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Então, depende muito da história. O suspense “Terror em Morden Lake” (ainda não finalizado) surgiu de um sonho, e eu simplesmente fui escrevendo conforme as idéias iam surgindo na mente, sem necessidade de notas ou roteiro de escrita, talvez por isso ele ainda não esteja finalizado. Já a novela de terror psicológico “O tormento de Mary Petri”, compilada também através de um sonho, foi realizado um roteiro de cada capítulo, então, eu já tinha a história completa em tópicos por capítulos e era só escrevê-la. Os contos em geral, são produzidos à partir de uma idéia inicial e uma final, compondo um esqueleto, depois é só dar vida aos seres. A pesquisa é um processo secundário que vai se fazendo necessário com o avanço da produção, dessa forma, logo que começo a escrita, já pesquiso, ou vice-versa também (não tenho regras para isso, na verdade).
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Sempre que tenho alguma trava de escrita, procuro pesquisar mais sobre o que estou escrevendo e principalmente, ler livros ou assistir filmes que passem uma idéia semelhante. Por exemplo, tive uma trava terrível com “O tormento de Mary Petri”, mas me indicaram alguns filmes com a atmosfera parecida ao do pântano na qual a história se passava e consegui desenrolar. Com relação aos projetos longos, eu ainda não tive coragem para iniciar um, e não sei se terei, pois sou muito ansiosa, acho que teria problemas com isso. (risos)
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende dos prazos, pois geralmente estou apertada com prazos, então costumo revisar umas duas vezes, isso com histórias curtas. Já histórias mais longas, todos os dias antes de escrever um novo capítulo eu reviso os dois anteriores, até para entrar na “onda” dos personagens, ou quase que incorporá-los, por assim dizer. (risos) Sim, eu tenho uma pessoa que me ajuda com a revisão.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Já escrevi um conto inteiro à mão (cerca de 2 mil palavras), depois passei para o Word, era porque eu havia ficado sem luz em casa e estava com prazo esgotado (risos), no entanto, utilizo sempre as tecnologias disponíveis, até mesmo umas notas no celular.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Então, como havia comentado anteriormente, muitas das minhas histórias são de sonhos (pesadelos) que eu tive e tenho. Logo que acordo, tento transferi-los para um bloco de notas ou para o Word mesmo. Com certeza não são sonhos que originam histórias completas, são pedaços desconexos que unidos a pesquisa e vivência, as foram. É um tanto assustador, mas interessante, amo a hora de dormir, pois sei que talvez surja uma nova história em meus sonhos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu acho que consegui dar mais vivacidade e profundidade aos personagens e cenas que crio. Acredito que isso seja pela quantidade de livros que leio agora e que não lia antes, de diversos autores e diversos gêneros. E também faço uma análise no livro, tento identificar as estruturas narrativas, características de gênero, assim não só leio como também o estudo.
“Marciele, pelo amor da deusa, ninguém fala desse jeito!” sobre os meus primeiros diálogos, com certeza é isso que eu diria a mim mesma se pudesse voltar alguns anos. (risos)
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu gostaria de escrever sobre a minha cidade (Pelotas) no século passado, mas isso demanda muita pesquisa e acesso à arquivos que eu não tenho, é um pré-projeto que está em minha mente, e quando eu tiver mais tempo (estou terminando a faculdade ~sem tempo~) irei fazê-lo. E um livro que eu gostaria de ler e ainda não foi escrito, é algo sobre extinção da espécie humana explicada por fatores e eras geológicas, talvez uma pós- extinção onde os seres humanos fossem encontrados como fósseis por uma espécie mais evoluída (irei escrever sobre, mas com certeza é um projeto longo… quem sabe um dia.)