Marcia Zarur é jornalista, autora de Amor Concreto, idealizadora e apresentadora do programa Distrito Cultural e integrante do coletivo literário Maria Cobogó.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o meu dia tomando cappuccino e lendo o jornal impresso. Nenhuma tecnologia conseguiu me tirar o prazer de folhear as notícias no papel. O celular e o computador entram também, claro, mas ao longo do dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Jornalista não pode se dar ao luxo de se preparar para escrever, ou se entregar a rituais e escolher horários ideias. Somos escravos do deadline, e estamos sempre a mercê da noticia. O momento do fato é o tempo exato. Somos guiados pela pressa em informar. Mas a rapidez não pode comprometer a qualidade do texto ou da apuração. Acho que somos meio malabaristas, nos equilibrando entre a urgência e a precisão; e procurando sempre a palavra certa e o charme do texto.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo quando preciso. Por demanda, por prazos ou por uma incontrolável necessidade de compartilhar. Há assuntos que gritam para serem publicados, e acredito que o jornalista tem um pouco este papel, de dar voz a quem não consegue se comunicar.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
A pesquisa e a escrita andam de mãos dadas. No meu trabalho, elas são praticamente simultâneas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
O deadline me move. Sou uma pessoa pontual e isso se reflete no que eu escrevo. Se há prazo, eu cumpro. Mas se não há… Muito difícil quando o céu é o limite. Acho que sou acostumada a trabalhar sob pressão. Ela me move, me tira da inércia e derruba qualquer trava.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Leio e releio muitas vezes, mas acho essencial que outra pessoa passe os olhos pelos meus escritos antes de publicá-los. Meu olhar se acostuma e acaba enxergando o que eu penso que está escrito e não necessariamente o que foi parar no papel. O cérebro frequentemente engana, e por isso é preciso ter alguém sem o olhar viciado, com atenção apurada para flagrar pequenos deslizes.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Não consigo mais me imaginar escrevendo à mão. O computador hoje faz parte do meu processo de raciocínio. Mudar parágrafos inteiros de lugar. Dividir a tela com alguma pesquisa na internet, enquanto escrevo. Jogar temas aleatórios que me interessam, armazená-los e depois encontrar tudo com rapidez. Neste caso, a tecnologia realmente me arrebatou.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Sou movida, essencialmente, pela observação e pela vivência. Tenho olhar atento ao que acontece à minha volta. Os ouvidos abertos a boas histórias. E adoro, simplesmente adoro, uma boa conversa. A vida cotidiana, as pessoas e suas histórias são a matéria-prima da minha escrita. Relato o que vejo e o que sinto, por isso escrevo crônicas. É o universo que me encanta, que trago para o papel.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que aumentou o meu cuidado e o carinho com as palavras. Há muitas para dizer a mesma coisa, mas apenas uma traduz da melhor maneira o que você quer dizer. Dá o tom certo, com mais objetividade ou mais emoção. Aprendi a beleza dessa diversidade. O arsenal que temos ao nosso alcance pra comunicar. Elas são muito mais do que meros vocábulos. É um eterno desafio usá-las com precisão para transmitir o que você quer.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou imersa e apaixonada pelo coletivo literário Maria Cobogó, do qual faço parte, e que me impulsionou a publicar meu livro de crônicas ilustradas sobre Brasília, Amor Concreto. Temos muitos planos e projetos para o futuro no Maria Cobogó, alguns deles têm Brasília no foco e a ambição de levar mais conhecimento sobre a cidade e seus mestres para as novas gerações. No momento esta é a menina dos meus olhos, porque junta assuntos que me fascinam: Brasília, a escrita e a construção de um futuro mais consciente.