Márcia Sanchez Luz é escritora, pedagoga e tradutora de Inglês e Francês.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Costumo dormir tarde e acordo muito cedo, mas preciso de algum tempo (pelo menos duas horas) para estar realmente desperta. Até sou capaz de responder a algumas mensagens pelo WhatsApp e, em seguida, como se nada tivesse atrapalhado esse meu lento despertar, volto ao ponto inicial (fecho os olhos e finjo dormir) e por vezes nem lembro que me comuniquei com alguém durante esse tempo… O que quero dizer é que para que eu tenha um bom dia, preciso que respeitem essa primeira e mais importante rotina (risos)…
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Depende da fase em que estou vivendo… O melhor horário é aquele em que posso estar só, sem pessoas me interrompendo e, principalmente, sem barulho. Adoro o som do silêncio, pois é quando consigo me sentir inteira, capaz de ouvir meus pensamentos e sentimentos, criar enredos e personagens, mesmo em se tratando de poesia – em especial sonetos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo quando surge uma frase, como se alguém me soprasse ao ouvido, e procuro dar sequência, o que por vezes é impossível em função de ruídos ou interrupções. Não tenho meta diária de escrita – sigo minha intuição e não me obrigo a nada… porém salvo tudo e volto sempre ao que comecei, o que pode acontecer rapidamente ou levar um bom tempo… o último poema que publiquei – Constatação – foi feito num instante e adorei o resultado! Postei-o no Facebook e em um de meus blogs, a saber: O Imaginário – Poemas de Márcia Sanchez Luz, juntamente com uma foto que fiz de uma coruja aqui perto do jardim de casa…. Para muitos pode parecer loucura, mas ela veio até mim e, quando vi, já estava a duas quadras de casa, quando ela parou, pousou em uma árvore e fez pose para ser fotografada…. Como amo os bichinhos!
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Continuando o que estava falando, depende do momento, da fase em que me encontro. Há épocas que começar é fácil, assim como terminar; em outras, o início é fácil, mas preciso estar concentrada e livre de interrupções para continuar. Há algo, porém, que sinto ser extremamente importante: reler algumas vezes o que escrevi e, se achar que não está como deveria, tento melhorar… se vejo que não consigo sair do lugar, deixo de molho um tempinho e volto para trabalhar o poema ou o texto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Poesia é Vida e, como tal, procuro não criar expectativas. No mundo em que vivemos, creio sermos todos ansiosos (em especial as pessoas mais sensíveis e que buscam na arte uma forma de exorcizar ansiedades). Como poderia, desta maneira, me gerar mais ansiedade que o habitual? Assim, procuro relaxar e fazer do poetar algo que me dê prazer, para então ser capaz de tocar fundo na alma de meus leitores, ou pelo menos em alguns deles…
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Várias vezes! Outros, porém, como já me adiantei acima, já saem prontos… Leila Míccolis é minha madrinha na internet, minha melhor amiga – a mais querida – e gosto de mostrar a ela, antes de publicar, tudo o que escrevo. Creio que o único poema que ela só viu depois que publiquei foi Constatação (o da coruja, que mencionei anteriormente).
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Adoro tecnologia desde sempre! Mas também adoro fazer rascunhos à mão. Quando era pequena, antes de dormir deixava caneta e papel em cima da cômoda ao lado da cama para escrever, pois não queria perder nada, nenhuma ideia ou mesmo sonho. Na adolescência, pegava o carro e sempre deixava papel e caneta à vista…vinha um poema, eu o memorizava e, quando chegava num semáforo, eu aproveitava e escrevia tudo o que estava na cabeça…
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Da observação, da maneira como vejo o mundo e da leitura, muita leitura – hábito que cultivo desde criança.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Adoro aprender e não me prendo a uma única expressão poética, apesar de ter vários sonetos publicados em livros. Hoje tenho sido um pouco minimalista, tanto em poesia quanto em contos, mas nada é definitivo em minha vida…. Quanto a voltar à escrita de meus primeiros textos, não mudaria absolutamente nada, pois escrevi o que sentia e faz parte de meu passado, que me fez ser quem sou. Vivo o presente e olha que dá trabalho, hein? Quanto ao futuro, deixo para quando ele vier…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho muita vontade de auto editar um livro de forma artesanal, mas agora não é o momento ideal…