Marcia Dallari é escritora, autora de Romanxorcismo (Penalux).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não possuo uma rotina de escrita, pois ainda não vivo disso. Trabalho como Consultora de Educação Corporativa, função que consome a maior parte do meu tempo e do meu intelecto. Portanto, todas as manhãs vou para o escritório e tenho o meu dia tomado por obrigações de trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Costumo escrever quando tenho uma história “cutucando” a cabeça – e isso pode ser à noite, quando chego em casa, e/ou aos finais de semana. Muito dessa inspiração vem de gatilhos emocionais – de situações que vivi e que me trouxeram ideias – ou até mesmo de histórias que amigos contaram. Quando isso acontece, a minha cabeça praticamente me obriga a sentar e escrever. É quase uma compulsão do corpo forçar-me a focar e tentar me livrar daquilo por meio dos dedos num teclado de computador.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta. Apenas respeito o desejo da minha mente em querer escrever ou não. Às vezes apenas leio sobre um assunto referente ao tema que quero escrever e isso, para mim, já conta como parte do processo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O primeiro livro que publiquei foi de contos. Tinha um grupo de amigos que também escrevia e nos encontrávamos todos os sábados para ler nossos materiais e dar e receber sugestões de melhoria. Os temas eram, na maioria das vezes, sorteados num potinho e todos aleatórios, como Programa de Culinária e O Homem e Seu Macaco.
Em um desses sorteios peguei o tema Canibalismo. Iniciei a minha pesquisa pelas imagens no Google e me deparei com a tela Saturno devorando um filho, do Goya. Aquela imagem pareceu-me uma felação e na hora tive a ideia de escrever um conto sobre uma mulher que precisava se alimentar de sêmen para se manter jovem. Saturno é considerado pela mitologia grega como Cronos, o Deus do Tempo, e a personagem, Vivian (que significa Vida) só não seria devorada pelo tempo se se alimentasse de semividas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Travas e procrastinação são os desafios do dia-a-dia do escritor. Ainda mais para aqueles que possuem outros empregos, pois é quase impossível sobreviver somente da escrita num país como o Brasil. Quanto mais obrigações você tem, mais a escrita vai ficando de lado. Em relação a não corresponder às expectativas, tento não me cobrar muito. Aprendi a duras penas a não ter medo de publicar e nesse exercício lancei um livro e tenho uma página no Medium. Uma vez um amigo jornalista disse que estava esperando uma grande ideia para escrever o seu primeiro livro e que, enquanto ela não viesse, não iria se expor com materiais menores. Não acredito nisso. Acho que escrever requer desenvolvimento de habilidades e isso só vem com a prática e com o tempo. O primeiro romance de Umberto Eco foi O Nome da Rosa, mas como havia iniciado sua carreira como filósofo, com estudos voltados para estética medieval e, depois, semiótica, ele já tinha bastante bagagem para escrever a sua obra-prima.
Atualmente estou escrevendo o meu primeiro romance, que vai se chamar Amor de Plástico. Ele já ficou parado por um ano e somente agora senti que é hora de retomá-lo, mas já estou ansiosa para finalizá-lo até o final do ano.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso o tempo todo. O meu novo romance já tem vinte capítulos e ainda estou revisando os capítulos 1 a 19. Faço isso porque os personagens vão se mostrando no decorrer da história e há a necessidade de voltar para verificar se alguns comportamentos e etiquetas de linguagem já estavam presentes desde o início.
Sempre gosto de mostrar meu material para outro escritor. Para este livro estou me encontrando com uma amiga escritora que já me deu vários feedbacks importantes, do tipo: “Acho que o seu personagem precisa comer mais o fígado”. Ela também está escrevendo um romance, também seu segundo, e estamos nos apoiando para tornar esse processo menos solitário.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Desde o início uso somente computador. Salvo versões na nuvem, em pendrive e no drive do computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias são interpretações de coisas que eu vi, vivi, li e ouvi. Por exemplo, uma parte do meu novo romance se passa numa funerária. Eu, quando adolescente na minha cidade natal, Serra Negra, trabalhei em uma como atendente e auxiliar administrativo. O contexto do livro é totalmente diferente, mas a descrição do lugar foi totalmente baseada no que me recordo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que o meu estilo tem evoluído ao longo dos anos. Se eu pudesse voltar no tempo, diria para mim mesma: “nunca desista!”
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não tenho ideia!