Marcelo Viana é matemático e diretor-geral do Impa, colunista da Folha de S. Paulo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Nada muito diferente de outras pessoas. Acordar, tomar café e banho, levar meus filhos na escola e ir trabalhar.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
De manhã, sem dúvida. O meu “ritual” também é muito simples. Pensar um pouco, buscar ideias mentalmente, revisar notas que possa ter tomado anteriormente, pegar papel e caneta e tentar montar as peças. A segunda versão do rascunho já costuma ser digitada.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Regra geral, escrevo a coluna dos domingos de manhã. Em alguns casos, ainda fica trabalho de polimento para ser feito nos dias seguintes.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Varia muito de caso para caso, sobretudo do quanto eu já sei sobre o assunto da coluna e quanto eu preciso pesquisar. O passo decisivo é conseguir que as ideias que eu decidi incluir se encaixem numa sequência harmoniosa. Por vezes isso obriga a mudar a decisão.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Esse problema não se coloca no meu caso, já que escrevo colunas curtas. Já escrevi livros científicos também, com mais de quinhentas páginas, mas é um processo completamente diferente.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Dependendo do caso, entre três e cinco vezes. Sim, normalmente peço que alguém leia e me dê um retorno. Isso já me fez jogar textos fora.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
O primeiro é necessariamente no papel, o segundo já costuma ser no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Do meu conhecimento da área, de sugestões de leitores e de fatos do quotidiano.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Não creio que tenha mudado essencialmente, embora goste de pensar que aprendi um pouco da técnica. Costumo dizer aos meus alunos que estão escrevendo a tese: “comece por listar num papel as coisas que você quer dizer, na ordem correta”. Acho que eu já fazia isso quando escrevi a minha tese.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Brinco com a ideia de juntar em um livro as colunas que vou escrevendo semanalmente e buscar uma coerência no conjunto. Há demasiados livros que já existem e que eu quero ler, mas não consigo tempo suficiente, para eu ficar desejando ainda mais.