Marcelo Benini é poeta.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
6h30 começam os serviços matinais. Um tempo para as plantas e os passarinhos, que sempre acham que levanto tarde.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
É preciso silêncio e um bom estado mental e físico. E ler sempre.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tudo que escrevo vem do incômodo, do método. Não é uma questão de tempo ou espanto. No meu caso, poesia é deliberação. Quase nunca dá certo, evidentemente.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Por que não pensar o poema como substância do mundo? Tudo é feito de poema. Todos somos poemas. De amor, de raiva, alegria, tristeza. A rua que atravessamos é uma conformação poética. Chegar a essa substância poema é conhecer a própria respiração.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Respondo depois.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
A síntese levada ao excesso e o cortar palavras compulsoriamente deixam uma percepção de que talvez o objetivo seja evitar que algo seja escrito. Mas sempre sobra alguma coisa, e isso é a poesia.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A tecnologia é uma teia. Nós somos a mosca.
Escrevo no computador, premido pela chegada da aranha.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
A linguagem não dá conta de explicar a criação. Melhor não especular. Seria correr o risco dos afagos metafísicos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Melhorou o vocabulário, o conhecimento de algumas regras gramaticais e da tradição poética. A mim, eu diria apenas: – Rapaz, a poesia está fora do poeta.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O livro que gostaria de ler já existe e é leitura constante: Grande Sertão: Veredas. O projeto que gostaria de fazer comecei em 20 de janeiro de 1970. Estou quase terminando.