Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira é professor titular de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da UFMG.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo às seis e trinta da manhã. Leio jornais “online” (seguindo o conselho de Hegel, ler os jornais para acordar!), tomo um café da manhã leve e ao mesmo tempo reforçado e saio em seguida para a academia, onde malho por uma hora e faço exercícios aeróbicos por pelo menos 30 minutos. Isso todos os dias, menos domingo, quando faço uma caminhada ou uma esteira.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu gosto muito de trabalhar à noite, mas quando tenho algo para escrever, com um certo prazo, posso trabalhar por 10 horas, continuamente.
Sim, tenho um certo ritual. Reúno livros e textos ao redor da mesa de trabalho. Para escrever, gosto de música erudita, seja brasileira ou não, depende muito do tema com o qual estiver envolvido.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Em geral, leio muito e quando a vontade de escrever começa a “pipocar”, sento e escrevo por longos períodos de tempo.
Minha meta é terminar, finalizar.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como disse, leio muito sobre um tema. E na medida em que vou construindo mentalmente o texto, vou empilhando ao meu redor livros, artigos (se não estão impressos, abro vários no computador) e a partir de um esquema básico, previamente elaborado durante a leitura, começo a escrever.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu lido ouvindo música e relendo outros textos que escrevi. Dialogo muito com outros autores, mas também com a minha própria produção.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso várias vezes. Reescrevo. E, sim, mostro para interlocutores mais próximos. E gosto demais de textos escritos a quatro, a seis mãos. Muitos textos, assim, surgem de conversas, por escrito ou oralmente, e do trabalho e reflexão conjuntos. Além disso, sou um escritor, antes de cartas, agora de e-mails. Aproveito muito dos esboços que faço nas minhas correspondências.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu escrevo diretamente no computador. Anotações de leitura é que são feitas a mão. O computador é maravilhosamente prático.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias vêm do diálogo com as pessoas. Escutar, exercitar a capacidade de escutar nos mantém criativos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Penso que não mudou muito. Sempre li muito, troquei ideias, fiz anotações, antes de escrever. E, quando a inspiração me vem, prefiro escrever por longos períodos sem interrupção e daí rever. Não sou de escrever aos bocamos, isso me deixaria muito angustiado. Se o texto está fluindo, deixo que ele se imponha, sou totalmente possuído por ele.
O que eu diria a mim mesmo? Viaje mais, seja um “flaneur”, ande sem rumo pela cidade, veja mais as pessoas, escute mais as suas histórias e estórias, leia mais nos bancos dos parques, deite mais nos gramados. Enfim, saia mais de casa e do escritório!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de estudar Francisco Suarez e os pensadores portugueses e espanhóis, de Salamanca e de Coimbra, que efetivamente inauguraram a “discussão filosófica da modernidade”, enfim, voltar ao século de ouro português e espanhol, o século XVI.
O livro que gostaria de ler e que ainda não existe tem como tema a consolidação da democracia constitucional, social e democrática, no Brasil. Um livro que narre a história, depois de tantos percalços, idas e vindas, pequenas conquistas e grandes retrocessos, como a democracia, com a mobilização da sociedade civil, consolidou-se no Brasil, cujas cidadãs e cidadãos aprenderam a lidar com os riscos e com a riqueza dessa forma de vida que é a democracia.