Manu Sousa é escritora, autora de “Coração a bordo” (Penalux).

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Normalmente eu organizo meus projetos literários para faze-los na parte da noite durante a semana, quando estou mais sossegada em casa e nos finais de semana que não saio, aí sim consigo coloca-los em ordem.
Quando tenho que atender muitas demandas de projetos, acabo tendo que me programar para não ficar afobada ou desesperada com os prazos. Anoto tudo numa agenda, o que falta para terminar e o que foi entregue.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Quando eu começo um novo livro, por exemplo, já tenho uma noção de como ele irá terminar… Nunca começo nada sem antes criar uma breve visão do final. Durante o desenrolar do livro que é mais improvisado.
Particularmente falando o mais difícil é a frase final, que irá concluir tudo… Muitas vezes fico tensa, pois quero termina-lo da forma mais marcante possível e às vezes no momento que mais quero as palavras não saem… (risos) Acaba ficando com um clima de bloqueio criativo.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Sim. Escrevo todos os dias, nem que seja só um pouco. De manhã quando estou indo ao trabalho, nos intervalos do dia a dia ou quando estou na rua. Neste último caso, quando estou na rua, me sinto mais apta para escrever quando estou em um local que tenha silêncio e pouca movimentação de pessoas… As idéias fluem e fico mais concentrada.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travada?
Não tenho nenhuma técnica em especial, mas quando vejo que estou travada recorro a qualquer livro que eu goste, ou ouço música. Tenho uma playlist no Spotify enorme, deve ter umas cem músicas que reservei justamente quando estou sem inspiração ou entediada.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Tem um texto meu que se chama “Entrelaçar” que escrevi em 2018… E não sei por que, mas ele foi extremamente difícil de dar continuidade, embora o título fosse tão atrativo quanto simples. Ele foi pro meu último livro, inclusive.
Mas foi frustrante o resultado, acredito que mais por eu ter colocado muita expectativa, achando que ia ser um show destaque para o público, mas não foi tanto. Não atendeu nem as minhas expectativas nem a dos leitores.
Até hoje tenho meio que uma “raivinha” dele…(risos) por não ter me agradado e ter-me feito gastar tanto tempo para finaliza-lo.
Por outro lado, me orgulho demais em ter escrito e publicado um texto chamado “De que solidão você está falando?” Que falo justamente da linha tênue entre solitude e solidão e “Marcas de Expressão”. Ambos foram essenciais para mim.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém uma leitora ideal em mente enquanto escreve?
Interessante essa pergunta, pois quando vou escrever algo penso que a pessoa que está lendo queira “ouvir” aquilo de mim. De alguma forma é como se eu estivesse abraçando essas pessoas que me lêem. Por isso preciso ter total responsabilidade sobre o que dito e escrevo.
Quando escrevo penso sempre nas pessoas que são mais sensíveis que não sabem lidar com seus dilemas, dúvidas e crises.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Dificilmente mostro o que estou escrevendo para alguém… No mais já mostrei para alguns amigos mais chegados, até para pedir uma sugestão e etc. Mas isso é algo raro de acontecer. Sempre escrevi e deixei tudo guardadinho até o momento da publicação.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Eu não me lembro exatamente o momento que decidi, mas sempre guardei esse sonho em mente. Quando eu era criança pensava enquanto me penteava, fazendo caras e bocas na frente do espelho: “vou ser escritora rica e famosa” (risos) Talvez tenha sido isso que eu gostaria que me dissessem desde o começo. Que não iria ser fácil, que as coisas não acontecem assim num passe de mágica. É muito difícil viver da arte hoje em dia no Brasil, embora ainda seja prazeroso. E muito mais difícil ainda ser reconhecido.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Sempre me encontrei mais no estilo da literatura brasileira, principalmente em Clarice Lispector… O que pode parecer clichê, mas é verdade. Me identifiquei de cara com o jeito dela, não só como escritora mas como ser humano pós ter assistido suas entrevistas. Fico feliz quando dizem que minha literatura se parece com a dela, pois foi ela quem me influenciou desde os primeiros rascunhos quando ainda nem pensava no primeiro livro, até o meu atual momento.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Recomendo demais para quem gosta de leituras profundas “Um sopro de vida- Pulsações” e “A disciplina do Amor” de Lygia Fagundes. Belo e Encantador este livro.