Maitê Rosa Alegretti é escritora, bacharela em letras e italianista.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia bem cedo, basicamente tomo café, organizo meus materiais de aula e vou trabalhar ou trabalho em casa. Tenho trabalhado como professora de italiano há um ano e meio, dando aulas por Skype, domiciliares e/ou em algumas escolas.
Não tenho uma rotina matinal voltada para a escrita, no máximo escrevo alguns esboços enquanto estou no transporte público.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor de noite, ainda na faculdade meus trabalhos eram todos feitos nesse horário, mas não é uma regra. Para aproveitar a produtividade que tive durante o ano passado – muito por conta de uma oficina de escrita criativa que participei -, pensei em estabelecer um norte a ser seguido, buscando sempre algum conceito que eu queira trabalhar na poesia ou alguns temas possíveis para crônicas e/ou excertos.
Algo perto de um ritual particular escrita, provavelmente, seria ouvir algum álbum do Charlie Parker ou Stone Flower do Tom Jobim e ter o livro de poesia reunida da Hilda Hilst em mãos, ou outro álbum que concorde com meu humor.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho necessariamente uma meta diária. Todavia, voltei a escrever crônicas com o intuito de postar uma por semana no meu perfil no Medium e estou procurando compor um poema por semana também. Mas é difícil continuar com metas tão rígidas, sendo alguém que declaradamente prefere não manter tantas regras a longo prazo. Por outro lado, já tive períodos concentrados bem produtivos – de madrugada nas minhas últimas férias – , porém não dá para prever com precisão quando esses momentos vão acontecer.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo é tanto instintivo, quanto planejado, atualmente tenho procurado um equilíbrio entre ambos. Um bom exemplo dessa junção foi quando quis escrever um poema sobre o momento antes de escutar um áudio de uma pessoa no whatsapp, isto é, como eu poderia mensurar o tempo que levaria entre a minha tomada de decisão, até o ato em si – de ouvir a mensagem-, para isso pesquisei sobre relógio atômico e tomei notas sobre.
Quando quero escrever sobre algum instrumento náutico – minha nova obsessão – pesquiso informações, imagens e quando sinto que encontrei o que precisava, escrevo. Nas ocasiões em que não encontro alguma imagem interessante para nortear meus pensamentos, desenho o que eu gostaria de ter encontrado.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Projetos longos são difíceis de preservar, nunca pensei que eu poderia escrever um romance pela minha desatenção e vontade de começar outros planos. Ultimamente tenho tentado encontrar meu livro de poesia, escrevendo/pesquisando/lendo, ainda não sei exatamente quando ele estará pronto, mas tenho gostado do processo, de voltar a desenhar, ter em mente um projeto que se comunica internamente.
Não tenho muitos problemas com travas na escrita, quando percebo a falta da escrita, começo a ler mais, lendo mais, naturalmente escrevo com assiduidade. Se minha pretensão fosse compor um romance, provavelmente meu problema maior seria a procrastinação, acho que invejo a atenção e visão macro dos romancistas.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tenho revisado muito meus textos, chego a refazer um poema três ou quatro vezes, caso não esteja satisfeita, sublinho os versos ou frases que mais gosto para poder trabalhar somente com eles depois. Em alguns momentos apenas rasgo o que não gosto e jogo fora ou simplesmente deleto.
Gosto de enviar alguns escritos para amigos, já recebi excelentes conselhos fazendo isso, ou posto nos meus blogs e/ou no Facebook, tenho recibo boas respostas – mesmo de pessoas que não conheço -.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Depende bastante, quando estou fora de casa, escrevo muito em notas em uma extensão do Google chamada Keep, porque é possível agrupar todos os textos com uma etiqueta específica, acrescentar cor/áudio, o que ajuda a visualizar/organizar meus poemas/excertos e/ou crônicas. Então, a tecnologia me ajuda muito a não “perder” ideias, a construir diálogos entre os meus escritos, tanto pelo celular quanto pelo computador.
Quanto aos rascunhos, voltei a escrever mais à mão, principalmente quando sinto a necessidade de desenhar e escrever dentro da imagem desenhada, às vezes uso cores, canetinhas, marca textos, canetas mais porosas, qualquer material que me permite sublinhar/evidenciar ou pintar, para depois tirar uma foto, guardar e acrescentar as minhas notas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Um pouco de tudo ao meu redor, se algo chama a minha atenção em particular, escrevo. Percebo que geralmente são pequeninas coisas do meu cotidiano que apontam para alguma reflexão interessante que eu possa fazer/ou retomar de alguma forma, uma lembrança, uma música, um traço específico de uma pessoa, uma camisa, uma leitura que fiz, uma notícia… algo que alguém me disse…um pouco de tudo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Antes minha escrita era mais instintiva e momentânea, não era um processo que poderia ser trabalhado e/ou planejado com antecedência. Agora, consigo procurar determinados autores com quem quero dialogar, fazer pesquisas e criar um percurso como uma espécie de guia.
Para a Maitê com 15 ou 13 anos, diria: “continue escrevendo, não jogue seus primeiros cadernos fora, daqui alguns anos, você pode querer lê-los.”
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Primeiro gostaria de terminar meu livro de poesia. Depois, seria interessante pensar em criar narrativas maiores – não necessariamente um romance – mas uma narrativa/novela, acho que seria uma atividade instigante. E começar – finalmente – a escrever mais resenhas de livros e filmes. Para a segunda parte da pergunta diria, não sei, nunca sei o que quero ler, não tenho uma ideia pretensamente feita: “Quero ler sobre isso!”, prefiro descobrir.