Maíra Vasconcelos é jornalista e escritora, autora de Um quarto que fala (Urutau, 2018).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o dia lendo e/ou relendo poemas, e escrevo alguma coisa, mesmo que pouco, mesmo que depois jogue fora. Em meio a isso, corro os olhos em jornais do Brasil e da Argentina. Em períodos que isso se mantém, é como uma rotina temporária para a manhã.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Pela manhã, por volta das sete horas até o meio-dia, mais ou menos. Não tenho rituais, apenas prefiro não conversar muito pela manhã e sair pouco do quarto, que é onde escrevo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo todos os dias. Sem metas muito fixas, o cotidiano não me tem permitido. Também depende da época, quando as coisas estão menos atribuladas (o dever de pagar as contas está em dia), escrevo mais. Começo a escrever menos quando as contas não fecham, quando não consigo planejar uma viagem, ainda que escreva. Mas ainda mal saiu meu primeiro livro, que está por vir, então não me sinto muito à vontade com essas perguntas, apesar de serem ótimas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Leio e releio alguns livros, depois escrevo. Vou escrevendo e depois corto e corto, isso que dá mais trabalho, eu acho. A única pesquisa que fiz foi para um romance (não sei se é mesmo um romance) começado em 2013 e que está agora na gaveta; mas enquanto o escrevia, encontrei a pesquisa que deveria ser feita para uma personagem que passou a pedir mais detalhes; ainda não sei se escrevo e pesquiso dessa forma ou se é inexperiência e depois tudo mudará. Não saberia te dizer. De novo, ainda estou no primeiro livro.
Para os poemas a pesquisa que faço é ler a obra completa do autor e assim está ok. Assim vou de obra completa em obra completa.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu não lido com essas coisas. Se me decido, sento e escrevo até vir a preguiça. Ter o ofício da escrita permeado em meu dia a dia é o que às vezes me trava, porque preferiria conseguir estar sem escrever, muitas vezes.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Posso estar dois meses revisando um poema e um mês revisando uma crônica de menos de uma página para o jornal.
Mostro para quase ninguém e apenas se aparece um poeta/escritor amigo que goste de trocar textos. Ainda assim, faço apenas como forma de me comunicar e responder ao outro.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Ainda escrevo á mão e adoro ver o garrancho no papel e depois jogá-lo no lixo. Mas sempre passo ao computador, sí o sí.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Hoje mantenho hábitos para viver melhor e não para ser mais criativa. A criatividade às vezes é até incomoda, pede demais e é necessário fazê-la sair, virar expressão pronta, ficamos um pouco sem alternativa.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não apenas mudou como ainda está em processo de mudança.
Digo coisas a mim mesma o tempo inteiro, “leia de novo isso, escreva daquele jeito, use aquela voz, lembra?, termine aquele texto, jogue esse no lixo, corte mais e mais…” depois de tudo dito, nada mais serve. Então, não vou dizer do passado agora porque já estou ocupada demais falando a mim mesma outras coisas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O projeto de escrita que posso me propor, neste momento, já comecei. Existem livros maravilhosos de sobra, não teria a audácia de dizer que falta algum.