Maíra Luciana é escritora e estudante de Serviço Social na Universidade de Brasília.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Antes de toda essa loucura chamada pandemia eu sempre ia para universidade de manhã cedo. Hoje eu tento me organizar para não perder as manhãs, acordo, me levanto, dou bom dia para meu cachorro Cartola e logo arrumo minha cama, isso sempre me ajuda a entender que o dia começou. Cama arrumada. Tomo café e vou planejar ou verificar se tenho algo planejado para o dia.
- Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
O melhor horário de produtividade pra mim sempre foi a manhã, embora para a escrita muitas coisas surjam no período noturno.
Caso eu não tenha nenhum projeto organizado na mente eu deixo a escrita fluir, tento soltar as palavras e os pensamentos, as vezes é difícil não julgar o que sai no papel, mas a tentativa de respeitar minha escrita como ela vier é um processo.
Agora se eu tiver algum projeto planejado em volta de um tema específico, eu costumo buscar inspiração ouvindo podcasts, vídeos, entrevista ou lendo sobre o assunto. Me ajuda bastante a organizar as ideias para escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Como estou chegando na reta final da universidade eu não tenho tido muito tempo para escrever e nem muita inspiração. Mas, assim como foi o processo com o meu primeiro livro, Mátrio Manifesto, quando tenho alguma ideia de projeto literário eu geralmente consigo me organizar para colocar no papel. Então eu diria que escrevo em períodos concentrados em que tenho objetivos mais concretos.
No início da pandemia, por conta da quarentena e a paralização das aulas, posso dizer que foi o período corrido que mais escrevi na minha vida, e foi maravilhoso. Mas de fato, conciliar os estudos e a escrita sempre foi um desafio pra mim.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita sempre foi muito orgânico e movido a inspiração. Depois que comecei a criar projetos mais complexos, comecei a entender um pouco minhas limitações e passei a tentar lidar com elas. Começar pra mim nunca é difícil, a parte mais complicada é finalizar, principalmente quando se tratam de trabalhos mais longos. Sou um pouco perfeccionista então isso não ajuda muito.
Mas como falei anteriormente, busco minhas fontes de inspiração em músicas, podcasts, vídeos, entrevistas, documentários ou textos e depois de bastante acúmulo eu tento me deixar livre no papel. Direciono minha escrita para a proposta que escolhi e abraço os resultados o máximo que consigo.
Algumas vezes me sinto mais acolhedora com meus poemas e outras mais crítica, então tenho tentado aprender a entender e respeitar meus processos e momentos, enquanto escritora.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que a procrastinação é uma questão que se manifesta de forma geral na minha vida, mas com organização e planejamento tenho conseguido quebrar com esse ciclo com mais facilidade. As vezes dá certo e as vezes não. Tenho entendido que a melhor coisa que posso fazer nessas horas é não me julgar.
Sobre corresponder às expectativas é um processo bem mais doloroso, principalmente quando se tratam das redes sociais, é muito difícil me movimentar entre a artista e a escritora de instagram. E isso não ajuda em nada em momentos de bloqueio criativo, acredito que a pressão das redes tenha até contribuído para esse processo.
Mas enfim, há horas em que simplesmente precisamos do ócio criativo, de entender nossos bloqueios e respeitar nosso tempo, tudo isso sem perder de vista o porquê de fazermos aquilo que amamos, como escrever.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Poemas avulsos eu costumo revisar logo depois que escrevo, e apenas uma vez. Trabalhos maiores eu sempre acabo olhando mais que três vezes e faço questão de compartilhar com algumas amigas, minha mãe e meu namorado, pessoas que sempre leem e me dão um feedback detalhado sobre os textos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu sempre preferi escrever a mão, embora trabalhe com o instagram. Tenho uma pasta no computador com vários textos, dos antigos aos mais recentes. Acho muito bom poder ter tudo ali registrado. Mas não consigo trocar o bom e velho papel e caneta na parte principal do processo criativo, que são os primeiros rascunhos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
A maioria das ideias de meus textos estão intimamente relacionadas a forma como eu interpreto fatos da minha vida. Seja em momentos cotidianos, em meus processos pessoais ou diante de assuntos mais complexos como os que retrato em meu livro, Mátrio Manifesto. Muitos dos meus poemas nasceram de revoltas surgidas em momentos muito específicos da minha vida, e sempre foi mais fácil coloca-los no papel para esvaziar a mente. Nesse último ano escrevi muito sobre minhas descobertas na terapia, e posso dizer que escrever também tem feito parte do meu processo de cura.
Para me manter criativa eu busco alimentar minha mente com conteúdo que me inspira, sejam livros, músicas, desenhos e etc. Ainda estou aprendendo a alimentar o ócio criativo, mas esse é um desafio para o qual estou perdendo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acredito que embora eu tenha escrito muitos poemas em momentos nebulosos da minha trajetória, havia mais leveza no ato de escrever, talvez pelo fato de o meu eu lírico, naquela época, ser mais distante da minha pessoa. Eu só escrevia, não compartilhava com ninguém, então não havia muito julgamento ou expectativas. Hoje eu compartilho meus textos com muitas pessoas e sinto orgulho de dizer que eles têm a minha assinatura em cada verso, acho que eles nunca foram tão meus como hoje.
E diria que sinto saudades da minha leveza e da minha esperança nas palavras, mas que meus primeiros textos são uma parte da minha vida pela qual eu sinto uma imensa ternura.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Ainda planejo escrever um livro para exaltar e contar a história das mulheres da minha família, quero que seja um belo lembrete de tudo o que elas representam pra mim, e de tudo que me ensinaram.
Gostaria muito de ler um livro de poemas voltados para as teorias filosóficas pré-socráticas. Eu sempre gostei muito de estudar filosofia na escola, e lembro que nos últimos anos do ensino médio, estava tão empolgada com a matéria que escrevi alguns poemas sobre o que estávamos estudando, então eu adoraria ler algo assim.