Luzia Maria Rodrigues dos Santos é escritora e professora, graduada em Letras pela Universidade Federal de Alagoas.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Depois que aposentei de 20 horas como professora, o tempo mudou minha rotina. Meu dia começa às 7h e minha rotina matinal oscila de acordo com as atividades que ainda exerço como pedagogo do “Projeto Cidadania e Justiça na Escola”.
No dia, em que as minhas atividades estão planejadas para serem executadas no turno da manhã, costumo preparar minha primeira refeição mais cedo; com frutas ou suco da fruta, seguido de um café bem quentinho com tapioca recheada de coco e banana, logo após, sigo para o trabalho. Durante o trajeto sempre ouço no carro a rádio educativa: noticias do dia a dia, um minuto de poesia e boas músicas; que alimenta minha alma e surgem várias idéias, que pode ser motivo para um novo poema.
Já a ida ao trabalho a tarde, fico com mais tempo para realização das tarefas pessoal; como pagamento de contas, trocar roupa de cama, lavar louça, etc. Ao sair do trabalho verifico se tenho alguma programação noturna, tais como: ir ao teatro, tomar um cafezinho com os amigos, barzinho etc.; caso não tenha compromisso, sigo para casa: tomo um banho, ponho uma roupa leve, converso e janto com minha família. Feito isso, vou para meu aconchego do quarto, é lá onde eu posso estar em contato com o meu mundo, ou seja, comigo mesma. Para relaxar, me divido entre uma boa leitura e TV. Como telespectadora, aprecio novela com uma boa trama; pois é possível encontrar diálogos com idéias de liberdade, ação social e política. Gosto tbm de notícias, papo de segunda e saia justa. Só lá pra tantas (madrugada adentro), que me envolvo com leitura e escrita.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Tendo a funcionar melhor durante a madrugada no aconchego do meu quarto. Escrevo sem comprometimento, de forma espontânea, “brincando” com as palavras e os sentidos; assim, possibilito por meio de desabafo expressar meus sentimentos através de poemas; sejam eles: versos livres, soneto, haicai, crônica ou prosa poética etc.
Como todo ser humano, tenho minha peculiaridade na hora que as idéias afloram, preciso ter por perto caneta e papel, pois não consigo criar textos e me inspirar teclando.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sou movida pelo desejo e a poesia me impulsiona, quando brota a idéia eu escrevo fazendo rabisco das primeiras palavras ou linhas, onde estiver. Depois no silêncio do meu quarto reviso; quando necessário, altero e passo a limpo o texto de forma precisa.
Como faço parte de um grupo chamado Confraria: Nós, Poetas; às vezes sou convidada a escrever poema autoral com determinada temática, daí tenho que seguir meta com prazo de entrega para seleção.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como já tinha dito em questão anterior, a escrita nasce de um desejo, de uma inquietação que flui de forma espontânea e, através da imaginação como diria Manoel de Barros “É preciso transver o mundo”, no sentido de entender a existência e escrever um novo texto.
Para tanto, aquelas anotações que já tenho registrado em pedaços de papel, acabam entrando nos escritos dentro do meu processo intuitivo e quanto à pesquisa, se faz necessário; inclusive de um dicionário para o uso correto das palavras, que é essencial no texto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Cabe a nós aprender a lidar com as travas. Não escrevo por obrigação, minha escrita advém de inquietação interna, daí relaxo e procrastino consultando meus bloquinhos de palavras, lendo livros e tento não ficar parada.
Colocar nossa ideia no papel, ainda que pareça fácil, não é; às vezes nos causa ansiedade e a mente bloqueia. Como costumo a ter a escrita como hobby, tomo cuidado e evito textos longos, para que meus escritos (poemas ou prosas) sejam mais atrativos para o leitor.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
A cada leitura que faço dos meus textos, reviso-os e se for necessário, modifico-os. Mesmo dominando vocabulário e gramática, quando escrevemos; às vezes por desatenção deixamos passar vários erros de ortografia e gramática. Neste caso, não confio em corretor automático, apesar de ser útil sua capacidade de verificar a gramática é baixa. Havendo dúvida, sempre tenho por perto uma gramática e dicionário.
Como os meus textos são totalmente voltados para poemas e prosas, depois do texto pronto, acho válido pedir opinião de outras pessoas e, em especial as que apreciam poesias, para dar suas opiniões imparciais com uma dose construtiva de crítica.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Por incrível que pareça, ainda sou à moda antiga, em plena era digital (rs). Sempre tenho um bloquinho com uma caneta para anotar minhas idéias e depois vai ganhando forma até formar o texto completo (poema ou prosa) e ainda em um rascunho vou fazendo as correções necessárias e passo a limpo em um caderno de poesia ou digito no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Vem de uma inquietação, é algo espontâneo. Não tenho momento certo para começar a escrever, às vezes estou na rua, no carro ouvindo música, lendo um livro, observando a natureza ou apreciando uma obra de arte; daí surge uma idéia, tenho que colocar no papel e aquele escrito servirá de subsídio e, às vezes já é a inspiração necessária para o poema.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acredito que o tempo me trouxe mais amadurecimento, devido à prática regular com a leitura e escrita, que vem me proporcionando descobertas, a partir de um novo olhar.
Eu diria a mim mesma: não tenha vergonha dos seus escritos e continue escrevendo, pois toda experiência é sempre bem vinda.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu tenho poema publicado na revista Construir Notícias/Ano 12 – nº 66, páginas 62 – setembro/outubro 2012; como também, nos livros de Antologia “POESIAS SEM FRONTEIRAS” contemplada com dois poemas em 2016: Silêncio (página 31), O Ato de Pensar (página 33) e “DOCE POESIA DOCE” em 2018 com um poema: Café, Poesia e Amor (página 53). Tenho projeto de publicar meu próprio livro e ele já estar pronto, mas agora eu não tenho como arcar com parte dos custos, pois várias editoras trabalham nesse esquema de pagar pela publicação.
Amo tanto a arte poética, que inventei escrever poemas também e precisaria de mais tempo para ler várias obras completas como de Adélia Prado, Paulo Leminski, Manoel de Barros, Fernando Pessoas, João Cabral de Melo Neto etc… São tantos, que não sei se vou dar conta ainda nessa vida (riso).