Luiza Maciel Nogueira é escritora e ilustradora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina muda de tempos em tempos, ultimamente procuro acordar bem cedo entre cinco e seis da manhã. Primeiro faço uma concentração pela manhã mais parecida com uma meditação, depois eu tomo 500ml de água, faço uma atividade física ou ando ou pedalo ou pratico algumas posturas de Yoga, depende do que eu quero fazer no dia. E, ao praticar a atividade, às vezes ouço algo que considero importante, um podcast ou um áudio-livro. Procuro ler algumas páginas de algum livro e para mim é fundamental desenhar, todos os dias. Tomar um café, há um tempo atrás eu achava que o café estava me fazendo mal – mas constatei que muito pelo contrário ele me faz bem e preciso dele para acordar melhor e mais disposta. Depois disso trabalho. Já tive muitas rotinas diferentes ao longo da minha vida, durante vários anos acordei às 5am, praticava meditação, ashtanga yoga e ia trabalhar, funcionou durante muito tempo mas depois precisei me adaptar à maternidade e observando que a “rotina ideal” é aquela que é a melhor para você em um determinado período da sua vida e ela vai mudando, mudando, mudando e ainda bem que muda pois essa é a beleza de se estar vivo! E nada impede que um dia eu mude de ideia e mude a minha rotina. Acredito que a experimentação de diversas rotinas seja fundamental de tempos em tempos. Mudar a rotina para mim é fundamental.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
É estranho para mim responder um questionário sobre a escrita já que eu não me considero uma escritora, gosto de escrever porém não tenho rituais para escrever, não costumo puxar as palavras de mim. Elas simplesmente saem naturalmente, como se quisessem voar por aí. E eu durante muito tempo me incomodei com esse voo como se ele não pudesse sair de mim, mas sai e às vezes incomoda e às vezes é libertador e oscila muito entre uma liberdade e um incomodo de se olhar no espelho e se achar estranha demais e de repente ver que aquela “coisa” pode sair de você. Já o desenho sim, procuro desenhar todos os dias e puxo o desenho sempre porque tenho a crença de que quanto mais se repete melhor se fica. Agora a escrita não sei se funciona assim para mim. Acho que não. Acho que a escrita para mim é um encontrar a naturalidade, o estado no qual as palavras não fazem a menor diferença, mas sim o ser faz o ser que por trás da escrita se revela.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu escrevo quando a inspiração me toma. Às vezes um pouco todos os dias e às vezes em períodos concentrados. Não tenho meta de escrita diária, já tive metas de duas páginas por dia mas logo me incomodava ter que escrever só por escrever sem sentir a escrita viva em mim e ficava um processo mecânico que não me agradava em nada e repetitivo também. Eu não gosto de forçar a escrita porque para mim o importante e o que eu valorizo na escrita e na arte também é a naturalidade, a simplicidade, aquele brilho de pessoa viva, de ser simplesmente o que se é e isso na minha opinião transparece na escrita, na arte, na fotografia, na música enfim em todas as artes. É isso que dá brilho e vivacidade ao trabalho de alguém.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita talvez tenha a ver mais sobre como eu vivencio o mundo, como ele é digerido por mim e isso envolve muitos fatores. Talvez o que seja mais tocante no meu trabalho seja esse movimento de cada vez mais procurar me sensibilizar, entrar em contato com o mundo, com a natureza, com as pessoas, com tudo ao meu redor sempre com simplicidade, leveza e delicadeza.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu gosto das travas que envolvem a minha escrita, pois isso significa que eu não preciso escrever e escrever para mim é doloroso como se fosse um parto e não é fácil parir na maioria das vezes. Então eu aprecio quando não tenho nada a dizer, me sinto mais completa sem nada a dizer e abraçar os silêncios. Eu não tenho esse problema de não corresponder a expectativas, pois escrevo mais para mim do que para qualquer outro.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Raramente reviso textos, raramente mostro para outros. Mas às vezes reviso durante anos alguns rascunhos e às vezes também mostro para outros quando tenho vontade.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Varia muito, às vezes escrevo à mão e às vezes escrevo no computador. Não tenho uma regra quanto a isso. Quando as palavras vêm eu me viro para registrar com o instrumento mais próximo que estiver comigo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Vêm na maioria das vezes das minhas experiências de vida e do contato com outras pessoas e coisas. Algo que me inspira quase sempre é ver um show de música diferente, assistir teatro ou ir ao museu, mas muitas coisas me inspiram embora ultimamente eu tenha preferido a presença da cultura e da arte mais de perto, digo ao vivo e não virtualmente.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acredito que ao longo dos anos eu aprendi a me soltar mais na escrita e escrever aquilo que eu queira escrever e não aquilo que os outros ou alguém queira que eu escreva. Aprendi a não querer agradar o tempo todo, a não ligar para o que outros pensam. Aprendi a dizer não para algumas coisas que para mim não fazem o menor sentido. Aprendi a dar valor àquilo que realmente faz sentido para mim. Aprendi a me manter uma aprendiz sempre e através dessa abertura para o novo vejo sempre alguma novidade, sinto sempre algo diferente que com a escrita ou o desenho posso dar vida a esse “algo”.
Se eu pudesse voltar atrás nos meus primeiros escritos eu diria a mim mesma para sentir mais e escrever menos, desenhar mais e se importar menos com a opinião alheia – eu me diria “Se entrega queridinha ao aprendizado da vida! Ela é cheia de nuances, detalhes, não seja tão besta de não prestar atenção aos mínimos cantos e entretantos. Direcione seu olhar para si. Agrada a si mesma em primeiro lugar sempre e se isso significa agradar o outro ok mas não espere, não crie expectativas de que o outro vai te agradecer por isso portanto agrade a si própria sempre todo o dia e nunca irá se arrepender de estar viva!”
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Bom, eu gostaria de ilustrar muitos e muitos livros. Futuramente pretendo sim escrever um livro com os meus melhores poemas juntamente com minhas melhores ilustrações. Gostaria de ler livros educativos para crianças com poemas contando estórias de ninar musicados também com lindas melodias. Estórias de tudo quanto é jeito. Borboletas, fadas, robôs, todas com lições de vida valiosas. Seria um lindo livro de várias estórias todas musicadas talvez até em formato daquelas imagens que pulam para fora para os pais lerem ou cantarem para seus filhos.