Luiz Renato é poeta.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina matinal é totalmente dominada pela criançada, entre arrumar, café da manhã e deixar na escola. Meus filhos têm 8 e 10 anos.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Como a escrita está inserida nas frestas das minhas atividades diárias, entre trabalho, casa, etc, não há uma hora certa, nem qualquer preparação. Havendo tempo livre e alguma inquietação, se escreve, O que ocorre é que na ausência de tempo para escrita, as ideias, ou fragmentos de ideias, vão se acumulando como pequenas notas, normalmente no celular, para quando for possível e, se ainda houver naquela ideia sentido ou qualidade literária, tentar desenvolver.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Já houve época de ser assim. Por exemplo quando estava escrevendo o libro Desaprendizagem (publicado pela Jovens Escribas) eu tinha uma certa rotina de escrita sim. Acredito que isso seja importante para a coesão de uma determinada obra, um volume de poesias, ou um romance, por exemplo. Mas hoje não. Hoje é quando dá. E se não dá está tudo certo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não há um único caminho. No caso das poesias, quando a ideia é fazer um volume, coeso, começo por uma espécie de coluna vertebral da obra e sigo entrelaçando os aspectos que quero abordar até achar que os tenho todos. Daí as poesias saem em função da reflexão. No caso de poesias dispersas, elas vêm normalmente nos sustos, nos encantamentos, no direcionamento do olhar para a beleza, mesmo que oculta.
Já no caso dos contos, surge a ideia da história e passo muito tempo com ela na cabeça, fermentando, quase sempre sem escrever nada, até que ideia esteja suficientemente depurada. Ai é partir para o papel.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Olha, não sei bem, justamente porque não tenho essa questão de meta diária, nem tenho muita expectativa. Escrevo mais por uma necessidade pessoal, fisiológica, do que por ambições literárias. Quanto aos projetos longos, olha, até que me agradam. A forma, a necessidade de uma reflexão mais profunda. O cuidado com a escrita. A poesia dispersa vem com o susto o estalo, e é feita ali na hora, com aquilo que se sente. Quando se cria um volume de poesia, ou um texto uma prosa, você tem que ter um cuidado com um todo. Maior polimento. Acho eu…
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eles nunca estão prontos. Eu desisto. Reviso infinitas vezes até desistir. Sempre tem uma coisa aqui, outra ali. Normalmente não mostro não. Nas também minhas publicações hoje estão restritas às redes sociais, então, já é mostrar…
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Aí depende. Os primeiros rascunhos vêm com o que se tem na mão. Muitas vezes celular, muitas vezes um papel qualquer, que vão se acumulando pela casa em desordem. No caso dos contos e dos volumes, eu vou direto no computador. A minha relação com a tecnologia é conflituosa. Não conheço as praxes das redes sociais, apesar de usá-las bastante.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Rapaz, de onde elas vêm não sei não. Talvez de um olhar torto que os poetas têm para as coisas pequenas, insignificantes. As pequenas poesias cotidianas. Não sei mesmo. Não tenho hábitos para me manter criativo. Vou sendo empurrado pelos acontecimentos e coleto pequenas coisas nesse empurra-empurra.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Olha, o processo de escrita mudou pouco, ou nada. O que mudaram foram as referências, o conhecimento de novos autores, novas formas de escrita, uma busca pela identidade poética, literária. Entendo tudo como uma evolução normal. Às vezes encontro textos bem antigos que não lembro de nada, como foi feito, onde, etc e digo, c*lho que texto f*da! Então, diria que siga…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Rapaz, tenho a ambição de escrever um romance. Até comecei. Mas parei e é como nem tivesse começado. Quanto ao livro que não existe, da nossa história, a brasileira, contemporânea, queria saber como esse período vergonhoso será conhecido no futuro.