Luiz Renato de Souza Pinto é doutor em Letras pela UNESP e professor do Instituto Federal de Mato Grosso.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Normalmente acordo cedo, entre 05h30min e 06h00min. Quando não tenho a primeira aula, as sete, logo após o café começo as leituras e ou escrita. Pela manhã costumo ler em média oitenta páginas. Se estiver envolvido com a escrita de um romance, a rotina costuma ser diferente, embora eu pense mais do que escreva.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto bem mais de escrever pela manhã. Eventualmente acordo de madrugada, por volta das três com a necessidade de escrever, mas tem sido cada vez mais raro esse procedimento. Tenho me disciplinado a produzir mais pela manhã, embora com alguns recursos faça uso de qualquer tempo para não perder o fio condutor.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho metas diárias, escrevo por camadas. Cada livro é um processo. Estou no momento escrevendo meu quarto romance. Dividi a escrita em sete momentos. Produzi os três primeiros. Após o primeiro escrevi o segundo e os misturei. Depois fiz o mesmo com o terceiro.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Vou imprimindo, lendo e fazendo cortes, depois fecho a etapa, pensando em novos cortes, passagens, deixas. Ao fechar cada etapa deixo maturar um pouco. Faço muitas pesquisas de imagens e curiosidades no youtube. Depois planejo viagens. Para este projeto estou planejando três viagens ao sul da Bahia e vale do Jequitinhonha onde se passa a história. Vitória da Conquista é a base. Visitarei de nove a doze cidades do nordeste de Minas, contemplando o alto, o médio e o baixo Jequitinhonha.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando sinto que o texto trava, recorro principalmente aos meus cadernos de viagens, que acumulo desde o final dos anos 1980, a maioria sendo dos anos 1990 e alguns já deste milênio. procuro aproveitar imagens registradas, fragmentos de pensamentos aleatórios que se encaixem na boca de algum narrador e ou personagem. Ressignificar textos antigos ainda inéditos é uma das principais estratégias que uso para deslanchar o que por ventura esteja travado. Não sofro com a procrastinação já há algum tempo. Tudo tem o tempo de maturação.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não existe uma regra para isso. Não tenho o hábito de mostrar também os textos, apenas pelo fato de não temer críticas após a impressão. Acho que os textos vão se encaixando e o leitor, por mais preparado que seja sempre terá uma ideia sua para o que outro escreva. Reconheço a prática muito em voga nas oficinas de literatura, mas ainda não tenho o hábito de socializar a escrita antes de considera-la pronta. Nada contra a prática, mas acho que não tenho interlocutores com os quais eu discuta o processo, neste momento.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo no computador, quase sempre e há muito tempo. De maneira esporádica utilizo outras formas. Em viagem faço anotações e passo para a máquina, assim que puder.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Cultivo algumas ideias para romances. Quando escrevo crônicas ou poemas os processos são outros. Para a poesia, por exemplo, não há nada preconcebido. Acontecem. As crônicas são fruto de observações acerca de filme, autores, peças e ou obras literárias. Busco mesclar elementos do ensaio e da crítica literária a aspectos cotidianos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Os processos vão se aperfeiçoando. No romance atual criei uma personagem que escreve um livro. Mas não gosta de ler. A escrita é bastante pueril. Assim, pude aproveitar fragmentos de um romance inédito de 35 anos atrás que coloco como se fosse dela. Vivo de truques para montar as narrativas, mesclando-os com experimentalismos e visão empírica dos objetos que construo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever uma história que se passasse em um paraíso fiscal, cujos personagens fossem descendentes de Hitler, Stalin e Mussolini.