Luiz Otávio Ribas é Doutor em Filosofia e Teoria do Direito pela UERJ.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
No período em que estou dando aula costumo acordar cedo, para ler jornal ou assistir notícias na internet, e para enviar ou responder correspondências. A rotina matinal envolve um bom café da manhã, leitura de notícias e preparação de aulas. A escrita acaba acontecendo neste processo de preparação das aulas, ou a partir de ideias dos fatos da conjuntura política.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Depende, quando estou envolvido em algum projeto mais denso, como quando estava escrevendo a tese de doutorado, preferia escrever pela manhã, até às 13:00. Mas em alguns momentos este processo avançava até às 18:00. Quando estou dando aula, a escrita acaba acontecendo nos momentos de preparação, especialmente nos dias em que não têm aula. Não gosto de escrever à noite e de madrugada considero impossível. O ritual que funciona para mim de preparação para a escrita é ouvir música, especialmente em outras línguas. As canções em português me fazem perder a concentração. Música instrumental também funciona bem, como jazz e blues.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não escrevo todo os dias, nem tenho metas diárias. A minha escrita normalmente está orientada por demanda: “preciso escrever este texto até tal dia”. Em cima desta meta organizo o tempo para cumprir. Mesmo quando eu próprio crio a demanda da escrita estabeleço estes prazos e uma rotina semanal. Isto porque prefiro escrever no sábado. Quando estava mais ativo na escrita para blogues eu tinha esta rotina semanal, terminar o texto até terça-feira, por exemplo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O processo de escrita envolve principalmente leitura de outros textos e trabalho de campo, como visitas e entrevistas. Depois que consigo reunir informações sobre o que quero escrever adoto duas posturas. A primeira é fazer rascunhos livres em um dos cadernos, sempre que sinto a necessidade. Durante a tese tentava escrever neste caderno todos os dias. A segunda é escrever no computador a partir de um sumário, um esqueleto estabelecido previamente, que muda pouco durante o processo. Assim, as dificuldades de passar da pesquisa para a escrita pode envolver falta de inspiração, na primeira postura; e falta de concentração, na segunda.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acredito que a criação destas rotinas, processos e rituais são maneiras de evitar que estas travas e a procrastinação aconteçam. Quando ocorre costumo procurar alguém para conversar sobre o texto, para que eu possa tentar entender o que está passando. O medo de não corresponder às expectativas enfrento confiando a leitura atenta a pessoas próximas que possam dar algum retorno antes da publicação. A ansiedade de trabalhar em projetos longos pode ser compartilhada com o grupo, então costumo participar de conversas em grupo que possam ser relatadas. A partir destes relatos fica mais fácil de encontrar uma linha argumentativa que seja representativa das ideias coletivas. No caso da tese, compartilhava a ansiedade com o orientador, com outros colegas mais próximos que trabalham temas parecidos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende do tipo de texto. As postagens de blogue publico diretamente, sem revisão, apenas em alguns casos busco uma revisão da ortografia. Os artigos de opinião costumo recorrer a uma revisão de conteúdo, além da ortográfica. Os artigos científicos inicio com um rascunho, que eu mesmo reviso seguidas vezes, quantas forem necessárias para me satisfazer. É comum que seja uma revisão de conteúdo, outra para simplificar o que for possível, outra pra cortar algumas partes repetidas ou incompreensíveis, entre outras. Sempre confio a primeira leitura a pessoas próximas antes de publicar, quando segue uma revisão final. Em monografias e relatórios de pesquisa são comuns todas estas etapas, mais uma revisão ortográfica profissional.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tenho cadernos para fazer anotações à mão, já tenho uma coleção deles. Divido por temas: poesia, trabalho de campo, preparação de aulas, preparação de palestras e oficinas, entre outros. Costumo transcrever parte destes cadernos para o computador, onde se repete estas divisões. Crio arquivos com nomes sugestivos, como: “usina”, “escrevendo”, “no prelo”, “rascunhos”, entre outros. Na leitura de outros textos costumo fazer primeiro anotações à mãos, depois preparar uma boa resenha no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Carregar algum caderno me ajuda a registrar os momentos de inspiração, que acontecem normalmente logo ao acordar, no transporte público, antes ou depois de um compromisso, assistindo alguma palestra, entre outras situações. Na falta disto, recorro a anotações no celular. O trabalho de campo me inspira e ajuda a problematizar algumas ideias em que estou trabalhando. Tenho por hábito participar de encontros, assistir palestras, cursos, exposições, participar de saraus de poesia e outros encontros que sejam estimulantes.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Defendi minha tese em 2015, então considero que tenha passado pouco tempo para grandes reflexões. Mas na releitura desta observei que poderia ter apostado num período mais longo de revisão das partes que poderia cortar e também para deixar o texto mais simples.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever um livro sobre assessoria jurídica popular. Acredito que possa começar a escrevê-lo nos próximos anos. Gostaria de ler um livro sobre as influências das religiões e costumes africanos no direito brasileiro.