Luiz Biajoni é autor da coletânea de novelas policiais A comédia mundana.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo muito cedo, antes das 6h. Depois do café, costumo ler por uma hora, um pouco mais às vezes. Aí vou para o computador, respondo e-mails, vejo as redes sociais e escrevo alguma coisa, geralmente entre 9h e 11h. Esses escritos são diversos, de rascunhos, projetos, textos encomendados, artigos para jornais, posts para blogs… ou reviso o que escrevi no dia anterior, caso esteja trabalhando em um romance. Depois do almoço descanso um pouco e, caso esteja trabalhando em um romance, pego nele entre 16h e 19h com afinco, só interrompendo a rotina se há algum trabalho, algum compromisso urgente.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Já escrevi livros com rotina matinal e noturna. O último, foi nesse rotina de fim de tarde e eu gostei mais. Sento e escrevo por uma hora e meia, mais ou menos, paro, tomo uma ducha, uma cerveja, escrevo mais um pouco, meia hora, dou uma lida geral, abro outra cerveja e aí não escrevo mais.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta, mas quando estou trabalhando em um romance não gosto de passar um dia sem escrever – só tiro os domingos. Já escrevi um romance apenas nos finais de semana, quando minha filha nasceu, há dez anos, escrevi um romance apenas entre as tardes de sábado e as manhãs de domingo. Deu certo, mas não é o ideal, penso.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Sou, basicamente, romancista. Depois da idéia, de algumas notas, de alguma pesquisa, não é realmente difícil escrever. Mas… a cada livro é mais difícil, creio que seja uma necessidade de superação, de fazer algo melhor, de ter uma ideia e desenvolvê-la melhor, então: sim, não tem sido fácil, depois de seis romances.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Minha procrastinação está relacionada ao desejo de ler cada vez mais. Gosto mais de ler do que de escrever. Não tenho medo de corresponder à expectativas, de maneira geral: meu leitor mais exigente sou eu. Ansiedade também não tenho muita, lido bem com ela. Atualmente tenho tido cada vez menos ansiedade, não estou desesperado para terminar meu livro.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não há uma regra, certo? Vamos revisando, mostramos a amigos, os editores opinam, tudo é válido para melhorar um texto. Mas nunca se atinge a perfeição, isso não existe.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Já há anos só uso o computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Leio, ouço música e vejo filmes. Tento me manter conectado ao que acontece. Tento saber sobre meus contemporâneos, o que estão fazendo. E tenho uma tendência a pensar que ainda não escrevi meu grande livro, o que me impulsiona para novos projetos e me faz sair do comodismo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
No início, como todos, eu era mais espontâneo. Quanto mais vai se escrevendo e editando e revisando e participando de eventos e falando com outros escritores e lendo críticas e observando o leitor vamos perdendo um pouco da espontaneidade – algo que tem que ser compensado com mais técnica, melhores ideias, texto melhor… Gosto de meus livros e vejo uma mudança grande entre o primeiro e o último, mas também consigo observar uma certa unidade, um “estilo”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Trabalho lentamente na pesquisa para um livro de não-ficção, meu primeiro deste tipo, mas ainda não comecei a escrita de fato. Gostaria de ler um amplo volume de não ficção sobre as dificuldades de grandes escritores com seus livros, com editores, algo na linha da biografia de Max Perkins, que editou Fitzgerald, Hemingway e Wolfe.