Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, doutorando em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Dificilmente acordo antes das dez. Na verdade, só acordo cedo quando sou obrigado. Em geral, pulo o café da manhã e começo a viver só depois do almoço. Antes disso, tenho dificuldades, me esforço pra suportar meu próprio corpo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu escrevo a qualquer hora do dia, sem problemas, mas minha criatividade funciona por ciclos. Em geral, eu preciso de um certo ritual para começar a escrever: primeiro, preciso preparar minha cabeça, depois cuido em separar o tempo necessário e, por último, separo tudo que vou precisar. De resto, posso escrever em qualquer lugar e a qualquer hora.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Nunca tive meta diária, acho que burocratiza a escrita e isso sempre me atrapalha. Acho que a escrita é uma atividade intensiva, intempestiva, então, em geral, passo semanas, às vezes meses me preparando, lendo, anotando, e escrevo tudo que preciso em um curto período de tempo. É como se a cada segundo que esperasse pra começar, mais intensiva se tornasse a experiência da escrita e o resultado final.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
A primeira a linha é a mais difícil. A segunda, um pouco mais tranquila. Na terceira, já está fácil. Na quarta, a escrita começa a sair sozinha. Na quinta, pede a chave de casa e não volta mais.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu não lido com essas coisas. Acho que nem saberia me debruçar sobre esses sentimentos, acho que ia me desviar, ia ficar meio paranoico e egoico. A escrita não é uma atividade de um indivíduo, mas de busca de um comum, de um coletivo. Escrever não tem nada a ver comigo ou com minha subjetividade. Como disse, escrever é uma intensividade e ela deve dominar todo o resto. Em geral, quando preciso, ou seja, quando tenho que escrever a trabalho e com prazo, reúno a energia necessária para escrever e não reflito sobre nada. Quando escrevo por prazer, por lazer, deixo a procrastinação me dominar o quanto quiser.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso no máximo duas vezes. Mais do que isso, começo a fazer alterações excessivas. Começa a ficar algo muito mental e pouco corporal. Mostro geralmente pra alguém próximo só para tentar entender o que escrevi através dos olhos de outro.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A tecnologia já se tornou parte do meu corpo. Escrevo diretamente no computador e aos fragmentos. O texto final, de certa forma, já está sempre na minha cabeça. Então, em alguns casos, escrever é mais uma questão de montagem do que de escrita propriamente dita.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Em geral, minhas ideias vêm de alguma coisa que me causa uma espécie de desmedida, como se o mundo fizesse sentido de repente ou, por outro lado, perdesse completamente o sentido. Quase sempre, essa sensação de “pasmo” me faz rir e é desse riso – que para mim não tem a ver com humor, mas com graça – que me vem as articulações pra escrever. Sobre me manter criativo… eu não tento, acho que esse é um pouco o caminho de escrever: fracassar às vezes.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que não mudou muito. Escrevo como sempre escrevi. No fundo, acho até que consegui aprofundar e melhorar meus métodos. Agora escrever dói muito menos que antes. Por outro lado, às vezes, percebo que, se não prestar atenção, pode se tornar algo quase mecânico, burocrático.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Acho que o mundo já tem obras demais. Já está bom do jeito que está, com a quantidade que tem. Aliás, essa é uma pergunta que sempre temos que fazer: isto vale a pena ser escrito? Vale o papel em que será impresso? Vale a árvore que será cortada?