Luisa Geisler é escritora e tradutora, autora de De espaços abandonados.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu tento acordar e tenho um meio-que-ritual durante a manhã. Eu demoro uma meia hora meio que “acordando”: fazendo café da manhã, organizando o que vou fazer no dia, dando comida pros gatos, escovando dentes. E aí de imediato vou pra escrita. Tento não procrastinar, mas sempre tem e-mail pra responder ou uma mensagem no WhatsApp. Escrevo entre quarenta e cinco minutos e uma hora e vou fazendo pausas. Algumas pausas são só pra alongar os pulsos, enquanto outras são para coisas domésticas (tipo comer), ou para resolver questões burocráticas e ir para o Pilates. Alterno entre tradução e escrita. Mas tudo isso muda muito, de prazos, de to-do lists e tudo o mais. Pilates é a única rotina fixa na minha vida.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sinto que meu cérebro vai “cansando” ao longo do dia, então tento escrever como a primeira coisa. Isso também me permite priorizar: antes de tudo, o que não posso fazer amanhã. Trabalho bem de manhã. Em torno de duas da tarde, tiro uma soneca para “resetar” o cérebro, se for continuar trabalhando. A soneca já virou parte da minha vida, inclusive.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo um pouco todos os dias, porque não consigo produzir muito em um dia. Prefiro fazer escritas rápidas de meia hora durante três dias do que escrever uma hora e meia direto em um dia. A qualidade vai caindo, a cabeça não está muito fresca, para mim. Tenho uma meta de escrita, mas sempre me certifico de que seja razoável. Conheço minhas capacidades: não dá pra escrever quinze páginas boas por dia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu estruturo bem, respondo minhas próprias perguntas na cabeça antes de sequer abrir o Word. Porque aí o ato de escrever se torna muito mais cumprir aquilo que eu já tinha estruturado antes. Pra mim, estruturar, ter a ideia do começo ao fim, é o mais difícil, pode demorar mais tempo, requer pausas para pensar, para coletar mais ideias, anotações e tudo o mais. Claro que nem sempre é uma linha reta, mas em geral eu estruturo e depois sigo aquilo que planejei. Isso me ajuda a evitar os “brancos” ou depender de surtos de inspiração.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Um pouco da resposta anterior e um pouco de apenas escrever sem julgar. A edição, o julgamento, vem depois. Mas se eu ouço as vozes na minha cabeça, não vou conseguir escrever nunca. Sei que parece contraditório, mas tem horas que preciso escrever sem me ouvir por completo. Mas procrastinação eu não tenho uma solução. Os prazos me ajudam muito, mas a vida sempre se mete no caminho.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Duas vezes: uma para editar, acrescentar coisas; a segunda, para apenas ver se disse o que queria do melhor jeito possível. Tento dar um tempo entre esses dois, e entre o próprio processo de escrever e a primeira edição. E sempre passo o revisor ortográfico do Word, porque sempre vai ter alguma bobagem ou palavra repetida. Mostro para amigos nesta terceira leitura. Sempre vou a eles com dúvidas específicas, por exemplo: o que você achou do personagem X? Você acha que a construção da cena Y, está verossímil? Isso ajuda a guiar a leitura.
Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre no computador. No máximo celular.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Não. Isso é o mais apavorante. Tento pensar o mínimo possível em “tenho que ter uma ideia” e fico aberta ao que me acontece. Livros, filmes, ouvir pessoas, olhar frases, olhar postes, reparar em lixo. Presto atenção especial no mundo e vejo que o mundo rende boas ideias quando não estou esperando.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Muita coisa mudou, mas eu não diria muito. Eu me sinto mais confortável com a escrita, mas acho que só me sinto assim porque uma vez me senti ansiosa em relação a isso. Não dá pra começar tranquilo (não que eu seja tranquila agora). E cada livro, cada texto, é uma exploração distinta: o que faço hoje eu não faria quando comecei, mas mais porque já fiz o que fiz quando nova. Faz sentido isso? Preciso dos erros pra construir em cima.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Acabei de publicar meu romance novo, De espaços abandonados, e tenho tentado responder essas duas perguntas para mim mesma antes dos outros. Não sei, não sei, não sei.