Luís Pimentel é jornalista e escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Por vício ou deformação profissional, o hábito como jornalista me faz começar o dia, sempre, pela leitura de algum jornal ou de mais de um. E ainda ligo o rádio numa emissora de notícias, logo após o café. A partir daí, quando não tenho qualquer outro compromisso fora de casa, começo a escrever ou a anotar, ou mesmo a reescrever.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor, sempre, pela manhã, após o ritual a que me refiro acima. Preparo-me dando uma lida no texto com o qual vou me atracar, se já estiver iniciado. Se tratar-se de texto inicial, vou dando umas cabeçadas em busca do caminho a seguir. Às vezes encontro, às vezes não. Quando não encontro, simplesmente desisto. Ou adio.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Compromissos outros não me permitem escrever todos os dias, infelizmente. Às vezes também levanto sem vontade de escrever, preferindo a leitura. Tento sempre abrir algum texto que está em andamento (tenho sempre vários ao mesmo tempo) e acrescentar alguma coisa. Costumo imprimir o que vou fazendo e mexendo no papel, revisando, alterando, depois passo as anotações para o arquivo no computador.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não costumo fazer pesquisa antes de começar a escrever. Em geral decido o que quero fazer e vou fazendo, pesquisando uma coisa ou outra durante o processo de escrita. Quando faço ficção ou poesia ou literatura infanto-juvenil, dificilmente preciso pesquisar; vou pela imaginação e intuição. Mas também já fiz alguns livros teóricos (perfis biográficos, livros para adoções como informativos, sobre cultura popular etc.), e nesses casos pesquisei bastante sobre o assunto a respeito do qual estava trabalhando. Fiz um livro para a editora Moderna, por exemplo, chamado 10 brasileiros nota 10, com pequenos perfis de dez brasileiros de destaques nas artes, na cultura, na política… Aí tive que me valer de pesquisas, claro.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que a insegurança, o temor de não dar contar do recado, tudo isso fazem parte da rotina de quem cria. Tenho muita dificuldade de me organizar para projetos longos. Em geral o atropelo, deixo de lado e vou tocar outras ideias que vão se impondo ao longo da trajetória – quase sempre de textos mais curtos, como infanto-juvenis ou contos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Em geral não mostro. É raro a gente ter para quem mostrar. Pensa-se em pedir para amigos também escritores, mas sabemos que eles também estão atarefados, tocando os seus projetos. O jeito é revisar o máximo possível e botar os filhos na praça, correr os riscos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Essa parte incipiente da tecnologia – usar o Word, salvar, salvar como, etc. – eu domino bem. Em geral, dou a partida à mão, daí vou revezando: digitar uma parte, imprimir, revisar no papel, digitar de novo, e vamos em frente…
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias vêm de todos os canais. Quase sempre, de onde menos se espera: um diálogo que se ouviu no metrô, uma frase que escapou durante a caminhada, algo que se leu, esqueceu e um dia aquilo retorna, se impondo, cena de um filme, trecho de música…
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudança maior no meu processo de escrita se deu na questão da quantidade. Com o passar do tempo, fico menos tempo diante do computador ou do rascunho, canso mais rápido, preciso de tempo maior para me recuperar. Mas não me queixo, pois tenho consciência de que tudo acontece ao seu tempo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de concluir um romance, pois tenho dois iniciados, um já pronto e reescrito inúmeras vezes, mas que ainda não me satisfaz. Como sou um autor de fôlego curto, os textos muito longos me assustam e às vezes até desanimam. Não me preocupo com livros que “ainda não existem”, porque existem vários que ainda não consigo ler. Gostaria de poder ler (e especialmente reler) muita coisa.