Luigi Ricciardi é professor, escritor e doutorando em literatura.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu trabalho principal (na questão financeira) é o de professor. Então eu me levanto cedo, às seis da manhã, me preparo, tomo um bom café e vou trabalhar. A escrita não está na minha programação matinal, aliás, para o dia a dia mesmo, não está exatamente em nenhuma programação.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho um horário específico. Antigamente escrevia melhor de madrugada, no silêncio das pessoas e das coisas. Hoje em dia não tenho mais problema com isso. Quanto ao ritual, depende do tipo de escrita, mas ambos, literário e acadêmico, passam pela pesquisa. Se já encontrei determinadas informações, releio-as para então me preparar mentalmente para a escrita. Sento e escrevo (falando assim até parece que é automático).
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando eu estou em época de concatenar as ideias, aí sim escrevo todos os dias. Do contrário não. Quando escrevi os livros de contos, não tinha um projeto exato, ia escrevendo a esmo, quando me vinha uma ideia ou quando tinha um tempo livre. Já com o romance que terminei no início desse ano, precisei, durante alguns meses, escrever um pouco todo dia ou ao menos estar em contato com o meu objeto de trabalho. Como se tratava de um romance histórico, lia novamente algumas coisas relacionadas ao tema quando não podia escrever. Atualmente estou escrevendo uma tese, de modo que me obrigo a escrever ao menos um parágrafo ou dois todos os dias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
A pressa é um grande problema. A sensação de não estar pronto também. São duas barreiras grandes a serem derrubadas. Quando se sabe que dá pra começar? Há muito material ou há pouco? Confesso que nunca sei. Em determinado momento me lanço e pronto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
O medo de não corresponder, ao menos no quesito literário, não pode ficar muito tempo na cabeça do escritor, senão ele trava. Ele pode até vir depois, mas no processo ele é um entrave indigesto. Procrastinação também, sobretudo em tempos de Instagram e Netflix. Mas os projetos, como dizem, não se escrevem sozinhos. Sou bem ansioso, então preciso estabelecer um meio-termo entre a ansiedade e a procrastinação. Não é fácil.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tenho alguns leitores para quem envio primeiro. Embora amigos, eles são do tipo que vão colocar o dedo na ferida e apontar os problemas. São pessoas de áreas diferentes e que terão olhares diferentes para o texto. Isso é bom. Reviso várias vezes até achar que dá pra mostrar, mas não há um número exato.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tudo no computador, direto nele. Quase nunca em blocos de papel.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Ideias vêm de reflexões. Reflexões vêm de leituras e uma boa conversa, consigo mesmo ou com gente interessante na mesa de um bar. Isso é essencial pra mim. Não acredito em inspiração, a não ser aquela que vem de um cérebro que está, inconscientemente, trabalhando sem cessar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Lendo muitos romances e também sobre a escrita, vi que meu primeiro livro é repleto de falhas. Eu o reescreveria inteiro. Minha dissertação, talvez ganhasse alguns detalhes a mais. O que mudou foi o olhar para o texto. Mais calma e experiência vieram também.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não tenho nenhum projeto literário novo em mente. Os vários que tenho estão prontos ou engavetados para posteriormente serem retrabalhados. O livro que ainda não existe para mim é o livro que eu ainda não li. Faltam milhões e é difícil saber que não darei conta de ler todos.