Luh Maza é roteirista de tevê, dramaturga, diretora e atriz.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Durante muito tempo eu escrevia de madrugada e ia dormir às 06h da manhã. Hoje costumo durmir cedo e acordar cedo, por volta das 07h. Gosto de começar o dia com calma, relaxada. Acordo, me preparo, leio as notícias do dia, agilizo alguns e-mails… E então começo. Porém, quando o prazo de entrega se aproxima a rotina costuma variar muito.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sinto que algumas horas depois de ter acordado – aas manhãs se revelaram um momento positivo, assim como o fim da tarde. Muitas vezes ainda acabo entrando na madrugada. Começo ou retomo colocando uma música, que necessariamente não precisa ter relação com o texto.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Idealmente passo o dia todo escrevendo, prefiro ter horas de trabalho intermitente do que me concentrar totalmente por menos tempo. Gosto de escrever, parar para conversar, almoçar, voltar para rever a história… é uma convivência com a obra com respiros. As metas são definidas pelos prazos dos projetos, principalmente os de TV, que não podem ter atrasos na produção.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu não sou uma escritora de fazer muitas anotações. Depois da ideia incial passo para uma fase de pesquisa com leituras, vivências e conversas e crio essa memória interna e então desenvolvo a escrita. Sempre penso que a pesquisa está a serviço da história e da narrativa e não o contrário, o que me ajuda a transmutar a realidade dos fatos e levantamentos para a minha ficção.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A procrastinação é um terror pra todes nós, não é?! Eu tenho tentado me pressionar menos e estabelecer uma certa rotina para evitar cair nessa, mas é difícil. O medo de não corresponder às expectativas ficou mais leve com o passar do tempo, pela autoconfiança e também por entender que não posso lidar com as expectativas para além das minhas próprias – o que já é uma tarefa árdua. Quanto a ansiedade pelo fim, isso é algo que preciso sempre trabalhar internamente.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Acho que em média faço duas revisões pessoais (antes da revisão oficial para publicação/produção). Gosto de mostrar meu trabalho para amigas escritoras que confio e já conhecem meu estilo e também para pessoas que tenham ligação com os temas e situações que abordo, esses feedbacks são muito importantes.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Só consigo escrever no computador. É mais fácil visualizar o todo enquanto escrevo, o que é fundamental principalmente em textos com estruturas específicas como roteiros de tv. Sinto que a produtividade aumenta com o suporte da tecnologia adequado como os softwares de edição de roteiro.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Viver. Durante muito tempo eu achava que era a observação o fundamental para minha escrita, mas nos últimos anos descobri que viver plenamente é o que a torna poderosa. Então me mantenho atenta, curiosa ao meu redor, mas menos como observadora, agora eu vivo, me coloco ativamente no meu tempo. Essas experiências e a convivência com pessoas que também vivem intensamente é o que me mantém inspirada, criativa e motivada.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu escrevo desde que me entendo por gente, então minha escrita foi se transformando comigo, com meu amadurecimento, com os contatos e experiências que fui tendo ao longo do tempo. O que mais se transformou é que o processo se tornou mais leve – mas não menos intenso. Se pudesse encontrar a Luh do passado diria para ela relaxar, encarar tudo com mais leveza e ironia e que além de perseverança, a paciência será indispensável.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho escrito histórias com temas que precisam ser naturalizados, então acho que ainda tem muita coisa a fazer pela representatividade de diferentes identidades, comunidades e culturas. Eu gostaria de ler cada vez mais aqueles que historicamente não puderam escrever e agora finalmente contam suas histórias: mulheres, negres, trans, indígenes, ciganes, PCDs e toda sorte de Humanidade.