Luciana Silva Garcia é doutora em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Utilizo uma agenda diária (de papel e usando lápis e caneta) para organizar minhas tarefas e compromissos. Em geral, organizo o dia de trabalho na noite anterior.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor durante o dia, a partir das oito da manhã até às oito da noite, aproximadamente. Tenho dificuldades em escrever e estudar à noite, mas quando preciso, eu fico até mais tarde, mesmo sendo um grande esforço para mim. Todos os dias, antes de começar a trabalhar, procuro organizar minha escrivaninha: guardar papéis, jogar fora o que precisa ser jogado fora, recolocar os livros na estante. E, é claro, preciso tomar um café com leite antes!
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Procuro escrever todos os dias, de segunda a segunda. Procuro estabelecer uma meta, mas cumpri-la também é difícil e geralmente não consigo atingi-la, o que me frustra bastante. Certamente, preciso reavaliar as minhas metas…
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
É mais difícil começar um texto do que continuá-lo, para mim. O “parágrafo zero” é o pior de todos. Começo escrevendo qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. Uma ideia simples, que certamente não estará no final do texto. Procuro escrever uma estrutura básica do texto, as seções mínimas que serão revisadas ao longo do trabalho. Eu trabalho com pesquisa qualitativa, basicamente, e meus dados estão compilados em um banco específico, o que me auxilia bastante. Tenho procurado usar a técnica da teoria fundamentada nos dados para analisá-los e assim passar para a escrita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Em projetos pessoais, como a tese de doutorado, tenho estado ansiosa: acordo à noite com insônia, sempre pensando “não vou conseguir, não vai dar tempo”. Oscilo entre momentos de muita coragem e auto-confiança com momentos de preocupação. Mas aprendi que tenho que sentar na frente do computador todos os dias, sem exceção, de domingo a domingo, para escrever algo, mesmo que seja um parágrafo. Me sinto melhor, é assim que enfrento esses momentos. Mas o Facebook é uma praga, não ajuda mesmo, é meu maior instrumento de procrastinação! Já os projetos longos, de caráter profissional, não me dão ansiedade, sobretudo se são organizados em fases, com entregas de produtos específicos e previstos anteriormente.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tenho mostrado para minha orientadora e submetido a um grupo de colegas. Tenho também uma revisora contratada para a minha tese. Reviso muito meus textos, até desistir e literalmente cansar deles.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu escrevo tudo no computador. Tenho um caderno na bolsa, que tomo notas de ideias, quando não estou em casa.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm basicamente da leitura e de conversas com as pessoas (acho que as conversas me influenciam bastante). Manter-me atenta o tempo todo, ouvir e ler sobre assuntos que não são estritamente do meu interesse de pesquisa, acho que são hábitos que me mantém minimamente criativa.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua dissertação?
Fiquei mais sintética, mais precisa, ou melhor, menos prolixa. Aprendi a ser mais direta, mesmo usando uma maior quantidade de dados e referências. Eu diria a mim mesma para cortar, cortar e cortar de novo a dissertação. Não sou fã de trabalhos longos, ao menos que realmente se justifiquem.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estudar e escrever sobre metodologia da pesquisa no Direito, com ênfase na pesquisa empírica. Um bom livro sobre metodologia da pesquisa em Direito, atual, fugindo dos manuais aplicáveis às ciências sociais.