Luciana de Castro é redatora, jornalista, escritora de poesias e contos informais.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu começo o meu dia querendo dormir mais, invariavelmente. Minha rotina consiste em tomar banho imediatamente quando levanto para que eu consiga acordar, de fato. Faço tudo muito rápido, em menos de meia hora me arrumo e me dirijo ao trabalho.
Lendo a minha própria resposta, creio que eu possa – ou precise – melhorar estes hábitos.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho muita escolha nesse sentido, já que trabalho com escrita no horário comercial. Em todo caso, o meu rendimento é bem melhor no meio da manhã e no meio da tarde. No início dos dois períodos estou bem sonolenta – trabalho com picos, eu acho.
Não tenho uma preparação, mas tenho condições. Trabalho muito melhor quando as questões amorosas não estão ruins. É sério. Na verdade, consigo produzir sob estas condições, mas não para o trabalho (sou redatora publicitária).
Bom, creio que para a atual pergunta e as próximas, é importante que eu considere as duas situações: a escrita publicitária e a literária. Funcionam de formas diferentes pra mim.
Para escrever algo com forte carga emocional – poesia, principalmente – eu prefiro não escutar o som ao redor e que a redação seja feita no fluxo, sem parar (ao final, reviso). Então é comum que eu coloque alguma música em um volume muito, muito alto.
No trabalho, a condição mínima é um briefing bem feito.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu escrevo quase todos os dias.
Como redatora, trabalho escrevendo todo o tipo de peça publicitária que você pensar – flyers, outdoors, slogans, spots, roteiros. O que aparecer em minha pauta eu escrevo. Por sorte eu sou realmente muito rápida nisso.
Como escritora, tento redigir pelo menos quatro vezes por semana. Não é como se fosse um esforço, na verdade. Escrever faz parte dos meus hábitos vitais (essa frase ficou muito elegante, né?).
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Em geral, eu defino mentalmente o que eu quero, antes mesmo de pesquisar.
Na publicidade é comum que eu precise definir um mote central para defender pontos menores. Nesse caso, eu estabeleço o mote e como amarrei esses detalhes. Na sequência, pesquiso o respaldo que preciso.
Confesso que nem sempre é necessária uma pesquisa profunda, já que eu trabalho com briefing.
A escrita literária muitas vezes surge de um processo bem específico. Analiso muito – muito mesmo, acredite! – as coisas, meus sentimentos, o que tenho vivido. Debato muito comigo mesma, e com outras pessoas, sobre questões íntimas, como o amor e a felicidade.
Nesse processo, é comum que eu diga ou pense em frases que eu gosto, que mexem comigo de alguma forma ou me trazem respostas importantes. São exatamente essas frases que acabam dando vazão a textos maiores, como poesias e crônicas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Felizmente não tenho muito isso de expectativas e ansiedades com a escrita. Como eu disse, e pode parecer presunçoso, é um hábito muito natural para mim – e é claro que não estou falando da qualidade do que escrevo, mas da naturalidade de fazê-lo.
A procrastinação, no entanto, é algo muito forte no meu trabalho publicitário. Frequentemente ela é motivada pelo desinteresse pessoal pelo tema abordado. Isso sempre foi difícil para mim, principalmente na época em que atuei como repórter de jornalismo impresso (sou jornalista por formação).
Para ser honesta, eu não tenho lidado com isso. Vou levando.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso algumas boas vezes, acredito que entre quatro e seis vezes. O objetivo maior é evitar erros gramaticais mesmo.
Quando você se acostuma a este processo de prever começo, meio e fim, e como tudo isso irá se conectar, erros de coerência e coesão ficam menores.
No meu trabalho os textos passam por aprovações comuns a uma agência de publicidade, como o olhar do cliente e dos superiores.
Os textos literários, no entanto, ficam sob observação de quem tem interesse de ler internet afora. Mas nunca antes de publicados – meu negócio é divulgar sem maiores rituais.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu sou uma pessoa viciada em internet. Eu passo o dia todo trabalhando no meio digital e nas horas vagas consumo muito conteúdo, uso as ferramentas de comunicação, pesquiso etc.
Curiosamente, dias atrás me lembrei que eu escrevia minhas primeiras notícias e reportagens à mão antes de passar para o papel (em 2009). Hoje eu realmente nem sei como era capaz! Eu respeito quem o faz, mas minha escrita flui muito mais no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Da observação e reflexão, e acho que é assim com todo mundo, de uma forma ou de outra.
Gosto muito de saber o que está acontecendo no mundo, sou bastante curiosa. E não falo apenas de política. Eu gosto de entender tendências de diversas áreas, saber sobre o que as pessoas estão falando, entender conflitos e “ondas”.
Nesse sentido a internet pode ser incrível, não acha?
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu fui cortando o papo furado.
Falando sério, eu parei com o rebuscamento. Quem fez Jornalismo deve saber o que eu estou falando! O estudante de Comunicação tende a escrever coisas muito piegas e prolixas no início do curso.
Também fui entendendo que, falando especificamente da escrita literária, é interessante não ser tão explícita e objetiva. Ou melhor, é assim que eu me sinto mais satisfeita ao escrever.
Eu diria para a Luciana de 13 anos, idade em que comecei a escrever poesias e contos, que sinto muito orgulho dela se divertir fazendo aquilo ali.
Para a Luciana do começo da faculdade, diria que está tudo bem em não querer ser repórter. Que isso não é problema algum, mesmo para uma jornalista. As coisas vão se acertar.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
As duas perguntas têm a mesma resposta: publicar o meu livro. É um grande sonho. É o que eu gostaria de ler hoje mesmo, se fosse possível.