Lúcia Maria Teixeira é escritora, educadora e psicóloga.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo agradecendo por mais um dia recebido. Vejo as principais notícias antes de ir para a Universidade Santa Cecília.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Geralmente é à noite, depois que as atividades diárias profissionais se acalmam. O ritual é manter uma conexão maior com meus pensamentos e minhas ideias. Há dias em que a escrita corre fácil, outros nem tanto.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
O processo criativo de um livro difere de outro. Como já foram 11 até agora, sempre depende do meu tempo livre para escrever, do ponto em que estão as pesquisas realizadas para a obra e da inspiração, claro. Geralmente escrevo um pouco todas as noites e amplio o tempo de trabalho nos finais de semana.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Acontece de muitas formas. Quando estou escrevendo um livro, anoto muita coisa: ideias, conversas, músicas, sorrisos, cheiros, momentos, enfim tudo serve de inspiração. Às vezes, acordo de madrugada para escrever algo que julgo importante. Escrever é reescrever e deletar várias vezes. Sempre há a pesquisa de temas, aos quais incorporo sugestões do cotidiano. Pessoas, fatos e coisas que me apaixonam.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que esse é um medo comum a todo escritor. E as travas acontecem sim, principalmente em dias de maior estresse. Mas quando o projeto está maduro e bem definido ele vai acontecendo naturalmente e é apaixonante ver cada filho nascer e assumir seu lugar no mundo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Várias vezes, muitas vezes. Muitas mudanças vão acontecendo durante o processo. Parece que você não vai chegar nunca à perfeição. E não vai chegar mesmo, mas o importante é você deixar impresso o seu melhor nas páginas que vão, espero, emocionar e envolver os leitores.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A tecnologia hoje está totalmente incorporada ao meu trabalho. Escrevo no computador, mas não dispenso a caderneta na bolsa ou na mesa de trabalho para não esquecer ideias e inspirações que vão surgindo. Acho que todo escritor vai desenvolvendo uma intuição muito grande e muitas vezes parece que a palavra certa para o personagem ou a situação ideal aparecem do nada.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
De várias fontes. Dos livros que li, filmes, arte, tudo o que vivi, escutei, aprendizado escutei, aprendizado da vida de pessoas comuns… Acho que tem relação com os sonhos que acalanto, confrontados com a realidade em que vivemos, e o desejo de mudá-la. Aquilo que nos falta e o que eu desejo para as pessoas e para o mundo. E como dizia Picasso, quando a inspiração chegar, que me pegue trabalhando. É o que acontece. Só quando se está debruçado, atento, trabalhando, é que acontece a criação.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Geralmente meus temas são sobre questões que me incomodam na realidade e que eu quero mudar; refletem um pouco e complementam as minhas ações como cidadã, mulher, educadora e psicóloga. Escrevendo, fazendo palestras e intervenções em vários locais e meios, eu posso me comunicar e dar voz a outras pessoas que não são vistas ou ouvidas, cujos dramas cotidianos estão aos nossos olhos, mas não são percebidos. Esse interesse e objetivo não mudaram. O que muda sempre é a minha abertura para novos assuntos, escrever é observar o mundo à sua volta.
Acho que diria para a escritora iniciante que eu fui para não desistir nunca de seus sonhos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Em praticamente todos os meus livros, inclusive nos infantis, a Cidade de Santos aparece. É uma forma de prestar minha homenagem à essa cidade que eu amo. Talvez, um dia, escreva um romance ambientado em Santos, reunindo fragmentos de histórias e pessoas que me fortalecem a cada instante.