Lucas Viriato é escritor e poeta, editor do jornal Plástico Bolha e curador da exposição Poesia Agora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Levanto, raspo a língua, tomo meus remédios e sempre tento comer algo para não fumar meu beck de barriga vazia. A rotina matinal varia conforme o lugar no mundo onde estou.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tem muito isso de hora, acho. Escrevo na hora em que me dá vontade. Tenho muitos rituais de escrita, mas escrevo “por projeto”. Mas, sim, é preciso preparar a casa para a poesia chegar. Os objetos, papéis e paz ao redor. Mas, por vezes, quando vem, escrevo mesmo independente dos rituais. E, às vezes, mesmo com todos os rituais, à escrita não vem. Então é insondável. Eu tento me ajudar a escrever sempre.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sempre fui escritor, mas em minha fase de formação como poeta, me obriguei a escrever um pouco todos os dias. Saiu muita besteira, mas alguns ficaram bons. São os poemas que compilei no livro “Curtos e Curtíssimos”. Essa obrigação que me impus me ajudou muito. Mas tem que saber selecionar depois, pois vem muita coisa ruim junto com coisa boa. Olhar criticamente para sua própria produção é mais importante até mesmo do que escrever em si. Porém, após essa fase, não me imponho mais nada. Escrevo quando me dá na telha ou quando me pagam para tal. Não tenho meta de escrita diária.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não tenho um processo fixo. Já experimentei vários processos diversos. É SEMPRE DIFÍCIL COMEÇAR A ESCREVER. Mas eu não sofro. Adoro escrever e vivo para isso. Me movo da pesquisa para a escrita com a ajuda de tudo o que devorei e vou devorando ao longo da vida, mas a MEMÓRIA é minha maior aliada.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Se estou travado: ou insisto ou desisto. Quanto a segunda parte da pergunta, costumo dizer: escreva para alguém, ou para ninguém, ou para si mesmo. Nunca escreva “para todo mundo”, vai ficar uma merda, pode apostar!
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Infinitas vezes. O grande processo de escrita é esse: revisar, revisar, revisar. O lance é saber quando está bom de revisar, sabendo que “pronto” não vai ficar nunca, pois estamos em eterno processo e eterno devir. Por sorte, nunca reneguei nenhuma obra lançada até hoje, mas tem coisas que escrevi que não concordo totalmente. Nesse caso, não volto ao poema antigo, mas tento fazer a minha auto-correção no próximo poema ou livro. Sim, sempre mostro meus trabalhos para um seleto e diverso time de “primeiros leitores” antes de publicá-los. Esse time mora no meu coração e é parte integrante da minha obra. Procure alguém que não seja sua mãe ou seu pai, no sentido de achar pessoas que realmente te darão um retorno real e não vão achar tudo o que você fizer bonitinho. No entanto, tem que mostrar para pessoas de coração aberto. Não se faz nada sem o coração aberto – melhor nem fazer se não for assim.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Relação dificílima. Dizem que tenho “Mercúrio retrógrado”, seja lá o que isso quer dizer. Tecnologia me irrita. Tanto que amo o PAPEL, a maior tecnologia que o ser humano inventou. Concordo muito com o poeta Chacal: “a tecnologia está sempre a nossa frente ou atrás da gente, nunca do nosso lado!”. Mas não tem jeito: ela está aí para ficar, cada um que se relacione com ela como pode. Escrevo rascunhos tanto a mão como no computador, acho que não é indiferente, mas consigo escrever em ambos os processos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
De onde vêm minhas ideias eu não conto! Mas, sim, elas vêm de algum lugar.
Acho que sim, minha forma de vida é um grande cultivo para me manter criativo.
Mas isso é muito pessoal, e não vejo como o meu conjunto de hábitos possa ou não ajudar outro escritor.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A grande mudança no meu processo de escrita foi tornar-me, além de escritor, o que sempre fui, também um poeta. A sentir o peso das palavras, a religar significado e significante, a nadar rumo à terceira margem do rio, a entender que uma moeda tem três lados (o que por vezes só um cego percebe). Eu agradeço muitíssimo à Paulo Henriques Britto, Marília Rothier, Helena Martins e Ricardo Chacal pelos ensinamentos dados. Cito esses, mas há outros. Quanto a segunda pergunta: não diria nada, deixaria rolar naturalmente.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Minha tese de Doutorado, na qual trabalho atualmente. Mas afirmo que já comecei!!! Quanto a segunda pergunta: acho que só o Lucas que ainda não existe poderia respondê-la! Mas eu confio na rapaziada e no porvir, confio muito!