Lucas Miyazaki Brancucci é escritor, autor de Elefantes.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Ultimamente tenho acordado muito cedo (umas 6h) para dar aulas de inglês ou espanhol. Mas não demoro muito e vou para casa ou para um café e começo minhas leituras. Pesquisas acadêmicas ou textos relacionadas a alguma escrita mais “autoral” (um ensaio ou uma novela).
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Por volta das 15h, e de madrugada. Depende do que estou trabalhando…
Rituais: caminhadas, fones de ouvido, indie, caneta Lamy (e, atualmente, encontros mensais de escrita com colegas).
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Um pouco todos os dias, mas mais rabiscos… Quando considero um trabalho “finalizado” ou publicável, ele sempre se deu em períodos de escrita concentrados.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Gosto de preservar um espaço romântico onde eu possa pensar estar criando algo do zero, que não foi dito e interpretado. Um ensaio meu sempre parte de alguma anotação surgida de forma espontânea e que gostei de ter escrito, mesmo que depois perceba ser tosca a ideia. Apesar de eu muito pesquisar antes de começar uma escrita, é só quando começo que as outras textualidades vão surgindo de uma forma mais íntima. O mais difícil é começar em lugar prazeroso e que induza a aberturas inusitadas, e depois as analogias vêm.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Nunca tive muitas travas… Sempre acreditei que se eu sentasse e escrevesse, alguma coisa iria sair. Nesse sentido, sou ingênuo. Penso que é só ir escrevendo… Mas sei que não é assim. É preciso certos empenhos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quando “termino” o texto, gosto de revisá-lo por camadas de linguagens um tanto deslocadas. Por exemplo, no caso do livrinho Celular.quitine.rua, revisei os poemas pensando num álbum do Radiohead, e depois no livro Ideia da prosa, e depois em anotações de um passeio inesperado. Para cada texto crio camadas referenciais de revisão, de acordo com as analogias que o texto evoca.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Gosto de começar tudo no analógico, com minha tinteiro Lamy… Mas sou fascinado por computadores também. Tenho três notebooks (um eu comprei para minha mãe, mas uso-o ocasionalmente) da Thinkpad – T40, T430 e X220. Uso Ubuntu em todos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Gosto de deixar em livre assimilação, para a poesia e narrativa, as minhas experiências prazerosas e instigantes – com amigos, com o cinema, alguma música, numa aula da faculdade, com um texto científico do século XVII… –, e, a partir daí transformá-las em movimento no papel, ideia para um trabalho. Não digo “ficcionalizá-las”, pois mesmo que invente nomes e situações inexistentes, o real é uma questão de ritmo e intimidade. Gosto de caminhar ouvindo música, a das ruas ou a do fone. Acho que disse isso.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Algo que acredito ter mudado tem a ver com um certo empenho em mobilizar uma ideia que veio de mim espontaneamente, mesmo que não seja tão inovadora, para formar um outro texto… Acho isso importante para manter o pensamento arejado. Considerando trabalho de iniciação científica que acabei de escrever, diria para mim mesmo fichar os textos que sabia que iria usar.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever pequenas e dispersas notas sobre músicas e bandas que tenho ouvido ultimamente – projeto nada ousado para um blog que provavelmente ninguém vai ler, mas a ideia me fascina.
Gostaria de ler um tratado da antiguidade que, pela primeira vez, ensaiou sobre as máquinas de mundo, conceito usado por alguns artistas ao longo dos séculos. Mas ainda bem que esse ensaio não existe…