Lucas Carrão Bertoldo é fisioterapeuta e escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia agradecendo mentalmente pela oportunidade de mais um dia. Fazer algo diferente, fazer algo melhor, aprender algo novo, e se possível fazer a diferença para alguém. Se aprender algo novo esse dia já terá valido a pena. Mas todo esse ensaio mental é só um acelerador de pensamentos que tenho. Acho que esse pensamento acelerado me deixa meio ‘slow’ pela manhã, e isso depende muito do que fiz no outro dia, me faz acordar motivado sabe, acho que isso é normal, ter tido um dia feliz, produtivo, realizador te faz dormir melhor e acordar melhor ainda, mas como qualquer ser humano com pensamento acelerado ou não, tenho meus altos e baixos, tem dias que acordo mais desmotivado, e faz parte, acho que nenhuma página em branco deve ser escrita da mesma forma, então no caso, não tenho uma rotina matinal, a não ser ir ao banheiro e procurar pelo café, mas isso nem sempre, pois eu me escuto e sinto o que tenho vontade para o momento das opções que tenho disponíveis?
E faço as minhas vontades, pois é tão ruim ir dormir com vontade e acordar pensando no que poderia ter feito e não fez, se bater o arrependimento posso perder um bom tempo pensando nisso, então eu uso a manhã para me motivar, busco um tema para aquele dia e começo a escrever a página daquele dia. Que música estou afim, qual roupa vestir, qual caminho seguir, olhar mensagens, algumas obrigações que temos que mesmo não querendo temos que continuar tipo rotina fisiológica. Mas não, no fim eu não gosto de rotina, e luto contra ela, ou tipo algo no automático sabe, gosto de tomar minhas decisões baseadas no momento mas não posso negar que somos influenciáveis por questões pessoais do momento, onde estou, com quem, e tento tirar o maior proveito disso, e tenho para mim, dormir o menor tempo possível, a vida é troca e dormindo trocamos só o nível de consciência quando precisamos desacelerar a mente e o corpo e descansar o quanto for necessário.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
O meu trabalho de formação na área da saúde é basicamente aliviar a dor ou ajudar aquele que me procura para melhorar. A hora do dia que me sinto melhor é quando me sinto produtivo e tenho trabalho e posso evoluir e melhorar a vida de alguém. Sinto-me grato, e esse valor não é monetário. Quando iniciei minha formação em Fisioterapia, nunca pensei em ficar rico, ou qual seria meu salário, acho que isso é consequência, porém ninguém vive só de amor ao que faz, e sentir ser valorizado as vezes não tem a ver só com dinheiro, pois o material tem muito valor, aos olhos de quem vê, mas as vezes do que o não é palpável não tem preço. Nunca gostei da ideia de saúde com medicação. Acho que tem casos inevitáveis. Mas me soa tão artificial. Por isso me especializei em Acupuntura. Por sinal hoje 23 de março é dia do Acupunturista, parabéns pra mim êêêêê… E para quem não sabe, acupuntura quer dizer: arte de inserir. Então, eu trabalho melhor quando tenho trabalho, e se meu trabalho de formação é uma arte, minha preparação para escrita também. Minha mãe é formada em educação artística, então estava no meu sangue, me conduzir a esse prazer de ler e escrever, a sede de conhecimento infinita que é Acupuntura, que é o trabalhar com algo manual nas horas vagas criando algo novo, ou escrevendo algo novo. Então, a minha preparação para escrita vem do que vivencio, das minhas experiências, do que vejo, leio ou algo que pode me inspirar a criar algo novo, então quando bate a vontade eu vou lá e escrevo e tudo flui ou não.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Depende qual a ideia. Eu tenho um conto inacabado sobre a Psicanálise, cujo tema me fascina, bem como Sigmund Freud, o pai da psicanálise. Comecei escrevendo esse conto para um concurso. Vi que não ia terminar a tempo de participar, e decidi guardar ele e estudar mais a respeito para não escrever bobagem. Gosto de pesquisar e aprender, então comecei a comprar revistas, livros e me conectar com pessoas deste universo, psicólogas, psicanalistas e fiz até curso para poder compreender mais sobre o que estava escrevendo. Comprei a biografia do Freud e continuo lendo e escrevendo ele desde 2015 até então, para que este conto estivesse junto no meu primeiro livro com as minhas melhores publicações, mas enquanto não o termino, sigo com meu blog com publicações desde 2006 e faz uns dois anos que criei um instagram que tento postar frases diárias, para continuar meu processo criativo, mas sem metas, do tipo todos os dias, só posto se gosto, senão não me culpo, nunca investi um centavo, a não ser pela vontade de continuar me expressando e com a ideia de escrever um livro, o qual espero que em breve, pois já plantei uma árvore e ter um filho, quem sabe, mas se não encontrar alguém vou adotar.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo é o que me motivou a escrever? Pessoas, momentos, leituras, músicas, qualquer coisa que eu goste pode me incentivar a iniciar um processo de escrita, depende do dia, como me sinto. Posso pedir para você mesmo, 5 palavras e escrever uma poesia na hora, vi isso num filme e adorei, me desafia, adoro descobrir como as palavras fazem sentido no contexto que quero passar, e adoro fotografias, mentais, imagens ou idealizações.Em uma das minhas últimas postagens, vi no instagram uma foto que me inspirou, e baseada nela escrevi sobre, e postei no blog com uma imagem de um filme cuja atriz eu adoro, e publiquei. Não me aguentei e mandei para pessoa da tal foto que era sobre ela, e o porquê, logo ela leu e adorou repostou e troquei a foto pela foto dela. Ou seja, gosto de todo processo, título, foto, escrever, e tenho coisa que escrevi muito tempo atrás que não consigo finalizar, guardo, e depois de um tempo eu leio e continuo. Tem coisas que publiquei que não são de agora, outras são, e outras estão em um processo de escrita, o que pode mudar, inclusive na hora de editar, palavras mudam, ou contextos desaparecem, eu simplesmente adoro esse processo de pesquisa e criação, o que me move é a vida e despertar sentimentos e claro próxima página.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Olha, esse projeto, do conto que tenho desde 2015 me deixa louco, pois sempre idealizei algo para ele, mas não consegui. Mas não me travou sabe, tanto que se observar de lá pra cá, escrevi tanto quanto gostaria. Claro tive e tenho momentos mais criativos e inspiradores, mas continuo com a mesma paixão pela escrita que amadurece e evolui, e sinto que se tivesse entregado naquele momento, não sairia como será, e a ideia de não corresponder às expectativas foi o que me fez continuar lendo, pesquisando, estudando e querendo aprender mais para dar continuidade aos outros dois projetos longos que tenho, que admiro tanto que nem nasceram ainda, mas sinto tanta vontade de começar, mas realmente não conseguirei entrar nesses projetos enquanto não finalizar este primeiro, e isso não me deixa mais ansioso não, pois sei que tudo tem seu tempo, e o tempo disso tudo acontecer chegará, o que a gente não pode deixar é a ansiedade dominar, e é justamente isso que faço, se fico ansioso uso isso de combustível para escrever, para me exercitar, para criar algo novo, e não as pessoas geralmente não fazem isso, deixam a ansiedade lhes dominar, e aceitam isso com a mesma normalidade que aceitam a prescrição de um ansiolítico para a mesma ansiedade. Foi por isso que comecei a escrever sobre psicanálise, para ajudar na reflexão sobre supostos tratamentos que lhe condicionam para o mal do século que é a síndrome do mundo moderno: ansiedade, depressão e estresse, são invisíveis e extremamente incapacitantes.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso umas três vezes antes, e quando publico leio mais umas três vezes e quase que geralmente busco erros, e refino a escrita até estar do jeito que gostaria que as pessoas lessem, mas não mostro antes de publicar, pois esse processo que precede a publicação é muito intimo e particular, e logo só será publicado quando realmente tiver certeza de que ele está do jeito que deveria estar. Provavelmente farei o mesmo antes te lhe enviar as respostas dessa entrevista.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu sempre gostei muito da evolução. Nasci em 85 então desde a datilografia, long play, vídeo cassete, mimiógrafo, fita cassete, fotocópia, cartas, fax, impressora, orelhão, cd, DVD, computador, celular, Blu Ray, internet, streaming eu estou surfando essas ondas e aproveitando para aprender sobre todas as formas de comunicação. Infelizmente não sei libras, braile e código Morse, mas gostaria de aprender, assim como outras línguas. Acho fascinante aprender, e conhecer mais coisas novas, então me dou com tudo isso, mas confesso que tenho adoração pelo que é mais antigo, tenho minha máquina de escrever, e sempre escrevi a mão, mas tento me adaptar, o blog é virtual, e gosto disso mas minhas frases de instagram são escritas em cima de um app que se chama Hanx Writer que é criação do genial Tom Hanks, que sentia falta das máquinas junto a esse mundo moderno virtual. Foi como que se assinasse embaixo do que ele pensa sabe, ouvir o som da máquina, e sentir pelo menos que aquilo é algo mais parecido do que eu vivi lá atrás me faz sentir um pouco menos deslocado, apesar de adorar tudo isso, obrigado Tom você é o cara!
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias vêm de tudo que é lugar, momento, pessoas, filme, música, livros, histórias. Sempre fui muito criativo, desde criança, tenho um irmão mais velho, mas nunca me importei de brincar sozinho, criar minhas histórias com carros, bonecos, e falar sozinho e interpretar a vida como ela é um filme dirigido por Quentin Tarantino. Hahahahah. Eu me divirto sozinho, e quando você não é feliz sozinho você não será com algo ou alguém, isso é um estado de espírito e depende unicamente de você e mais ninguém, você tem ajuda de outras pessoas sim, mas viemos sozinhos e partiremos sozinhos, não levamos nada nem ninguém, a não ser que você acredite que está no romance Romeu e Julieta do genial e romântico Shakespeare onde queira levar quem você ama junto, mas o que levamos não é o ser em carne e osso, e sim o sentimento, então se sentir criativo e motivado depende de ti, porém, mesmo depressivo já escrevi sobre o sentimento que me detinha, ainda que não da melhor forma que queria. Nietzsche era pessimista, negativo e depressivo, mas o acho genial, diziam, Bukowski velho safado, bêbado e mau humorado, diziam, acho genial, então tudo depende…
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu acho que eu mudei, e o meu processo de escrita amadureceu, mas como eu procuro evoluir como pessoa, procuro evoluir na escrita também. O que mais mudou foi que escrevia muito, e nunca tive dificuldade para isso, minhas redações no colégio e respostas nunca foram curtas, sempre tinha vontade de dizer e escrever mais, dar detalhes e contar mais, expressar mais, demonstrar mais. E essa onda de escritores de instagram postando frases me motivou a criar o meu e tentar escrever menos.Em tempos acelerados, as pessoas querem ler menos, ou nem leem mais né, mas se numa passada de tela em 10 palavras puder mudar o dia de uma pessoa já fico feliz, pois sei que muitos leem e não curtem, e eu não me importo com curtidas, não ganho nada para isso, porém sinto que quando curtem se importam e claro quando comentam é quando sinto que atingi um objetivo de tocar alguém com a ideia que passei. E isso me basta. Já para outros mais seguidores, mais curtidas, mais fama, mais ego e mais e mais não basta, e acho isso tão superficial, se tornar famoso para se tornar admirado e conquistar isso e aquilo, falsos bajuladores, eu sou verdadeiro e autêntico pelo que faço, se não gostar tudo bem, se gostarem fico feliz, e vida que segue.
Eu lia meus primeiros textos tempos atrás e sentia vergonha sabe como me expressava e o que queria demonstrar (geralmente para as meninas) escrevia frases dentro do estojo para mandar para elas, ou escrevia páginas para alguma guria que gostava como admirador, mas nunca mandava, pois não tinha coragem de falar o que sentia, então escrevia e se sentia reciprocidade eu mandava, senão guardava e deixava para um dia que me sentisse a vontade publicar. Olhando para trás não me arrependo e vejo isso tudo como um modificador que em mim habita tal qual uma metamorfose ambulante e prefiro ser do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo, que ao mesmo tempo é nada, já que em um momento tudo muda, ‘e somos insignificantes, por mais que você programe sua vida, a qualquer momento tudo pode mudar’, Ayrton Senna. Em tempos de quarentena a frase nunca foi tão propícia quanto agora.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho dois projetos de livros longos que ainda não comecei a escrever, mas eles já começaram mentalmente, pois leio a respeito de ambos os assuntos que quero abordar. Um romance místico, e outro um suspense policial. Vou coletando informações para quando chegar a hora de começar a escrever eu estarei pronto. Enquanto isso continuo meu conto sobre Psicanálise para meu primeiro livro, e meu blog estará com publicações mais longas semanais e no instagram frases diárias @meusonholucido.
O livro que gostaria de ler que não existe são os meus. Mas em se tratando de imaginação, eu tenho muitas e muitas ideias, e quando vou a livraria, o que raramente tenho feito pois não dou conta do que tenho para ler, me surpreendo em descobrir livros que nem sabia que existiam e cujo os temas são os que me provocam a curiosidade. Mas o que ainda não terminei e não imaginava existir se chama Cavalo de Tróia ou Operação Cavalo de Tróia de J.J Benitez, de um homem que consegue voltar no tempo, e vive na época de Jesus. Sensacional. E lendo também, O médico de homens e almas de Taylor Caldwell sobre Lucas, escritor e médico,onde ela descreve toda história de Lucano desde seu início, e para quem não sabe Lucas escreveu sobre Jesus sem ter nunca estado com ele.Mas realmente o livro que gostaria de ler é o que um dia eu possa escrever e vire filme pois para estas duas artes, nada é impossível para a imaginação que não se limita.