Loussia Felix é professora da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho propriamente rotina matinal. Diria mais que tenho hábitos. Nas primeiras horas do dia busco sobretudo silêncios que me inspirem. Mas obviamente isto depende de contextos que não domino inteiramente. Ao longo de viagens ou compromissos profissionais acadêmicos que impliquem em atividades obrigatórias nas primeiras horas do dia de trabalho, não tenho escolha. Mas sempre que possível busco estar tranquila no período matinal para pensar em projetos acadêmicos, avaliar minhas práticas, rever objetivos e escrever. Posso também simplesmente não pensar em nada, enquanto sinto as mudanças de luz e vou me orientando para as exigências do dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrevo sobretudo quando sinto que as palavras estão no ponto de colheita. Sou uma pessoa “cíclica”, diria até sazonal. Tenho uma autopercepção como alguém vinculada a movimentos internos e externos que me demandam atenção e sensibilidade para compreendê-los e ter a necessária energia para aproveitá-los. Retomando o ponto de “ciclos” de escrita, esta é uma forma que carrega elementos de complexidade e, presumo eu, de desperdícios, opondo-se àquela de quem faz da escrita um processo mais sistemático e constante.
Quando se trata de escrita mais densa sou uma pessoa pré-moderna, que carrega certo grau de inadequação com formas de produção mais controladas e racionalizadas. Sinto-me um pouco como artesã vinculada a sociedades tradicionais, em que camponeses se dedicavam ao artesanato em períodos determinados e situados entre o plantio e a colheita, em pausas do trabalho mais repetitivo e vinculado à subsistência. De alguma forma, quando escrevo, sinto-me conectada a esta lógica de camponesa. Como se escrever contivesse esta possibilidade de me dedicar a tarefas mais “finas”. Quando escrevo textos em que por razões metodológicas ou da temática esta é uma tarefa complexa, sou uma artesã. Como descendente de bordadeiras da Ilha da Madeira escrever é uma situação em que me ligo ao feminino, às relações matriarcais, à minha mãe e sua estética de herdeira privilegiada de habilidades ancestrais. Conversando um dia com ela percebi isto muito claramente, esta associação entre as formas de se empreender o bordado e minha escrita. Escrever é a pausa da vida exigente. É a oportunidade da tarefa que almeja uma precisão, não deixar fios mal traçados, escolher harmoniosamente as cores, ou fontes. É no fundo poder escolher.
Outras tarefas tradicionais da docência, como o ensino, carregam significados do inadiável, equivalente a, por exemplo, semear. Não se semeia quando se quer, mas nas épocas propícias em cada ano. Não se pode desperdiçar a oportunidade nem se negociar outros tempos com estudantes que nos chegam em meses pré-determinados e esperam nossa contrapartida. Não há como adiar ou antecipar estes encontros sazonais. Escrever acontece então nestes espaços e hiatos, que podem contudo ser amplos entre as tarefas inadiáveis.
Não diria portanto que tenho um período que privilegio para escrever, entre as horas de cada dia. Nas fases em que o trabalho visa a produção de textos escrevo longas horas, desde bem cedo até à noite. Mas também percebo que já não gosto tanto de escrever até muito tarde da noite e avançando nas madrugadas. Enquanto respondo esta interessante lista de perguntas constato que mesmo em períodos mais intensos consigo escrever, de forma mais sistemática, por umas 7 ou 8 horas. Não mais. Imagino que esta forma de escrever, de categoria sazonal, encontre eco entre alguns de teus/as leitores/as, mas percebo que cada vez mais torna-se “produtivo/a” segundo padrões de produção acadêmica, que aqui não discutirei, exatamente as pessoas que estão fora desta forma de escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Por razões de minha trajetória de vida a forma de escrever se constituiu em torno de períodos concentrados. Claro que esta metodologia apresenta dificuldades vinculadas ao fato de que a carreira acadêmica no Brasil, nas universidades do sistema federal, e onde me encontro, parte-se do pressuposto de que cada docente é um microcosmo de sua própria instituição ao longo de dois semestre letivos de cada ano e desempenhando nesta identidade papéis diversificados e simultâneos. Não temos períodos exclusivos de dedicação seja ao ensino, seja à pesquisa ou à extensão, o que considero um grave erro do sistema, pois permitiria um tempo de avaliarmos e, quem sabe, aperfeiçoar ou mesmo mudar inteiramente nossas práticas acadêmicas e pedagógicas. Escrevemos em paralelo, ao longo de todo o tempo, a todas as coisas. Não há uma compreensão de que a docência deva ser também um processo colaborativo. No fundo esta perspectiva de que tudo que fazemos deva ser simultâneo e individualizado é bastante arcaica e vinculada a uma universidade que já não mais existe.
Perceba que não estou fazendo a defesa da produção bibliográfica em detrimento de outras. Pelo contrário. Para estar em sala de aula, por exemplo, e poder-se verdadeiramente fazer deste encontro com outras pessoas que ali estão na condição de discentes uma experiência valiosa, há que dedicar-se. Criticar-se, gastar tempo em aperfeiçoar o que se faz. Ensinar requer em grande medida manter-se uma disposição mental aguçada. Implica em exercitar-se continuamente para manter o fôlego intelectual e também físico. Esta é uma dimensão pouco analisada de nosso ofício, mas está aí. Nossa própria arquitetura na FD-UnB, em que ficamos lado a lado com os discentes, nos requer uma energia concreta, visceral até, eu diria. Como nossas disciplinas típicas implicam em largo aporte de horas presenciais, o dispêndio de recursos físicos e mentais é considerável. Voltando à minha metáfora do semeador, estar em classe é percorrer continuamente o campo. Estarmos sujeitas a elementos e desafios por vezes inesperados. Vivemos em tempos vorazes em que nossos estudantes estão submetidos a pressões de toda ordem e, em regra, estão nesta fase da vida em que a construção de identidades também requer muito de cada um/a deles/as. Assim estes espaços de encontro podem tornar-se também lugares de dissabores, exigências áridas, colisões geracionais e frustração de expectativas. Mas são também territórios de enorme efervescência criativa e trocas intersubjetivas muito enriquecedoras. Nada é linear no trabalho docente acadêmico. As possibilidades são infinitas, muito inspiradoras, mas certamente também importam em disposição para empregar, ou diria mesmo entregar, energias significativas.
Cada atividade típica na docência, seja o processo ensino-aprendizagem, seja pesquisar e publicar, estar em atividades de gestão, fazer extensão ou outras formas de trabalho acadêmico, cada vez mais criativas, demandam competências específicas e crescentemente complexas. O que tento iluminar é que escrever, ao menos para mim, é um ato criativo exigente. Requer concentração e muita dedicação. Assim demanda também que algumas condições prévias estejam dadas. Como ter um estoque de energia mental e certamente física para despender no trabalho.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Este processo de escrita está de certa forma implícito nas respostas acima. Não se trata, ao menos para mim, de empreender uma investigação exaustiva para então escrever. A pesquisa também é realizada concomitante ao texto. Enquanto escrevo preciso do diálogo com minhas fontes e notas. São como uma comunidade aberta que pode ser acessada a qualquer tempo. Em distintas épocas da vida escrever traz desafios específicos. Como professora em um grau mais avançado da carreira a presunção é que devo oferecer uma contribuição bem mais original e sofisticada do que, por exemplo, uma colega em início de carreira. Desta forma os “modos de produção” destes artefatos teóricos e metodológicos requerem recursos diferentes. Escreve-se para finalidades múltiplas e cada uma tem suas próprias exigências metodológicas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Tendo a ser procrastinadora. Já perdi projetos importantes por ter um prazo muito ajustado, que normalmente controlaria muito bem, mas que devido a fatos inesperados e de impacto inafastável, foi afetado. Como escrevo em períodos concentrados, quando tenho um compromisso de entregar um texto busco inicialmente vislumbrar em que semanas ou meses eu deveria, e teria condições para, me dedicar de forma intensa ao trabalho. Quando tudo corre bem consigo alcançar o objetivo. Naqueles dias, semanas ou meses me entrego de corpo e mente ao texto em construção. Há um enorme prazer sensorial e intelectual nisto. Quando estou imersa no processo não há conflito ou sofrimento, pelo contrário. A fase mais dura e árida é sempre a fase preliminar. Imagino que isto seja devido a esta característica de ser uma procrastinadora ou simplesmente alguém que necessita “sentir” o texto e amadurecê-lo antes de materializá-lo em palavras escritas. Enquanto estou escrevendo em geral coabito com o texto. Isto é muito palpável para mim. O texto me acompanha ao longo do dia (e muitas noites) e o sinto ir me interpelando. É um processo muito intenso, porque o texto não se silencia. Quer falar. Sentir-se compreendido e assegurar-se de que pode vir à luz em condições as mais propícias possível. Mas nem sempre a interpelação ocorre enquanto estou imersa no ato físico da escrita. É quase que permanente.
Quanto mais sinto amadurecer o texto mais ele se torna vigoroso também neste movimento de querer até mesmo dominar meu cotidiano e tornar-se hegemônico em meu sentir e fazer. Mas pode ser muito prazeroso este período em que o texto se apresenta como sujeito que luta por existir e ser reconhecido. As assim chamadas travas da escrita estão mais associadas a períodos da vida em que simplesmente as coisas em geral se tornam mais difíceis, entre elas escrever. Já mencionei que sou uma pessoa sazonal e já atravessei meus desertos. Diria até múltiplos desertos. Mas eles te ensinam que tudo é finito, inclusive os períodos de completa aridez. Nestes períodos não é muito sensato ficar revolvendo a areia da aridez de ideias. Mas se deve andar, ir em busca de outros horizontes. Neste aspecto temos uma carreira muito privilegiada. A docência te permite transitar por muitos lugares de estímulo intelectual, ainda que em certos períodos como simples observadora.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quando escrevo, conforme explicitado na resposta anterior, o texto já contém algum grau de reflexão e foi “cultivado” internamente. Depois de escrito há certo gosto em reler e revisar é quase um prazer, pois o trabalho mais árduo já foi desempenhado. O período da elaboração é para mim muito intimista. Escrever é o momento da solidão. Tudo o mais que fazemos na docência é muito intenso em termos interpessoais e mesmo intersubjetivos. Estamos sempre em contato com outras pessoas. Então escrever é a oportunidade da estar-se só. Mas vejo com grande respeito, e também interesse, a forma mais aberta de produção, sobretudo na academia norte-americana, em que a escrita ocorre de forma menos reservada desde o início. O/a autor/a apresenta seu “working paper” em grupos de pares, colegas que detém formação na área da pesquisa e que estejam dispostos a ler e criticar o texto. Acho esta uma ideia bastante interessante, porque também requer humildade e paciência para se colocar previamente no campo da crítica, refletir sobre sua pertinência e certamente aproveitá-las. Estas práticas colaborativas de produção textual acadêmica me parecem muito promissoras.
Não vejo a escrita acadêmica apenas como linguagem técnica ou comunicação científica. Somos sujeitos sociais privilegiados e nesta condição presumo que devamos também construir objetos que sejam esteticamente valiosos. Não estou implicando que nossa tarefa seja artística. Mas que seja respeitosa de nossa condição de profissionais que gozam de certas regalias em uma sociedade muito dura e excludente. Escrever, em um país ou mesmo um mundo, em que grande parte das pessoas pode organizar apenas existências precárias em que enfrentam níveis altíssimos de incerteza cotidiana, não deixa de ser um privilégio. Que deve ser vivido de forma muito respeitosa para com aqueles que fora de seu alcance nos observam e certamente julgam. Há escritores/as maravilhosos/as que contornam a aspereza de cada dia e produzem obras inestimáveis. Para estas pessoas trata-se de transpor situações limites todo o tempo, ao passo que para nós, apesar das dificuldades intrínsecas, não se pode negar que algumas condições objetivas estão dadas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo diretamente no computador. Mas na fase de definir a estrutura do texto, “sentir” as abordagens, conceitos-chave e estrutura, gosto de fazer diagramas, escrever em folhas de papel, construir livremente a partir de figuras e palavras sobre o texto, e sempre à lápis, ou lapiseira. Gosto da textura do grafite. Deve ser, provavelmente, uma forma de me conectar com a alegria infantil de escrever as primeiras letras, formar palavras. Mas também colabora para focar na pesquisa, ir cultivando o personagem. Assumo que escrever, ainda que na linguagem acadêmica, tenha correlação com criar um personagem literário. Um texto, assim como um personagem, é uma construção que será apropriada por outros/as interlocutores/as. Será interpretado, citado e na melhor das perspectivas inspirará a comunidade de conhecimento. Da mais próxima às mais distantes. Constrói-se algo que terá autonomia, a despeito de nossas intenções iniciais. Gosto de ir dando forma interna e externa a estas construções mentais. Mas esta fase pré-textual em minha forma de produção não é nada muito elaborada. Apenas uma forma de “quebrar a casca” do texto. Descobrir e testar possibilidades.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias vêm de lugares ou situações recorrentes ou por vezes muito inesperados. Claro que espaços acadêmicos típicos, como um congresso ou encontro científico mais restrito pretendem ser lugares de trocas criativas. Estimulam o imaginário e podem cumprir o papel de propiciar ideias. Mas há situações inesperadas. Pensando na questão presumo que para mim o mais estimulante em termos criativos sejam situações de diálogo, trocas genuínas com outras pessoas. Neste aspecto sou muito curiosa. Gosto de dialogar com pessoas muito diferentes entre si. Com graus variados de educação formal, classe social, faixa etária. Gosto do diálogo intercultural, imaginar outros mundos e formas de existência que jamais me ocorreriam não fosse pela oportunidade de conhecer pessoas que vivenciam situações distintas de meu cotidiano e trajetória de vida. Mas no campo da relação criatividade & escrita acadêmica o que me move é a curiosidade em relação a outras possibilidades epistemológicas e metodológicas. Uma fonte mais recorrente para não tanto me manter criativa mas alimentar a imaginação é a arte. Aprecio muito as artes plásticas e também a literatura. Variados estilos, vozes femininas e masculinas. Autores/as tão díspares quanto Carolina de Jesus, Federico Garcia Lorca e Jorge Luís Borges, que têm em comum a paixão pela palavra escrita, a capacidade de relatar mundos ácidos e ainda plenos de humanidade, experiências imaginadas ou vividas, e que nos impactam profundamente.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
A fase da tese é o teste de se ultrapassar o primeiro desafio complexo de autonomia. Não há quem possa contribuir muito no campo da docência, em suas múltiplas demandas e possibilidades sem esta capacidade. A tese foi para mim esta afirmação.
Escreve-se como se vive e a partir de quem somos. Não se escreve da mesma forma ao longo da vida. O grande desafio é refinar nossa forma de escrever, alcançar um estilo que seja também identidade. Em largo sentido posso dizer que tenha hoje uma escrita mais econômica. É próprio de quem se inicia na escrita acadêmica conceder espaço mais generoso a suas fontes. Acho que esta seria a grande diferença para mim e acho que seja bem recorrente esta mudança. Escrevo para expressar o que tenho refletido e sou menos deferente à escrita de terceiros.
O que diria a mim mesma? Acho que na verdade gostaria de dizer algumas coisas para um grupo de homens que tornou muito sofrida e beirando o insuportável minha fase final da tese com suas atitudes provenientes de seus lugares de poder e absoluta falta de solidariedade humana. Eu diria para eles: vocês tornaram minha vida muito difícil, mas daqui há vinte anos ainda vou estar por aqui e serei o oposto da mulher subserviente, ou mesmo derrotada, que vocês tanto almejaram, consciente ou inconscientemente eu tivesse me tornado, neste lugar de tanta opressão sexista. Fazer tese, ou ter estado no espaço acadêmico em muitos outros momentos, é também isto. Simplesmente sobreviver, ou proteger-se. Saber lutar com todas as armas disponíveis para chegar ao fim. Com integridade e portando seus mais caros valores. Porque ao longo da vida são estes que nos conduzem, que nos trazem forças e serão nossas credenciais para formar as redes acadêmicas e de afeto intelectual que afinal também buscamos.
Na tese há um outro deserto. Diferente daquele da aridez de ideias. É o longo percurso em solidão de um caminho único e irrepetível. Fazer a tese é trilhar este caminho que é também fluído e temporal. A carreira acadêmica, para amealhar os recursos da autonomia, sem o qual é mero ingresso em seitas intelectuais, não prescinde deste momento do longo percurso empreendido com nossas próprias forças. Esta foi, ao menos, minha experiência.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Há projetos em andamento que têm me deixado motivada. O livro que gostaria que existisse mas não foi escrito aborda memórias de estudantes de direito ao longo de vários períodos históricos da educação jurídica brasileira. Estudantes anônimos do início do século XX, por exemplo. Como os estudantes de direito do então Distrito Federal, na Faculdade Nacional de Direito teriam reagido à chegada de Getúlio Vargas ao poder no ano de 1930? Ao golpe civil-militar de 1964? Como nós, estudantes de direito dos anos 1980, 1990 vivemos e refletimos sobre os anos derradeiros do regime militar e nossos esforços para a transição democrática? Não seria fascinante analisarmos o atual momento das instituições jurídico-políticas pelo olhar e pelas perspectivas de quem um dia imaginou poder contribuir para a democracia e o estado democrático de direito? A formação jurídica é a mais recorrente entre aqueles/as que hoje detêm poder político, ou jurídico, na cena institucional brasileira. Acredito que de certa forma todos/as somos os estudantes que fomos um dia. Não temos muito no Brasil a tradição de journals, ou diários de nossas vidas e assim este livro jamais existirá, salvo como ficção.
Finalmente gostaria de dizer que foi instigante a possibilidade de refletir sobre minha forma de escrever. Estes textos produzidos por tantas pessoas não tratam apenas de relatos individuais, mas também refletem experiências sociais vividas por um grupo específico, com demarcações de gênero e experiências educacionais. Foi um grande aprendizado compartilhar como leitora de tantas experiências valiosas de construção textual na tessitura de vidas tão interessantes. Se o livro dos estudantes de direito na cena carioca dos anos iniciais do século XX jamais existirá, a não ser como ficção, a forma de escrever de alguns professores do início do século XXI está aí. Ao menos seus relatos sobre escrever. Que podem ser, apenas uma provocação, seu imaginário sobre como escrevem.