Lila Maia é poeta e pedagoga, autora de “As Maçãs de Antes”, “Céu Despido”, “A Idade das Águas” e “O Coração range sob as estrelas”.
Acordo cedo. E gosto de ler um poema em voz alta. Nem sempre é um poema. Pode ser um trecho de um conto, uma crônica, um livro de literatura infantojuvenil ou um romance que estou lendo. Não sigo sempre essa rotina. Mas ler para mim é fundamental. Todo meu processo criativo é sempre pela manhã. Quanto mais cedo, melhor. Isso não quer dizer que não faça um poema à noite. Mas é muito raro isso acontecer.
Escrever exige disciplina. Procuro escrever sempre, ainda que seja só uma ideia, uma imagem, uma frase que alguém disse… e rasgo muito o que escrevo.
Escrevo sempre à mão. Mesmo quando é prosa. Acho poético ter a folha branca diante dos meus olhos. Utilizo cadernos (adoro cadernos) e folhas de papel. E leio exaustivamente em voz alta o que escrevo. Preciso de silêncio. Gosto de ter livros por perto e dicionários, na hora da escrita. Se não gosto do que acabo de escrever, rasgo. Se acontece o contrário, coloco numa pasta azul. E depois de alguns dias pego de novo e leio muitas vezes em voz alta. Fazer a leitura em voz alta do que escrevo, me ajuda a perceber quando falta algo para ser acrescentado ou tirado do texto. Dá para perceber os vícios de linguagem, o que está sem sentido e não ficou claro. Só depois é que vou para o computador. Não tenho apego pelas tecnologias. Mas são importantes, necessárias. O Google em alguns momentos, salva.
A pesquisa, os livros de teoria sobre os processos da escrita são importantes. Assim como as oficinas literárias. Não que isso vai te tornar um escritor.
Escrever dá muito trabalho. Gosto de uma fala da grande Clarice Lispector, publicada no livro da Olga Borelli, Clarice Lispector esboço para um possível retrato que diz:
A gente escreve, como quem ama, ninguém sabe por que ama, a gente não sabe por que escreve.
Escrever é um ato solitário, solitário de um modo diferente de solidão. Escrevo com amor e atenção e ternura e dor e pesquisa, e queria de volta como mínimo, uma atenção e um interesse.
O que a Clarice disse é maravilhoso e para mim a escrita representa tudo isso. Escrever é um ato de responsabilidade. Uma enorme paixão. Quando escrevo um poema é como se pudesse ser salva.
Quero ressaltar que a minha escrita nasce das minhas “memórias afetivas”, do dia a dia, do meu olhar demorado, de não passar indiferente, do silêncio, das leituras, dos livros que de certa forma eu mantive um diálogo e ficaram dentro de mim de uma forma definitiva.
Percebo que ao longo dos anos fui ficando mais exigente. E tem que ser assim. A maturidade tem seus encantos e desgraças.
Se tivesse que voltar lá para o começo da minha escrita, não teria tanta pressa em publicar. Deixaria os textos dormirem na pasta azul e com certeza teria lido muito mais.
Quero publicar um livro de poemas. Venho trabalhando já alguns anos.