Letícia Mariana é escritora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu procuro ter uma rotina, mas às vezes o sofrer me vence! Passo por muitos problemas, mas luto por dias de sol n’alma. Não costumo ter horário para acordar, mas sempre que acordo, seja na casa da minha mãe ou na do meu noivo, preciso sentir um resquício de carinho e afeto. Nem sempre tais demonstrações me são suficientes, então eu gosto de colocar uma roupa, uma maquiagem bem sutil, ler alguns poemas de Drummond e, claro, comer alguma coisa. Gosto muito de café, cápsulas de café e/ou café com leite, bem quentinho, assim aqueço a minh’alma. Fora isso, adoro frutas, mas nem sempre compramos. Outra coisa que gosto bastante é suco natural e chá gelado. Quando termino de saciar as minhas vontades humanas, preciso estudar ou, de fato, escrever. Estudar é sair para uma dimensão mais bonita e repleta de possibilidades, escrever é entrar na minha dimensão e encontrar o que sou. Nerd? Muito, apesar do atraso nos estudos, isso foi inevitável, mas a vida está sempre ao meu lado, e os anjos me guiam, assim conseguirei realizar os sonhos que tentam me roubar, isto no sentido poético, claro, pois não me falta o pão de cada dia. Acordar? É complicado. A pergunta já começou bem íntima! (risos). Eu também vendo e divulgo bastante o meu livro, Entre Barbantes, então meu dia começa olhando para ele, e feliz por tê-lo, e minhas manhãs ou tardes são para, constantemente, fazê-lo circular pelo Brasil. Também sou Acadêmica da Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil (ACILBRAS), sendo assim, mesmo aos vinte anos, eu confesso que me tornei a senhorita do “bom dia!” nas mensagens e redes sociais, e não me incomodo, pelo contrário! E além de meras mensagens, preciso cumprir com as minhas obrigações como Acadêmica. Voltando a falar da rotina de escrita, gosto de transformar os meus sonhos, pesadelos e intuições em textos, poemas, acrósticos, futuros livros e afins, até a lista de compras se torna poética em minhas mãos!
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho melhor assim que abro meus olhos! O passarinho me contou que, se meus olhos se fechassem por completo e meu coração parasse, mesmo assim eu continuaria a escrever. Posso explicar melhor? Escrevo pelas manhãs, tardes, noites, madrugadas, acho que me fiz entender. Sobre o ritual, claro que tenho! Adoro rascunhar, e cada estilo literário pede um tipo de rascunho. O papel me é companheiro, e antes da pandemia, gostava de levar meu caderno aos restaurantes, cafeterias, praças e até praias! Como eu evito sair nestes tempos, escrevo em casa, mesmo. Pego uma caneta azul, comum, e faço toda uma preparação para ter inspiração. Eu não tenho a inspiração, e digo isso com muita propriedade! Eu busco-a, compreendem? Observo os móveis, faço uns rabiscos, leio bastante, assisto um pouco da minha novela brasileira favorita, canto desafinado, ando pela casa, e assim consigo escrever até que a minha mão doa e que a caneta falhe! Depois disso, passo para o Word, não necessariamente no mesmo dia. Às vezes eu estou tão agitada que escrevo direto no computador, mas perde a emoção e nem sempre sai como eu espero, e preciso revisar umas dez vezes, literalmente. Sou muito perfeccionista! Isso me mata lentamente, mas me salva de meu ser.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Olha, difícil responder, pois a minha rotina muda de acordo com as circunstâncias. Hoje sou Colunista do Jornal Cultural ROL e colaboradora do Portal de Notícias Oeste Paulista, então escrevo bem mais do que antes! Gosto de ter Colunas para o ROL toda semana, apesar de nem sempre conseguir cumprir este prazo e tudo bem, pois nós temos uma abertura muito aconchegante lá. O nosso editor, Sergio Diniz, sempre nos divulga muito, escolhe as melhores imagens para ilustrar e, além disso, nos enriquece com seu invejável vocabulário! É uma pessoa admirável, e faço questão de homenageá-la aqui. Era um sonho de menina ser Colunista, é estranho dizer isso, afinal, muitos me consideram uma menina até agora, talvez eu seja, mesmo. Quando eu tinha oito anos, isto em 2008, publicava poemas no extinto jornal O Globinho, e foi assim que não parei de dizer aos adultos que seria escritora. A minha brincadeira favorita era escrever livros, aproveitava e criava as capas, contracapas, ilustrações, e diria que até hoje é a minha brincadeira favorita, pois eu brinco com meus dizeres a todo instante! Sobre o Portal, é uma responsabilidade, pois também há as pautas, matérias jornalísticas que exigem pesquisa. Eu amo o desafio, e sou a desafiadora do viver. Também deixo aqui os meus sinceros agradecimentos ao Alessandro Belcorso, pessoa que me trouxe uma experiência única! Voltando ao que dizia, escrevo muito todos os dias, mas às vezes passo dias sem escrever devido ao sofrimento, e preciso cumprir a única meta de escrita que tenho: escrever. Explicando melhor: eu escrevo! E se passo dias sem escrever algum livro por incompetências sentimentais, preciso me castigar na palavra, e faço isso como? Escrevendo. Escrever livros é escancarar a alma, enquanto escrever Colunas é despejá-la numa bandeja aos leões da mídia! A única diferença é que tais mídias exigem responsabilidade, já meus livros podem esperar uns dois ou três dias, ninguém morre por isso, é melhor do que virar a madrugada para me entregar ao pranto, coisa que meu noivo não me permite, fazendo cafuné até que eu durma e sonhe com campos floridos. O importante é não desistir, não acham? Chorar é humanidade. Outra coisa que faço muito é escrever para Coletâneas, Antologias e até para outros autores! Por exemplo, ontem fui convidada para escrever uma contracapa. Isso tudo exige muita responsabilidade, e não dá para escrever sem uma espécie de meta.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O meu processo de escrita é complicado! Eu sinto dores no peito quando finalizo, seja algo alegre ou de dor. Agora vamos ao técnico, começar não é difícil, difícil mesmo é terminar, pois sinto vontade de guardar para mim, por isso muitos dos meus escritos não são publicados e ficam guardadinhos, às vezes no caderno, às vezes no computador. Pesquisar para escrever é algo simples, basta ler muito. Quando algo vai além dos livros, procuro fontes sérias na internet, notícias e até o dicionário, mas seria estranho dizer que eu amo ler dicionários impressos? Hoje, por exemplo, estou relendo Um sopro de vida, de Lispector, lendo Senhora, de José de Alencar, também estou lendo a obra Quarentena – Memórias de um País Confinado, Antologia onde participo com uma prosa e, por ser um livro grande e histórico, gosto de ler devagar. Estou louca para terminar de reler Lispector, assim consigo reler Lispector novamente, mas dessa vez Água Viva. Alguns livros não são mastigados, mas sim degustados, e só lendo nós conseguimos escrever minimamente para, então, alcançar a perfeição. Oras, não mudaria nada em meu primeiro livro, pois treinei muito para que ele fosse o que é, mas quero escrever sempre cada vez melhor! Tenho sonho de pesquisar numa viagem, assim as paisagens dirão o que devo escrever, talvez seja uma pesquisa agradável. Eu me movo porque existo, então escrevo, acho que já respondi razoavelmente. Às vezes nem eu entendo como escrevo tanto! (risos).
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Terapia! Eu faço sessão de terapia, e só isso me auxilia cem por cento. Fora isso, me entrego ao amor que sinto pelo meu noivo, e só no amor consigo enxergar motivos para prosseguir em meus sonhos. Ele me acorda com beijos toda manhã, isso quando eu não acordo sozinha, recebo um elogio pela profissão e ele me diz, docemente: “minha escritorinha!”. A procrastinação é um problema insignificante, pois eu sei lidar muito bem com isso. Mesmo quando não quero escrever, penso como e o que escreverei quando tal desejo aparecer. Ansiedade se cura, e aqui com meu amado eu consigo curar muito mais, pois há calmaria, vida e o tempo é do amor incondicional. É muita submissão dizer que o pedido de noivado me deixou mais feliz do que o lançamento do meu primeiro livro? Talvez seja, mas pouco me importa o que acham de mim, isso responde à pergunta das expectativas. Eu sou uma mulher forte, determinada e já provei isso para muita gente pequena! Fui desacreditada por pessoas que deveriam me admirar, pois o sangue pede e a amizade suplica, se é que fui clara. Estou acostumada a fazer muito por todos e receber ingratidão, mas isso apenas me fortalece! Amar é a resposta, por isso escrevo. Amar meu noivo, amar minha família, amar quem não me ama, amar quem me odeia, agora só falta, de fato, me amar em primeiro lugar. E eu ainda chego lá! Estou acostumada com haters, e eles costumam ser piores do que o óbvio determina. Contrapartida, recebo elogios tão belos que minhas lágrimas são insuficientes!
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Ah, essa é a velha questão do perfeccionismo! Posso durar um ano, literalmente, revisando um capítulo do meu livro. Agora, sobre as Colunas, aí é na fé! (risos). Não mostro para ninguém, confio em mim e até hoje não me decepcionei com meu profissionalismo. Apenas a Editora vê, isso me basta!
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Ambos! Como eu disse, sou complicada, e me encontro na peculiaridade. Meus primeiros rascunhos são à mão, mas creio que não devamos excluir a tecnologia e sim utilizá-la da melhor maneira! Gosto muito de guardar meus arquivos na nuvem, por exemplo. Meu sonho de consumo é comprar um HD externo com meu dinheiro, sem precisar pedir para a mamãe. E sei que conseguirei, por isso não peço! (risos). Eu sou muito conectada, até por isso o Congresso Universal de Escritores, sede em Lima, Peru, aceitou o meu currículo como escritora, e entrando no site oficial há uma página inteira dedicada a mim.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm d’alma! Do coração, seja repleto de esperança em dias melhores ou, talvez, amargurado pela vida. Gostava muito de escrever ao ar livre, mas isso está fora de cogitação no momento! Há um vídeo em meu canal no Youtube, Intelectodrama, mostrando a minha rotina de escrita. Gosto de deixar tudo organizado para escrever. Aqui na casa do meu noivo, por ser outra cidade, meus hábitos mudam um pouco. É uma vila, então eu posso escrever perto do jardim, ou talvez nem sair de casa e observar os pássaros na área, aliás, aqui é uma casa de amor, pois um casal de pássaros fez filhotes! Gosto de tomar o café coado feito pela minha sogra, diria que é melhor do que o de muitas cafeterias. Também tomo café com leite, leite bem quentinho no copo de plástico, gostinho de família! Meu noivo lava a louça comigo, ele passa o detergente e eu enxáguo. Mas quando rascunho as minhas ideias, geralmente demoramos para lavar, pois gosto de degustar o lanchinho. Lá na casa da minha mãe, um apartamento, geralmente eu tomo cápsula de café ou café da cafeteira, preparo sozinha e, quando é de canela, faço para a minha mãe, também, e levo o lanche para ela, depois preciso lavar as louças, e às vezes é tanta coisa ao mesmo tempo que me perco! Aproveito para escrever e às vezes só consigo lavar a louça acumulada de noite. A escrita me acalma, e lanches também, inclusive lanches saudáveis! Impossível falar sobre hábitos criativos sem citar uma boa mesa posta!
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Só mudei para melhor! A única diferença é que estou consideravelmente mais confiante, chorando menos por conta de comentários desnecessários. Eu diria que sou maravilhosa e muito competente, e que só preciso ler cada vez mais, me cercar de bons contatos e levantar a cabeça! Letícia Mariana, nem sempre sua vida será perfeita, sua família também não é perfeita, mas é a que precisa do seu auxílio. Outra coisa muito importante que eu diria é: o bullying tem fim, e você mostrará que será alguém além daquela nerd estranha, repleta de espinhas, que chora escondida no banheiro. Aliás, pare de chorar!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de dominar o mundo, mas como não posso (risos), quero escrever mais de 40 livros durante a minha vida, aprender a tocar piano, aprender inglês, espanhol e francês fluentes, visitar todos os museus daqui e do mundo, tomar todos os tipos de café do mundo, viajar até o Peru para conhecer os meus amigos do Congresso, ter dinheiro para visitar a ACILBRAS sempre que quiser e, ah, vocês acham mesmo que eu vou dizer qual livro eu gostaria de ler e não existe? Oras, prefiro escrevê-lo, aí vocês o leem! (risos).