Leonardo Brasiliense é escritor e roteirista, autor de Roupas Sujas.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia começa no primeiro gole de café. Nem me lembro do que acontece antes disso.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu escrevo no começo da manhã, depois das leituras de ficção e dos estudos (desde 2010, estudos de roteiro de cinema) e antes de sair para o day job.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
A menos que haja alguma encomenda, não tenho meta de prazo. Mas não me amarro: quando estou envolvido em um projeto (e sempre estou), trabalho todos os dias, de segunda a segunda, no mesmo horário. No resto do dia não tenho como trabalhar com escrita porque, de segunda a sexta, tenho o day job, e aos sábados e domingos, as crianças.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Só começo a redação depois de todo o projeto pronto, o que significa ter a trama principal e as secundárias bem definidas (do início ao fim), a caracterização dos personagens bastante consolidada, as pesquisas de ambientação e de costumes satisfatórias (tudo isso devidamente registrado) e uma escaleta (em Excel) dos episódios pronta. Para dar um exemplo, meu próximo livro está com o projeto acabado, foram dois anos de trabalho, e a escrita estimo que demore entre um ano e um ano e meio.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Certa vez fiquei dois anos inteiros sem escrever nem trabalhar com nada de literatura. Eu estava com o projeto do meu romance mais recente acabado (até com a escaleta de episódios) e comprei uma câmera fotográfica… Passei dois anos fotografando, cheguei a pensar que nunca mais voltaria a escrever, sequer para executar o romance projetado, mas sem nenhuma angústia a respeito disso: sentia que, escrevendo ou fotografando, minha necessidade de expressão estava suprida. Então de repente as ideias para projetos fotográficos arrefeceram e a vontade de escrever retornou. O que eu quero dizer com isso é que a gente é escritor enquanto tem o que escrever (e vontade para isso); se “travar” é porque não há o que escrever, e daí talvez seja a hora de fazer outras coisas, sem drama.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Ao acabar o texto faço uma revisão imediata, na qual analiso a simetria e proporcionalidade das partes, a coerência comportamental e linguística dos personagens, a necessidade de complementar ou de fazer cortes conforme o quanto eu disse a mais ou a menos que o necessário para construir certos efeitos e entendimentos etc. Depois dessa revisão, envio o texto para um grupo de pessoas de confiança. O que significa uma pessoa “de confiança” nesse contexto? É alguém capaz de me dizer “joga tudo no lixo” se for preciso ou, se não for, pelo menos me dizer onde o texto precisa ser melhorado. Esse grupo tem um “núcleo duro” e uma parte variável de acordo com a natureza do projeto (alguém que entenda da ambientação ou de algum aspecto cultural da trama, como alguma profissão ou costume em evidência nela). Enquanto essas pessoas todas leem o texto, estou começando a trabalhar no próximo projeto ou simplesmente tiro férias da literatura. Quando todas elas me devolverem o texto com suas anotações, faço um novo tratamento a partir delas. Então vem uma última revisão (minha, claro) e a inevitável batalha por editora.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Comecei a escrever em 1994 numa máquina Olivetti antiga do meu pai. Mas desde 1996, quando comprei o primeiro, só escrevo em computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Não tenho controle sobre isso. Já tive inspirações em conversas com pessoas, em notícias de jornal, em sentimentos meus, em sentimentos de outrem… O legal é que, antes de acabar um trabalho, já começa a surgir o próximo (por enquanto).
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A principal mudança é que os projetos hoje são menos detalhados, mais objetivos. No meu segundo livro de contos, Desatino (Editora Sulina, 2002), por exemplo, o texto do projeto era maior do que veio a ser o texto final do livro. Se eu pudesse voltar no tempo, evitaria me encontrar, porque se lá atrás eu soubesse o que sei hoje, hoje eu seria outra pessoa… #medo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho uma pasta de ideias para futuros projetos. Algumas delas talvez nunca se desenvolvam, outras podem ser os futuros livros. Não jogo ideias fora, não num primeiro momento. Quanto ao livro que gostaria de ler, prefiro que a arte me surpreenda.