Leonardo Brasiliense é escritor e roteirista, autor de “Roupas Sujas”.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Costumo trabalhar com um projeto de cada vez. O máximo que acontece de concomitância é eu estar já na fase de redação de um e me deparar com a ideia do próximo. Nesse caso, faço algumas anotações, pequenas pesquisas, nada muito profundo. Quanto à semana, no trabalho literário ela simplesmente não existe; todos os dias são iguais, sejam sábados, domingos, feriados, férias; é a rotina de acordar cedo, fazer o café preto, ler ficção e depois rumar para o trabalho literário, o que não passa de uma hora por dia, porque depois vem o trabalho civil, que paga as contas, ou, aos finais de semana e férias, a paternidade.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Planejo tudo antes, desde a estrutura geral até o conteúdo dos episódios e a ordem dos mesmos (o que mais tarde, na redação, pode mudar), só começo a escrever com tudo pronto. Mesmo assim há muito espaço para “fluir”. Escrever a primeira e a última frase é fácil, o mais difícil é o miolo do texto, para mim.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Sim, rotina de horário (o primeiro da manhã, que costuma ser bem cedo, entre 5h e 6h, conforme a hora em que consegui dormir na noite anterior) e, se possível, de ambiente (na minha casa, sempre no meu escritório), porque nada me impede de escrever em hotéis. Silêncio e solidão são imprescindíveis.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
Quando acontece, tento identificar a razão e enfrentá-la. Pode ser algo que tenha a ver com o projeto, algo que tenha a ver com o texto ou algo que tenha a ver com a vida. Se o problema for na vida, preciso descobrir antes se ele tem solução e, tendo, se ela depende de mim; se a resposta para ambas as perguntas for “não”, está resolvido.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Meu livro mais trabalhoso foi o Des(a)tino, meu segundo livro de contos, publicado pela Editora Sulina em 2002. Os contos têm uma estrutura de banda de Möbius (chama o Google), influência dos meus estudos de Psicanálise. Já o livro do qual mais me orgulho… Acho que o mais recente, sempre… Ou seria o próximo?
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
As novas ideias vêm ao acaso, lendo uma notícia, me deparando com uma cena, ouvindo uma história na rua (ou em casa). E o critério para levá-las adiante é justamente o tema: tem que me incomodar. Então talvez os temas já estejam todos aqui dentro subterraneamente e precisem de um link com o mundo externo para se manifestarem. Leitor ideal? Pois é, a arte sem comunicabilidade não precisa sair do ateliê do artista. Não penso num leitor ideal, mas em adequar o texto para que seja compreendido suficientemente (plenamente nunca será nem por mim) por um leitor burro demais e não seja entediante para um leitor inteligente demais (tomando esses adjetivos como alegorias, claro, apenas para me fazer entender aqui).
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Mostro assim que o texto fica “pronto”. Que o primeiro tratamento fica pronto, melhor dizendo. Sempre uma meia dúzia de pessoas, alguns fixos, outros, variáveis, de acordo com o tema. Pessoas de confiança, que me dirão o que está ruim, ou se tudo está ruim, sem piedade. Depois recolho as impressões e sugestões e faço o segundo tratamento. Geralmente há um terceiro tratamento após um período sem olhar para o texto, e só então mando para a editora.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Comecei a escrever numa noite fria e solitária do inverno de 1994. O vento uivava nas frestas das janelas e os morcegos acasalavam sob o telhado… Mas naquela noite concluí que eu não tinha como ser escritor: a história que pensei em contar saiu completa mas muito curta. Decidi me dedicar à escrita quando, no dia seguinte, li o Contos Plausíveis, do Drummond, que um amigo me emprestou para me convencer que aquele tipo de texto curto tinha algum lugar ao sol. Quatro anos depois, quando meu primo (e mestre) Luiz Antonio de Assis Brasil leu os originais do meu primeiro livro, fiquei sabendo que aquilo tinha um nome, “miniconto”. O que eu gostaria de ter ouvido no início e que só aprendi depois é que facilita para o leitor quando o texto tem menos personagens (embora não seja uma regra, como tudo na arte).
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Às vezes alguém me aponta características nos meus textos que indicam que tenho um estilo e isso me irrita porque me sinto repetitivo. Então, aparentemente, não por escolha, tenho um estilo. Se próprio ou emprestado, não sei. Influências? Pedro Almodóvar, Kieslowski, Pink Floyd, Philip Glass, eu acho. Depois descobri os Los Hermanos e cheguei a reescrever um livro inteiro. Mais recentemente, Radiohead.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Depende da pessoa. Se tiver um gosto parecido com o meu, toda a obra do Bukowski.