Leonardo Aldrovandi é escritor e compositor.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Procuro deixar as manhãs livres para escrever. Tenho pelo menos dois ou três projetos acontecendo ao mesmo tempo, uma coisa areja a outra. Há dias mais voltados para teoria e dias mais voltados para criação, seja musical ou literária.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
O mais difícil é escrever a primeira frase. É o dilema da página em branco, não por estar vazia, mas, como diz Deleuze, por estar lotada de clichês. Em geral, parto de uma ideia geral que vai se moldando com o tempo. Cada dia gera um pouco de material a mais e assim o corpo do trabalho vai se formando. Passo mais tempo relendo e reconfigurando do que escrevendo material novo.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Rotina não, mas algum foco persistente é necessário. É comum começar alguma coisa e interromper o processo. A perseverança é amiga da criação.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
A minha forma de lidar com bloqueio é mostrar o que fiz para pelo menos um amigo. Ele lê e te dá um retorno. Por mínimo que seja, isso me ajuda a continuar.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
O livro que me deu mais trabalho se chama Música e Mimese, publicado pela Editora Perspectiva. O livro que me deu orgulho no passado é Da lua não vejo minha casa, que recebeu um prêmio Jabuti de poesia.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
Por meio de algo como uma intuição aprofundada. Em geral uma ideia bem simples vai se tornando mais complexa com o tempo. Não mantenho nenhuma leitor ideal em mente ao escrever, mas mantenho algum senso de ideia e forma.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Quando já tenho pelo menos um sexto do que pretendo fazer. No caso global, as primeiras trinta páginas. Mas isso varia de projeto a projeto. Neste segundo romance que acabo de terminar, só mostrei para um amigo ao final, quando ainda tinha algumas pontas soltas e estava bloqueado.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Não houve um momento, desde a adolescência fazia meus ensaios com poesia. Depois de bastante pesquisa acadêmica, a escrita foi se tornando uma forma importante de produção. Quando decidi publicar do meu bolso o primeiro livro de poesia, isso foi bem importante para iniciar todo um processo de querer publicar livros como se fossem filhotes.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Sempre confio no poder do ensaio e na poeticidade para poder ter alguma singularidade na escrita. Isso vem daquilo que digerimos e na forma como digerimos. São vários os autores que me afetam, mas alguns se destacam, como Michel Serres, Jean-Luc Nancy, Dante, Balzac e James Joyce.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Os cinco sentidos, do Michel Serres.