Leblon Carter é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente, acordo com o despertador tocando as 09:50 da manhã. Preciso estar no meu emprego casual ao 12:00. Sem dúvidas, o momento em que mais tenho tempo livre no meu dia é quando estou no metrô e no ônibus. Gasto cerca de 3hs por dia no transporte público. Quando algum projeto está muito atrasado, reservo esse tempo para escrever. Não costumo escrever pelo celular, pois acho mais exaustivo do que pelo notebook. Atualmente, uso esse tempo livre para divulgação das minhas obras, fechar parcerias e traçar novos rumos para a minha carreira literária.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sem dúvidas no período da noite – madrugada. É quando o mundo inteiro está em silêncio e você consegue ouvir melhor seus próprios sentimentos e pensamentos. Claro, se não estiver escutando música no volume máximo para se inspirar. Meus livros, meu diário e tudo relacionado a escrever vem desse período do dia. Talvez o único ritual que eu sempre reserve para mim mesmo antes de escrever é organizar exatamente o que eu preciso fazer. Até aonde preciso levar a história e o ponto em que preciso parar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Com a minha rotina, de manter um emprego casual, se torna quase que impossível escrever diariamente. Prefiro deixar esses momentos mais graciosos para o meu dia de folga. Até porque escrever para mim é mais do que um mero esporte ou atividade extracurricular, e sim um trabalho. Portanto não posso pecar em nenhuma parte desse processo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Antes de começar a escrever “O Alquimista Prodígio e a Espada de Cobre”, eu coletei informações cerca de 5 meses antes. Precisava ter tudo organizado para que quando o universo em si começasse a ser montado nada estivesse fora da cronologia ou com furos de roteiro. Por se tratar de um livro de fantasia, foi necessário muito estudo e coordenação antes de iniciar o processo. Já o “Quando as Luzes se Apagam”, romance LGBTQ baseado na minha experiência trabalhando em um cinema, foi muito mais utilizado da minha escrita do que na organização em si, já que boa parte da história já estava presa em minha mente. Apenas precisei libertá-las. Contudo, começos sempre foram a parte mais difícil de se lidar.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
O grande erro dos escritores brasileiros no cenário literário atual é achar que pelo simples fato de você escrever obras já te torna um escritor. Mas o trabalho vai muito além disso. Você precisa divulgar, criar networking, pesquisar tendências, novas histórias, escrever, inovar. E é muito difícil você encontrar alguém que consiga fazer isso tudo sozinho hoje em dia. Muitos tem apoio das editoras, mas nem mesmo elas possuem força suficiente para mover o mercado editorial sozinhas. E esse sempre foi o diferencial que eu procurei na minha carreira. Faço tudo basicamente sozinho. Contratei capista, revisor, contratei empresa de marketing para a divulgação do meu instagram. Eu não foco apenas na história e nos livros. Querendo ou não, eles são produtos. Precisam ser vistos e vendidos. E isso não se faz sozinho. E muitas vezes eu travei para escrever. Longos meses antes de terminar uma história ou continuar. Mas não por desleixo ou preguiça, e sim por estar atarefado com as demais coisas para conseguir focar apenas na história. E, mesmo que eu não consiga alcançar todas as minhas expectativas, principalmente com o APEC, que foi publicado 4 anos depois de ter sido finalizado, eu me esforço ao máximo para concluir os meus objetivos aos poucos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu escrevo e faço uma revisão base logo em seguida. Depois reviso mais uma vez quando a obra está pronta e MAIS uma vez antes de publicar em qualquer lugar. Por ser muito crítico e cético tento ao máximo corrigir os erros que meus pequenos olhos mortais conseguem encontrar. Já que nunca possui leitores betas ou amigos para revisarem qualquer texto meu após finalizados.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A tecnologia é a minha melhor amiga. Todos os meus textos, contos, livros e qualquer outra palavra escrita por mim vem de meios tecnológicos. Seja meu celular ou notebook. Não sou muito fã de escrever à mão pois acredito que não consigo acompanhar meus pensamentos tão rápido quanto por teclados físicos ou virtuais.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Eu gosto muito de videogames. Geralmente são dai que vem minhas maiores inspirações e ideias. Incluindo o APEC, que surgiu de um jogo emprestado de um amigo. Séries e filmes também me ajudam bastante. Principalmente os de ficção cientifica. Mas, de fato, são os jogos que me guiam nos mundos fictícios que eu crio. Quando não possuo tempo para jogar, sempre vejo vídeos no youtube de gamers ou streamers.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu cresci muito com o tempo. Evolui de formas inimagináveis. Não apenas na narração e nos diálogos, mas no desenvolvimento da história e do universo. Minha mente foi se abrindo as possíveis novas oportunidades que foram surgindo. E, mesmo não podendo me aprimorar escrevendo todos os dias, me esforço ao máximo para estar por dentro do universo da literatura e dos livros.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Escrever 5 contos LGBTQ que se interligam através de um mesmo universo. Já tenho um pronto e o segundo está na metade. Procuro tempo para finaliza-lo e escrever os outros três. E, um livro que eu gostaria de ler e não existe, ou pelo menos não encontrei, é sobre um romance gay em que os protagonistas não sejam brancos, padronizados, heteronormativos e nem previsíveis. Ou seja, o mesmo do mesmo. Porém, como não encontrei o que procurava, resolvi criar ele eu mesmo. Daí surgiu a ideia do QALSA.