Lays Caminha é escritora, autora de “Enquanto Houver Estrelas” e “O Sabor de Elisa”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Normalmente eu acordo cedo, tomo café e cuido dos afazeres domésticos, pois só trabalho na parte da tarde. Tento manter essa rotina até nos fins de semana. Funciono melhor, a não ser quando sinto que preciso de um tempo de ócio, aí meus horários ficam uma bagunça. Bagunça boa é sempre bem recebida!
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho sempre na parte da tarde e sigo até umas 20h. Depois de organizar minhas coisas em casa eu tomo banho, faço um café, ligo minha playlist de escrita e começo. Geralmente eu separo minhas pastas de música por livro ou quando estou escrevendo outras coisas eu uso uma específica para textos (Estão abertas no SPOTIFY, caso alguém queira saber quais são as trilhas dos meus livros). Sou movida à música, não tem jeito. Música e café, é bom destacar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu escrevo todos os dias, mesmo que não seja o capítulo em si. Trabalho com divulgação em redes sociais, então escrevo posts como em um blog, o que acaba sendo bom, pois me obrigo a ser menos direta do que a maioria das publicações nesse tipo de mídia. Quanto aos meus livros, procuro pensar na escrita todos os dias, e faço anotações. Se durante um momento do dia vier o desfecho para tal cena, é bom estar preparada para o desenrolar da trama. Mas acredito que escrever seja hábito, então é muito importante ter essa disciplina. Escreva uma linha, um parágrafo ou um capítulo. Apenas escreva e leia muito. Esse arroz e feijão literário é a liga perfeita para qualquer escritor.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Acho mais fácil começar que terminar. Eu geralmente penso como gostaria de ler tal cena. Meu texto tem minha percepção como leitora então facilita tudo. Eu me prendo à algum texto a partir do que encontro nas primeiras linhas, portanto minha escrita segue esse modelo: fisgar pelo início. Em relação à pesquisa eu prefiro deixar a trama me mover. Pego apenas detalhes superficiais para o início, como um investigador em um caso policial. Ele tem poucos elementos para construir sua história, e eu também. Deixo as personagens se mostrarem e vou compondo suas vidas a partir do que apresentam. Caso precise de mais elementos vou pesquisando e inserindo. Quando começo uma história não sou muito racional ou me prendo a marcas de inicio meio e fim. Já mudei o final de um livro algumas vezes.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Nossa. Tenho fases bem punks. Travar eu não travo mais, desde um professor me ensinou a dica da vida. Imagine em um jogo de videogame, você entra em uma rua sem saída, mas precisa tirar seu personagem de lá. Você faz como? Faz a volta até o ponto antes de entrar naquele beco e segue por outra direção. Nunca mais travei. A ansiedade sim é um problema. Essa coisa que nos persegue gritando: Você tem que ser recorde de vendas no primeiro mês ou primeiro livro! Tento manter a calma e ficar falando a mim mesma que escrita é aprendizado, então prefiro lidar assim e me cobrar menos. A cada texto publicado, a cada livro eu me supero. Quanto ao resto, tudo tem sua hora para acontecer. Acho que assim consigo lidar com a ansiedade sem surtar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depois de encontrar erros grotescos em meu primeiro livro, mesmo após revisão profissional, eu procuro revisar umas dez vezes! Mas não modifico muito a história, porque se deixar você fica acrescentando e retirando coisas até o fim da vida. Gosto de mostrar aos amigos mais chegados e alguns escritores conhecidos que possuem a mesma linha que eu.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sou totalmente conectada! Utilizo o computador, pois me facilita durante pesquisas e tenho minha música à mão para ajudar na composição. Fora isso a revisão é mais rápida, assim não perco muito tempo em digitar e acertar a gramática. Faço de uma vez.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias aparecem em momentos bem diferentes. Ouvindo músicas, as vezes sonho ou quando estou vendo filmes. Eu anoto a ideia e uso posteriormente, criando personagens que comporiam aquela trama e possíveis desfechos, lembrando que posso modificar o final a qualquer momento. Minha criatividade é alimentada pelos livros, filmes e músicas. Ler principalmente, se tornou além de um prazer, uma ferramenta de trabalho, pois analiso a escrita e composições de cena para aprimorar minha técnica.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que mudou foi o meu foco. Eu comecei a escrever muito nova, para colocar pra fora tantos sentimentos confusos. Depois, na adolescência, criava para desabafar ou para mostrar o amor em meus versos. Sempre fui uma romântica incorrigível. Na fase adulta, após me formar em letras, comecei a escrever com intuito de vender um produto, e acho que esse foi meu erro. Percebi ao longo do tempo que o dinheiro é consequência do seu trabalho, assim como a fama. O prazer em escrever tem que ser o objetivo. A pergunta que me faço sempre é: Você faria isso de graça pelo resto da vida? Sim, faria. Se pudesse voltar atrás diria a mim mesma para não mudar o objetivo: levar o meu amor pelas letras a outras pessoas. O resto vem a seu tempo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de fazer parceria com alguns escritores. Acho desafiador escrever em conjunto. Comecei um projeto com Bruna Santos (autora de O Despertar Da Rainha), mas por conta de meus horários confusos, demos um tempo. Não faço ideia do que gostaria de ler em especial. Gosto das surpresas ao longo do livro, como a autora Colleen Hoover sempre faz. Odeio saber o passo a passo que o personagem vai trilhar ou por qual caminho a história vai seguir. O bom é ser surpreendido. Gostaria de ler algo inacreditável! Que tirasse meu ar!