Laura Rangel é escritora, autora de Bonecas Russas (2015).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sim, tenho. Começo meu dia por um imprescindível café, e já com um caderno e caneta ao lado. Gosto deste momento quando os sonhos ainda estão fluindo em minha cabeça.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Em geral pela manhã e depois retomo à tarde, depois de todas as tarefas que me cabem dentro de casa. Passeio com meus cachorros, encaminho o almoço, vou às panelas também. A mulher, mesmo sem ser só do lar, sempre assume as tarefas domésticas. Prática que incorporamos, dá prazer, mas também tira muito tempo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo um pouco todo dia, mas quando os prazos se aproximam preciso de longos períodos concentrada.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Escrevo poemas, textos poéticos e narrativos curtos, ainda não publicados.
A minha pesquisa são minhas impressões do dia a dia e também um cavoucar em minhas memórias. E é assim que tenho encontrado elementos para meus textos narrativos.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Pois é, as travas são um problema. Parece que às vezes eu me disperso em outras tarefas, as terríveis “do lar”. Como mulher e, isso nos difere dos homens, com um grande prejuízo. Perdemos, ou melhor, dispendemos muito tempo em compromissos da família ou do dito “lar”.
Esta tem sido minha pior tranqueira. Também ocupo tempo lendo muito e promovendo os encontros da Roda de leituras, uma atividade que desenvolvo em Porto Alegre há quase seis anos. Este trabalho, que promove escritores daqui com a leitura de suas obras, vem sendo uma grande porta para conviver com a literatura quase que diariamente.
Envolvo-me muito com este projeto que criei, ele é uma fonte de conhecimento e inspiração na área. Além do que relatei, a procrastinação é um problema. Como confio no meu taco, já que sou muito rápida em “resolver problemas”, deixo muitas tarefas para última hora.
Atualmente, estou terminando um novo livro de poemas, transcrevendo-os dos famosos cadernos onde escrevo à mão. Tarefa árdua, mas ainda pretendo publicá-los neste ano.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Sim, é fundamental mostrar para outra pessoa, gabaritada para tal. Sou muito exigente comigo e com o outro. Estou aprendendo a revisar e revisar muitas vezes, além de ser uma necessidade, é assim que muitas vezes eu reescrevo tudo. Esta é a tarefa dos viciados nas letras, parece-me.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Já tive momentos de ir direto ao computador, uso razoavelmente a tecnologia. Porém é com o lápis e a caneta em cadernos que vou escrevendo no dia-a-dia. Achava este método muito arcaico, até que escutei um vídeo de um escritor que falou sobre os “cadernos” dos escritores, não como um anacronismo, mas como uma necessidade. E este é o meu jeito.
Quando reescrevo também corrijo muito e também reescrevo sempre depois de lê-los novamente.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As leituras dos grandes e dos novos escritores, sempre. Considero que sem ler não construímos o escritor. Eu sempre fui uma leitora. Na minha infância e adolescência as autoras foram Condessa de Seguir, Monteiro Lobato. Tínhamos poucos escritores que se dedicavam a textos juvenis. Meu pai tinha uma vasta biblioteca e com 12 anos eu ia lá e “roubava” livros. Assim fui lendo os clássicos. Stephen Zweig foi meu grande preferido aos doze anos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Eu diria: “Como você aprendeu a escrever o literário!” Como sempre escrevi em agendas e cadernos, quando as abro percebo uma grande diferença. Fiz algumas oficinas de escrita, não muitas, mas que burilaram meus escritos.
Lembro que quando comecei a me reencontrar com a literatura em 2006, li muita literatura brasileira e iniciei-me como escritora. Fiz um álbum com recortes e escritas, tipo colagens. Ainda o tenho. Isso ocorreu há uns dez anos, o meu retorno às letras, já que trabalhava na área da psicopedagogia. Escrevia muito, porém, textos científicos da área. Fui percebendo uma grande diferença entre esses textos científicos e os literários.
Acho que somente Freud pode com maestria escrever seus estudos de caso e a própria teoria de forma tão literária, tanto é que recebeu um prêmio literário em sua época.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Meu novo projeto é lançar um livro de memórias.
Para ler algo novo, seria um livro bem pós-moderno, quem sabe, totalmente fora de todos os cânones. (risos)