Lajosy Silva é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo entre às 7:00 às 9:00 da manhã. Tomo café da manhã. Ultimamente tenho criado uma rotina matinal, mas antes não tinha.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
É muito raro escrever bem cedo, na parte da manhã. Eu geralmente gosto de escrever à noite, por causa do silêncio. Posso escrever durante a tarde, quando o ambiente estiver bem tranquilo e calmo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não consigo escrever todos os dias. Eu realmente preciso estar inspirado para escrever. Isso pode variar… duas ou três vezes mês. Quando estou muito inspirado, chego a escrever mais de 4 páginas em um dia, enquanto posso ficar duas semanas ou mais, sem ter inspiração para escrever.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não trabalho com notas. Trabalho com uma ideia que vou trabalhando aos poucos, com primeiros parágrafos. A narrativa vai se desenvolvendo a partir dessa ideia central como algo banal, a chegada de dois irmãos pernambucanos no interior paulista (O Sexo do Pêssego, 2006), assim como o sequestro de uma criança e a ligação as personagens (Lêda e o Cisne, 2007), o conflito entre duas primas às voltas com a ditadura (Confissão, 2008), uma releitura LGBT de Orgulho e Preconceito de Jane Austen (Orgulho, 2010), uma tragédia familiar (O Fim de Nós, 2012), um serial killer em uma cidade mineira (Campina, 2014) e os relatos de quatro mulheres negras (Éden, 2018).
Durante a escrita do romance, sobretudo os com pano de fundo histórico, há uma pesquisa paralela à escrita do romance. Essa pesquisa é feita a partir de livros que tratam do assunto (como a ditadura, por exemplo), relatos coletados e, sobretudo, uma memória de histórias recontadas, uma vez que a minha literatura está muito inserida na oralidade e observação de cenas cotidianas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não lido muito bem, como acredito ser o caso de muitos escritores… Às vezes, isso ocorre por causa de um nó dramático ou narrativo, situação criada por mim durante a escrita que leva tempo para resolver. Outras vezes é pura falta de inspiração. Chego a deixar o texto parada por mais de quatro meses até que volte. Ao contrário de muitos casos, jamais consigo escrever se estou deprimido ou passando por problemas pessoais.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
A revisão é a parte mais fundamental da minha escrita. Digo que a revisão chega a demorar mais tempo que a finalização da escrita, pois sempre estou voltando ao texto, reescrevendo e revisando. Quando paro em um determinado capítulo, sou capaz de reler tudo novamente para encontrar o ponto certo para recomeçar e finalizar. A revisão pode demorar de três a quatro meses após a finalização do romance.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre no computador. Não faço uso de anotações. Já ocorreu ter ideias, enquanto estava no ônibus, mas nunca tinha nada a mão para anotar e utilizar depois. Se consigo me lembrar depois, a ideia pode ser utilizada depois.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As minhas ideias surgem a partir de imagens criadas na minha mente que se somam a coisas ouvidas ou vistas por mim ao longo da minha vida. Como já disse, a oralidade é um traço importante da minha escrita, pois procuro escrever como se estivesse falando com o leitor. Há muito da memória, recontada a partir da fala de outras pessoas, fragmentos e reconstrução de algo que ouvi ou vi em algum lugar. Eu acredito que a criatividade pode ser exercitada sempre, quando nos deparamos com outras narrativas. Por tanto, ler é essencial, assim como ver filmes e outras narrativas visuais. Para mim, é um impossível que um escritor escreva, sem ser um grande leitor.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acredito que a minha escrita atual é mais enxuta, comparada à inicial, por eu ter sido influenciado por uma literatura do século XIX, descritiva e que geralmente afasta o leitor contemporâneo. Hoje evito a prolixidade.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho projetos para finalizar uma narrativa que desenvolvi a partir do contexto amazonense. Há vários livros que gostaria de ler. Não consigo pensar em um livro que ainda não existe. Acho difícil existir um livro que ainda não foi escrito em termos de tema, estilo, gênero, etc. Nunca se publicou tanto – a julgar pelo que li por aí -, mas quantidade não implica em qualidade.