Laerte Coutinho é uma das mais importantes cartunistas e chargistas brasileiras.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
De manhã, depois de tomar café e cercanias, costumo dar conta da rotina geral para o jornal onde publico (Folha de S. Paulo). Pra lá, faço uma tira diária, uma charge semanal e uma pequena história mensal.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a criação?
Acho que estou em processo de criação (portanto trabalhando) o tempo todo. Quando sinto que alguma ideia ou formulação se arredonda, ou parece promissora, procuro tomar nota em algum lugar, pra elaborar numa hora favorável. Só lembrando que eu não “escrevo”, eu desenho. Com escrita, mas aí já é outro assunto.
Você cria um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de criação diária?
Desenho sempre em função de publicar. Como publico segundo um cronograma, meu trabalho também se acomoda a isso. Em caso de um projeto maior, sem prazo nem via de impressão, vou tomando notas em horas aleatórias.
Como é o seu processo criativo? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a criação?
Quando se trata de uma ideia anotada para uma tira, é relativamente fácil a passagem. Se se trata de uma página ou mais que isso, é um processo difícil e tenso, que me traz insegurança e ansiedade, até ser resolvido.
Como você lida com bloqueios criativos, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não entendi bem a pergunta – eu lido com a ansiedade ficando ansiosa. Lido com o medo tendo medo. Não sei nenhum jeito de escapar desses sentimentos. Quando é possível, converso com os devidos editores ou clientes em busca de novos prazos ou novas condições. Nem sempre é possível, ai de mim.
Quantas vezes você revisa seu material antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Passo muitas vezes o olhar sobre a história – e sempre me arrependo de alguma coisa, depois de mandá-la para publicação. Tenho algumas pessoas a quem gosto de consultar sobre o que estou produzindo, mas evito fazer isso porque, para mim, isso acaba virando uma muleta perigosa. Uma auto-alienação.
Como é sua relação com a tecnologia? Você produz seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre desenho à mão. Depois escaneio, faço a arte-final e envio pelo computador. Ultimamente tenho usado as redes sociais ou o celular para postar desenhos “em cima” da ideia.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Pra mim, as ideias vêm principalmente de outras ideias. Fora isso, tudo ajuda – uma certa concentração, ausência de música, às vezes uma caminhada, um banho ou uma pia pra lavar.
O que você acha que mudou no seu processo criativo ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar aos seus primeiros materiais?
Acho que já tive mais paciência e disposição. Ideias meio faraônicas não me faziam desanimar. Acho que já fui mais ousada também. Mas gosto do meu modo atual de trabalhar, apesar da impaciência que desenvolvi.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Há um projeto que, teoricamente, já comecei – ao mesmo tempo em que o sinto ainda por começar, já que nada está traçado em termos de roteiro geral ou conduta narrativa. Não sei que livro eu gostaria de ler e que ainda não existe…