Katia Maciel é poeta, artista e professora titular da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Chá, notícias, e-mails e caminhadas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrevo como leio, em qualquer lugar e a qualquer hora, mas prefiro escrever a noite isolada no meu quarto. Gosto muito de ir escrevendo até ter sono e das imagens que surgem quase dormidas nos poemas.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo sempre, mas nunca tive meta diária.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Depende do projeto. No meu primeiro livro de poemas ZUN visitei vários zoológicos. A pesquisa gerava um inventário do animal observado. Escrevia sempre após as visitas. No meu livro “Repetir” a pesquisa foi no meu próprio arquivo de escritos, no terceiro, “Trailer”, revi filmes e na minha memória procurei cenas da vida que apareciam quase como uma sequência cinematográfica. No momento estou trabalhando em um poema longo que se origina em uma entrevista que realizei com o personagem da narrativa.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando não estou escrevendo não quer dizer que não esteja escrevendo. Muitas vezes as palavras se arrumam e se desarrumam sem que eu precise estar com o papel ou com a tela. Jogo fora muitos textos antes de escrevê-los e outras vezes depois de escrevê-los e ainda perco alguns que não gostaria de perder. E tudo isso sem ansiedade. A escrita para mim contraria a ansiedade, ao contrário, há uma exterioridade, um deixar-se no texto que se acomoda.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso sempre, muitas vezes. Sim, mostro para pessoas próximas. Ouço muito e reescrevo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Não há um método. Escrevo como posso no momento em que preciso. Se estou diante do computador é mais fácil, mas vivo com pequenos cadernos cheio de fragmentos que depois reúno e modifico. Às vezes, leio e gravo o poema para me distanciar e me aproximar dele ao mesmo tempo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
De situações, observações, sensações, leituras. Não busco me tornar criativa, para mim é outra coisa a escrita, é afiar-se, é passar pelo buraco da agulha. É um exercício de precisão no mais disperso possível.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Ter experimentado cada vez mais a poesia lida mudou meu ritmo, embora nem todo poema exista para ser lido em voz alta, como a poesia visual, por exemplo. Mas ler o que escrevo e ouvir leituras de outros poetas tem sido uma prática importante e por isso tenho misturado a poesia com a performance em alguns dos meus trabalhos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Plantio. É o projeto que quero começar. Um modo de pensar o que plantamos e o que abandonamos. Gostaria de ler o livro das plantas que existiram e existirão de preferência no meio da floresta da Tijuca.