Kássia Monteiro é jornalista e escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Como trabalho no período da manhã, é acordar, tomar café e ir para o trabalho. Agora, em tempos de home office forçado, tomar café e me sentar na sala para trabalhar. Sei que deveria acordar um pouco mais cedo, ter um momento de leitura ou algo assim antes do expediente, mas dormir sempre parece mais atraente haha.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sem dúvidas, de madrugada. É quando tudo parece fluir mais, no silêncio, como se a energia do mundo se acalmasse e eu enfim pudesse ouvir meus pensamentos. Talvez por isso eu sempre seja mais produtiva quando estou de férias, que é quando posso ir dormir 4h da manhã sem consequências.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Deveria escrever todos os dias, é o que dizem todos os manuais e bons conselhos, mas, infelizmente, sou uma pessoa de fases. Às vezes, passo meses sem escrever nada e semanas escrevendo loucamente. Então, meu interesse se volta para a música, por exemplo, ou para decoração de interiores, e eu aos poucos vou deixando de escrever.
Uma coisa noto com certeza: nos períodos em que estou lendo mais, escrevo mais. É como se ler reativasse o bichinho da criação literária em algum canto obscuro do meu cérebro. O mesmo acontece após bienais e feiras do livro. Aquele ambiente, o contato com os colegas, a gente sai de lá borbulhando de ideias. O problema é colocá-las em prática depois.
Claro, refiro-me aqui à escrita literária. Sou jornalista por profissão, então escrever é, de certa forma, uma rotina diária. Mas, para mim, há um verdadeiro abismo entre escrever um texto jornalístico e um literário, pelo menos com relação ao meu processo mental.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Costumo pesquisar, fazer anotações, montar um esquema básico do que vai acontecer em uma planilha do Excel, mesmo. Depois, é sentar e juntar os pedaços.
Quanto à pesquisa, esse é um grande gargalo, eu nunca acho que pesquisei o suficiente. Também sou muito crítica do meu próprio texto, o que me atrapalha bastante. Mais recentemente tenho tentado deixar fluir sem reler muito, para ver se avanço melhor. É uma boa estratégia.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não lido haha. Como não me considero escritora profissional, mas, antes, alguém que escreve, tenho tentado não me cobrar muito. Quando a vontade de escrever vem, eu escrevo. Se não vem, não escrevo. Forçar eu já sei que não funciona, já tentei. Quanto a expectativas, sou minha maior juíza, muitas coisas acabam censuradas pela minha própria editora interna antes de chegarem aos olhos dos outros. Afinal, eu passo o dia revisando textos de outras pessoas, é muito difícil desligar isso quando vou escrever os meus.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Releio muitas vezes cada frase. E, claro, envio para colegas de confiança, cuja opinião sei que trará algo de valor. Essa leitura qualificada é essencial. Me ajudou a fechar buracos na trama de Soberana – a ascensão da rainha de Marte, por exemplo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Não consigo escrever à mão. A caneta não acompanha a velocidade do meu raciocínio haha Como sei digitar bem, para mim é muito mais rápido direto no computador. Sem falar da facilidade para editar, o que eu faço muitas e muitas vezes.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
De tudo que consumo, vivo e vejo, creio. Como disse, quando estou lendo ou vendo séries, costumo ter muitas ideias. O mais interessante é que elas geralmente brotam em momentos de ócio mental. Quando estou tentando relaxar para dormir ou lavando a louça, por exemplo. No banho, é certeza. Por isso, sempre tenho um bloquinho perto da cama, ou gravo as ideias no celular.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Comecei a escrever mesmo, com a ideia de finalizar um romance, aos 11 anos, depois de ler um livro da Agatha Christie. Tentei emular a forma como ela escrevia, como criava, as palavras que usava. Acho que, se pudesse me dar um conselho, diria para tentar encontrar minha própria maneira de contar histórias, em vez de me comparar com os outros.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Vários haha Tenho um banco de ideias com mais de 70 premissas que eu gostaria de desenvolver. Quando ao livro que ainda não existe, os finais das sagas de Gelo e Fogo e do Matador do Rei. Patrick e George, quando é que vocês vão publicar isso, hein???