Karen Alvares é escritora de terror e suspense psicológico e autora da Série Espelho (Inverso e Reverso) e do thriller Alameda dos Pesadelos.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o meu dia lendo, geralmente no Kindle, enquanto tomo café. Só depois de algumas páginas de leitura sento no computador e começo a trabalhar, mas faço primeiro minhas divulgações, leio e-mails, resolvo problemas ou faço revisões pendentes (além de escritora, também faço freelas de revisão/leitura crítica/copidesque/diagramação). No finalzinho da tarde, lá pelas 16, 17 horas é que começo a me dedicar à escrita de fato. Acho que sou mais noturna.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
No final da tarde, lá pelas 16, 17 horas. É quando já resolvi a maioria dos problemas do dia e me sinto tranquila para escrever. Gosto de ouvir músicas que tenham a ver com o texto no momento da escrita e de fazer/acompanhar minhas anotações em um caderninho. E preciso sempre tomar cuidado para não ficar vadiando na internet, nesse momento de escrita as redes sociais são um perigo, a vontade de procrastinar é muito grande!
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo em períodos concentrados, já tentei e não consigo ter metas de escritas diárias. A coisa simplesmente desanda. Então desapeguei e escrevo quando tenho vontade ou preciso entregar um projeto; geralmente, nesses períodos, escrevo várias e várias páginas, e se estou trabalhando em um romance, por exemplo, já escrevi dois ou três capítulos em apenas algumas horas. Mas, sim, tem dias que eu passo inteiros sem escrever uma única linha.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
No começo, eu passo muito tempo apenas pensando na história, sentindo se ela me interessa (porque se não interessar nem a mim, não vai interessar para os outros; o primeiro leitor do livro é o próprio escritor dele, afinal). Se realmente quero descobrir o que acontece naquela história, começo a escrever os primeiros capítulos ou cenas, daí vejo se a coisa funciona no papel. Às vezes faço anotações no meu caderninho, às vezes não. A pesquisa é feita durante a escrita, de acordo com a necessidade; quando percebo que preciso descobrir mais sobre algum assunto, paro a escrita, procuro, leio, me informo, anoto, e só retorno para a escrita quando estou satisfeita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Se estiver com um bloqueio, procuro outra coisa para fazer a fim de espairecer; leio (e ler ajuda muito), procuro meus games, converso com amigos, caminho na praia, essas coisas. A procrastinação é sempre um problema; consigo reduzi-la bastante quando tenho uma data de entrega, mas nos momentos que estou mais à vontade é difícil resistir. O medo a gente trabalha aos poucos e sempre rola aquele receio na hora de lançar um trabalho novo; geralmente engulo tudo e sigo em frente, senão a coisa nunca sai da gaveta, mas no momento posso dizer que tenho um projeto pronto aqui e ainda estou pensando o que fazer com ele, e parte disso é medo, afinal é um livro que mexe com assuntos muito delicados. No caso de projetos longos, depende do projeto; alguns eu demoro anos para escrever, alguns apenas meses; varia muito se é uma encomenda ou um livro que não tenho prazo para entregar, de fato, as deadlines me ajudam bastante a engolir os medos, a ansiedade, a procrastinação, e continuar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende do texto. Alguns eu reviso mais que os outros. Sempre releio pelo menos umas duas vezes eu mesma, seja um conto ou um romance. Tenho duas revisoras de confiança e sempre passo meus textos para elas, a menos que elas estejam com problemas pessoais e não possam ler, mas isso aconteceu apenas algumas vezes, geralmente eu respeito e espero que elas se resolvam para então ler meus textos, pois confio muito na opinião delas. Meu marido também lê meus textos às vezes, mais como um leitor beta. Também gosto de passar as obras para alguns blogueiros de confiança.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Bem, eu sou professora de informática e trabalho na área de TI há mais de doze anos, então meu relacionamento com a tecnologia é bastante íntimo. Só uso meu caderninho à mão para ideias pontuais e rabiscos, mas o grosso faço mesmo no computador. Inclusive, sempre utilizo as ferramentas do Word para escrita e revisão, além de ter diagramado a maioria dos meus e-books publicados.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Geralmente minhas ideias vêm da observação do cotidiano ou de sentimentos íntimos que preciso explorar na escrita. É claro que obras de outros autores também me influenciam, especialmente livros, mas também jogo muito videogame (e acredito que algumas narrativas de games são incrivelmente inspiradoras, lamento que algumas pessoas não consigam enxergar games como arte) e ouço música o tempo todo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que sou mais cuidadosa agora e reviso com mais clareza e atenção. Eu diria para meu eu do passado ter mais cuidado com a revisão, mas, ao mesmo tempo, acredito que são as experiências e os erros que nos tornam pessoas melhores, então precisava daquela pessoa lá atrás cometendo erros para agora eu possa ser quem sou.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um dia eu gostaria de fazer um livro-jogo e um middle grade sobre piratas, talvez as duas coisas juntas. Agora, que livro eu gostaria de ler e ainda não existe? Não sei mesmo. Gosto de me surpreender até mesmo com as minhas próprias ideias. Geralmente tenho essa sensação quando tenho o livro em mãos e penso “olha só, aqui está algo original que eu realmente queria ler e nem sabia disso”.