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Como escreve Juva Batella

13 de janeiro de 2020 by José Nunes

Juva Batella é escritor e professor de literatura.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Sim, tenho. Acordo às 7:30, vou nadar, nado uns 50 minutos, voltou para casa, tomo um café, acendo um cigarro e começo a escrever. (Fumo cigarros de enrolar com a mão, feitos com tabaco vendido em pacote; estes cigarros costumam durar 1 hora). Quando estou envolvido com um projeto literário mais longo, dedico-me totalmente a esta escrita enquanto dura este cigarro. Esta brincadeira vai até a hora do almoço, entre 12:00 e 13:00.

Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

Trabalho melhor, portanto, pela manhã, e o ritual matinal está exposto acima. Depois do jantar, também acompanhado de um cigarro, consigo escrever bastante, até a hora de me deitar, ler durante 1 hora, e fechar os olhos.

Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

Escrevo todos os dias quando começo um novo romance e sinto que ele engrenou. Quando não estou metido em um projeto de longa duração, escrevo muito pouco. Dedico-me mais a preparar aulas e a inventar pequenas modas literárias na frente do computador, mas tudo isso me agarra pouco.

Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

O processo é lento e minucioso, e não o divido em fases estanques. A escrita acompanha a pesquisa, porque a pesquisa vai depender do que estou escrevendo e das necessidades dessa escrita. À medida que escrevo, trabalho (quase que como um descanso) em revisões ininterruptas (não menos que 10 para tudo o que escrevo). As revisões são a parte mais gostosa (o que chamo de trabalho de textualização), porque já me livrei do peso, do medo e da responsabilidade da criação propriamente dita.

Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Fico triste, e não me conformo. Por isso insisto e insisto em resolver as travas e os nós de uma história. Em geral acredito que consigo. É muito frustrante não conseguir. Felizmente tudo o que escrevi na vida consegui publicar. Não gosto da ideia de “escrever para mim mesmo”, ou “para as gavetas”. Talvez por isso não me imagino a escrever diários (a não ser que eu tenha a certeza de que serão publicados postumamente).

Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

Reviso, como disse, muitas e muitas vezes, ao ponto da obsessão. No mínimo 10 vezes, sempre reescrevendo. E não mostro a ninguém. Tenho pudores em mostrar, e odeia a ideia de que estou mostrando a alguém para saber a opinião desse alguém. Meu tio, o escritor João Ubaldo Ribeiro, um dia me disse: “Juva, jamais peça a opinião de alguém para o que você escrever. Se a pessoa gostou, dirá; e, se não gostou, talvez não diga nada”. Venho seguindo este conselho. Mordo-me por dentro, mas não mostro… É maluquice isso, mas é assim.

Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

Minha relação com a tecnologia é total (e a minha letra é horrorosa…). Faço tudo no computador, com backups em nuvem e e-mails de backup para mim mesmo. Sou obcecado por backups (embora raramente imprima o trabalho durante o processo…). A ideia de perder um arquivo é para mim quase indecente e vergonhosa.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

Minhas ideias vêm apenas de insights. Tenho dificuldades em ter ideias e muita facilidade em escrever (o ato da escrita em si). Mas quando elas vêm fico completamente focado, e passo a melhorá-las e completá-las com muita observação à volta, anotando coisinhas no celular.

O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

Mudou a necessidade de concisão. Diria a mim mesmo: “Escreva menos, homem! Escreva de forma menos estilosa, com períodos mais curtos!”. Diria isso.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Tenho muitos projetos em andamento. E é tudo segredo. Ou seja, não mostro a ninguém antes de estarem completamente finalizados… Não há um livro que eu gostaria de ler e não existe. Os livros que eu gostaria de ler são todos os que existem e que eu ainda não li. O mundo é vário.

* Entrevista publicada originalmente em 13 de janeiro de 2020, no comoeuescrevo.com (@comoeuescrevo).

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@comoeuescrevo) é doutor em direito pela Universidade de Brasília.

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