Jussara Pires é escritora, amante dos livros e da natureza.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo bem cedo, ainda clareando. Como se diz: “com as galinhas”. E por mais cedo que eu acorde, nunca é tempo suficiente para fazer tudo. Pois eu abraço mais do que os meus braços conseguem abraçar. Mas continuo tentando.
Entre o trabalho de casa e o trabalho de sítio, pois eu moro em um sítio, eu costuro, faço artesanatos, cuido dos animais, cuido da horta, confecciono pequenos móveis rústicos entre outros objetos. E me fascino em aprender, qualquer atividade a qualquer momento.
Lá para umas 10horas, me concedo um intervalo para o café acompanhado de um livro. Sempre tenho dois ou três livros espalhados pela casa esperando uma oportunidade para ler. E leio pelo menos 2 livros por mês. E durante o dia, nos intervalos, ou mesmo durante o trabalho, eu anoto algumas ideias para escrever. Mas nem sempre eu sei o que vou escrever com essas ideias; pode ser uma crônica, uma poesia, um conto… apenas anoto. Pois um texto pode surgir de pequenos detalhes. Por isso eu preciso anotar tudo que penso, na hora que penso para não esquecer.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A mente e o corpo sempre trabalham juntos o tempo todo. Às vezes, algo que vejo ou ouço e que me chame atenção ou que me faça pensar, me dá a ideia de que preciso para escrever. Seja na academia, vendo um filme, trabalhando, vendo uma reportagem. E a melhor hora para escrever é na hora em que as ideias surgem. Mas gosto mesmo de escrever durante à noite, quando todos já estão dormindo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Na verdade não tenho, até tento, mas não consigo me forçar a escrever.Porém, meus melhores textos surgem de madrugada, quando fico com insônia. Pois quando a gente tem algo para pôr para fora é melhor vomitar de vez, desentalar o que está preso na garganta para não explodir. Aí, a cabeça fica mais leve e eu consigo dormir.
Mas são as poesias que costumam ser mais irritantes. Elas ficam martelando em minha mente até que eu consiga escrever.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Quando tenho uma ideia o texto ganha vida própria. Eu fico fascinada e não consigo tirar o texto da cabeça. As palavras se juntam e formam frases e parágrafos… A coisa flui rápido. É involuntário. E quando isso acontece, eu fico desligada do mundo a minha volta. Eu me transporto para dentro do texto. É uma loucura!
Eu costumo pesquisar durante o processo de criação, em paralelo. E o texto caminha de acordo com o conhecimento que adquiro.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
É normal travar. Nem sempre estamos com disposição para escrever. Por isso é melhor esperar a inspiração aparecer. Pois um texto escrito sem inspiração, fica sem harmonia, sem a cadência certa para prender a atenção do leitor. Pelo menos eu acho assim.
Não gosto de tempo limitado para escrever. Mas precisando, eu dou conta. Talvez não fique como eu gostaria, mas faço o melhor possível.
Em relação a textos longos, eu adoro. Preciso mesmo é de freio, senão eu escrevo páginas e páginas sem parar. E para isso não acontecer, tenho que pôr metas para não perder o foco.
E não tenho medo de não agradar, porque existem leitores para todos os tipos de textos. Se não agradar a uns, com certeza agradará a outros.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muitas vezes, mas nunca é o bastante. Sempre que publico um texto, encontro um ou dois erros que deixei passar. Isso me deixa um pouco chateada. Mas estou melhorando.
Antes eu mostrava os meus textos a minha família e a amigos. Chegava a irritar todo mundo.Mas aprendi que não são os familiares que irão ler meus textos e nem sempre o que escrevo vai agradar a quem gosta de mim. Temos que saber separar as coisas.
Hoje em dia, mostro meus textos a uma pessoa que possa me dar uma opinião profissional. E o conteúdo do texto tem que agradar a mim, em primeiro lugar. E mexer com o leitor, trazer desconforto e fazê-lo pensar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sou uma mulher das cavernas, mas prefiro escrever no computador. E já me adaptei a escrita rápida que a tecnologia nos dá. Não só por causa dos corretores; que na minha opinião podem mais prejudicar que ajudar. Mas porque o computador é uma ferramenta que facilita a visualizar e a modificar parágrafos ou capítulos inteiros, a deslocar para o início ou para o fim do texto e a tirar dúvidas pela internet.
Só faço rascunhos no papel se não houver outro jeito. Porque a maioria dos textos, que escrevo à mão, acabo perdendo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
O conhecimento é tudo. Quanto mais você adquire conhecimento, mas você se sente seguro para falar sobre assuntos diversos.
Gosto de ler sobre tudo, de ouvir o que outras pessoas têm a dizer. E gosto de comparar situações. Isso me dá um conjunto de informações. Mesmo que o que eu veja ou o que eu leia seja contrário às minhas verdades. Pois sempre é bom exercitar a mente para raciocinar fora das bordas e acrescentar mais ideias a minha bagagem para escrever.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Nossa, mudou muito!
Meus primeiros textos eram bons, se eram! Pelo menos era como eu achava. Eu costumava virar noites escrevendo e me divertia muito com isso. O problema era que eu não tinha nenhuma ideia de que não sabia escrever, que só contava histórias.
Quando releio minhas antigas escritas, eu vejo como meus textos eram confusos, repetitivos e cheios de erros. Mas acredito que ainda tenha muito o que aprender.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Depois da publicação do meu livro, O Cálice de Ouro, em 2018, já estou trabalhando para um próximo livro. Mas ainda está em estudo para o futuro.
E livros para ler, eu vou morrer e não lerei nem a metade do que gostaria de ler. Só nascendo de novo.