Julio Klein é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia começa as 6:30 da manhã, em geral com um agradecimento ao universo por mais uma noite bem dormida, após isso cuido de meus afazeres diários, como me encontro desempregado, isso se resume a responder e-mails de consultoria, algumas aulas avulsas de história, entre outros, passo meu dia assim.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Para a minha pessoa, a hora da escrita é quando o sol já está abaixo da linha do horizonte, começo a escrever geralmente lá pelas 22:00 e sigo escrevendo enquanto tenho inspiração, não é incomum eu chegar as 4:00 da manhã dessa forma, mesmo quando eu estou trabalhando como professor, ao contrario do que possa parecer, me sinto renovado depois de uma noite escrevendo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu tenho ciclos de escrita, em geral passo de um até mesmo nove meses sem conseguir escrever uma linha, e as vezes passo três a cinco meses escrevendo direto, tento ter “metas” de escrita, tipo, 5 páginas por dia, mas para mim não funciona assim, quando a ideia vem, eu sento e escrevo, escrevo tudo que consigo, quando a vontade se vai, eu simplesmente paro, aprendi que forçar esses limites fazia de meus textos algo artificial, portanto aprendi a respeitar esses limites, e confesso que o que pode parecer a outros desleixo, a mim trouxe muito prazer e mais, qualidade aos meus textos. Claro que quando os textos estão prontos para a produção do editor é outra situação, correções e outros trabalhos não entram nesse processo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Vai lhe parecer estranho, mas eu não faço pesquisa de escrita, claro, sou influenciado por tantos grandes mestres que brilharam antes de eu sequer pensar em existir C.W, Lewis, Orwell, Tolkien e tantos outros alimentaram com suas histórias a minha imaginação já fértil, mas meu processo de escrita vem de um sonho que tive e ainda tenho de um lugar distante, conto a história desses personagens quase como um cronista, por isso minha última crônica (que eu lancei por primeiro), é uma homenagem a isso, digo, o nome da crônica, O Conto de um Conto.
Nesse processo, cada sonho, se mistura com minhas aventuras de RPG, com aquilo que sei, e principalmente, com aquilo que vejo aqueles personagens fazendo, então apenas vou relatando.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Por vinte anos tive essas travas, embora eu escreva há muito tempo, apenas recentemente lancei meu primeiro livro, a procrastinação aprendi que na verdade é uma espécie de medo, de não se dedicar aquilo por receio do que os outros irão pensar, por exemplo eu sou historiador, e por longos anos fiquei com receio de mostrar uma linha sequer do meu trabalho, devido a minha formação, antes disso é “o que eles vão pensar de mim se eu mostrar? Há tantos livros bons no mundo, vou lançar o meu quando tiver dinheiro/estiver perfeito”. Hoje eu digo de peito aberto que isso é besteira, não que você querer que sua obra seja o mais próxima daquilo que você deseja para ela seja algo ruim, mas no fim quase em 99% das vezes você só está com um pensamento em seu subconsciente: “minha obra não é boa” quase sempre influenciado por um “amigo” que leu o que você escreveu.
Ora deixe-me dar uma pequena dica, amigos/parentes em geral são bem-intencionados, mas em suma ou eles te “elevam demais” ou “são sinceros demais” e acabam te colocando pra baixo, uma boa é você descobrir qual é seu público, blogs na internet, ou rodas de leituras nas bibliotecas, concursos de contos, são uma boa maneira de achar isso, ou mesmo pagar um profissional que lhe diga “ei esse texto aqui é bom para tal público”.
Ao achar seu público atenha-se a ele, claro, posso dizer por mim, eu quero escrever para um público “mais adulto”, mas minha literatura foi catalogada como infanto-juvenil, e lhe digo, estou feliz com isso, tento amadurecer meus textos, mas aprendi a respeitar minha “História”, ela nasceu de minha mente, mas ao mesmo tempo é a história de outros que estou contando, aqueles que a apreciarem certamente irão acha-la, independente da idade ou categoria que você for colocado.
Então não tenha medo, encare as travas/atrasos, como um processo de amadurecimento de suas próprias ideias, não se cobre demais se não conseguir já de primeira, mas nunca deixe de pensar, lembre-se muitos gênios tiveram suas melhores ideias quando estavam descansando ou longe de seus “trabalhos”, e não é incomum que ao estarmos diante de um problema “gigante” e darmos um tempo, saindo, indo no cinema, vendo amigos, ou qualquer outra atividade que relaxe o cérebro, tenhamos um insight e consigamos resolver o problema/ou ter uma excelente ideia de escrita.
Lembre-se, você quis escrever a sua história, respeite-a, no tempo dela ela virá até você.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu faço em geral três leituras de conteúdo, para ver se todos os elementos que eu imaginei/quis estão em cada capitulo que eu escrevi, acompanhado de um bloco de notas, a revisão ortográfica eu deixo para os profissionais da língua portuguesa! Não que eu não saiba, mas sempre é bom termos a opinião de quem conhece! Vale muito a pena. Quanto aos meus textos, em geral eu tenho 3 leitores que seleciono, um que gosta da minha obra, um que é um critico dela, e um neutro, somos esses três para saber como minha obra está, porém, eu realmente mando um texto a frente quando eu olho para ele e sorrio, quando eu leio ele e parece a minha pessoa que “não fui eu quem escrevi”, esses são meus melhores textos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu faço uso de todos os meios de tecnologias a disposição para salvar meus textos, contudo, embora já tenha 37 anos, eu ainda ando com uma agenda e uma caneta sempre a mão, quando uma ideia pinta, eu anoto ela, e somo ela aos meus sonhos e experiencias, uso em geral de dois a três cadernos pequenos por ano com anotações desse jeito.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Como falei ao longo da entrevista, minhas ideias vêm principalmente dos meus sonhos, sonho com um lugar chamado Adamus há muito tempo mesmo, tudo que escrevi até hoje, fora meus textos acadêmicos, tem relação, direta ou indireta com esse lugar. E é claro, sempre que posso estou relendo/lendo algo do gênero que mais gosto, ficção/fantasia medieval, seria injusto dizer que isso não influencia, a mitologia também teve um papel dominante nesse processo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Aprendi muito com meus erros, meus principais erros foram dar ouvidos demais a “amigos” e “familiares” me “incentivavam a só escrever quando tivesse com a vida ganha”, isso gerou um medo enorme em mim, hoje escrevo bem mais do que antes, embora tenha os tempos de “descanso”, mas diria a minha pessoa “manda eles pastarem, escreva, jovem, escreva tudo que você pode, essa história escolheu você, então respeite-a e conte-a como um bom bardo”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou desenhando meu projeto Adamus, já tenho a página no facebook e no instagram, a composição está em 20 livros, só faltam organizar 19! (risos) Isso me alegra e muito, e estou esperando o “livro 3 da Cronicas do Matador do Rei” do Patrick Rothfuss sair!