Juliana Carvalho é doutora em Literatura Comparada pela UERJ e professora adjunta de Literatura na UNIP.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Durante semana, costumo começar o dia com o despertador bem cedinho perturbando meu sono. Então tenho que tomar uma coragem imensa para levantar da cama. Penso que não posso deixar meus alunos me esperando, que não é justo. Só começo a existir depois de um café bem forte e de um banho muito quente. Ao chegar à universidade, mais precisamente, à sala de aula, aí sim acordo completamente e me pergunto como é que passou pela minha cabeça voltar a dormir. Na sala de aula, realmente me sinto viva e desperta.
Nas manhãs dos fins de semana, aí sim eu me entrego completamente à preguiça. Sou uma pessoa bastante noturna e, se não fossem os compromissos matutinos, acordaria sempre após as 10h. (risos)
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Normalmente não costumo escrever pela manhã, a não ser que esteja com algum prazo estourando. De manhã, sou sonolenta e preguiçosa. Me sinto mais viva e desperta à noite. Então, quase todos os textos que produzo são feitos no fim do dia. Em relação à escrita literária, esta sim vem a qualquer momento, inclusive de madrugada.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Depende da situação. Em relação à escrita científica, crio metas diárias. Primeiro, levantamento de bibliografia, em seguida, leitura e, por último, a escrita; aquele ciclo básico. Procuro ser organizada para cumprir os prazos. Já em relação à literatura, é uma necessidade. Então vem o desejo de criação a qualquer momento do dia. Às vezes passo longos períodos sem escrever nenhuma poesia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Começar, todos sabem, é sempre a parte mais difícil. Lei da inércia. (risos) Acredito que escrever seja questão de foco, vontade e organização. Mas a verdade é que, muitas vezes, falta tudo, principalmente paciência. Acredito que haja dois ingredientes que podem ajudar bastante: propor-se a trabalhar com temas que nos dê prazer, provoque paixão. Portanto, nesse sentindo, procuro ser bastante criteriosa com os trabalhos que vou aceitar.
Sobre mover-me da pesquisa para escrita, parto das notas que faço no decorrer da leitura, das partes sublinhadas, dos pensamentos que brotaram e vão crescendo no decorrer da escrita. Procuro respeitar meu tempo de maturação da palavra.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Em alguns momentos, é comum travar. Quando isso acontece, busco mais leituras ou mesmo me desvencilhar um pouco do trabalho de escrita e descansar na poesia, no cinema, fazer algo que me dê prazer, me dar uma folga.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Incontáveis vezes, mas faço isso no decorrer da escrita. Depois de finalizado, reviso apenas uma vez. Costumo mostrar ou falar dele para algum amigo próximo, perguntar o que acha da ideia central. Mas não costumo pedir para que leia, deixo a tarefa para a editora.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre computador. No entanto, quando se trata de escrever poesia, muitas e muitas vezes escrevo à mão.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Das leituras, sejam elas literárias ou científicas. Ou da fruição artística em geral.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Diria à Juliana do início do doutorado para ser menos rigorosa com todo o processo de pesquisa/escrita, menos ansiosa também. Acredito que hoje eu respeite mais meu tempo, meu corpo, minha cabeça, meus sentimentos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de em algum momento saber e sentir que o livro de poesias que escrevo está pronto para sair por aí. Mas ele é interminável e parece nunca parar de crescer pelas minhas pernas, ventre, pensamentos. Ainda está muito entranhado em mim. Acho que é esse livro que gostaria que existisse, pois seria um alívio finalmente pari-lo e dizer a ele: eis o mundo.