Júlia Motta é poeta marginal e monitora cultura, autora de “resistir para existir”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sou mudanças diárias, gosto de dias novos, não gosto da mesma rotina.
Começo meu dia agradecendo, tomando meu café e planejando os compromissos e trabalho. Não tenho uma rotina exata, sou rebelde, costumo realizar as prioridades do meu dia, como trabalho, manutenção das redes sociais, interação com o público e escrevendo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Enquanto poeta, a minha produção é alta durante a noite, quando se tens vivências, tem história para contar. A escrita é um ritual sagrado, eu não acostumei com essa ideia de ser escritora (risos), mais amo a ideia de ser uma nova escrita todos os dias.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo diariamente, sem cobranças, limitações ou metas. A poesia e conteúdo que produzo é contra padrões e metas, é tudo sobre liberdade e manifestação. Existem dias que meu silêncio é minha melhor poesia e dias que poucas palavras não basta, preciso completar novas poesias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Cada processo é um processo, ousado conseguir responder essa pergunta. O escritor guarda consigo um segredo o seu processo, seu encontro, reencontro dos começos e fins de um punhado de palavras que vale interpretação, que lida com sentimentos, vivências ou ficção. É tudo sobre a demanda de escrita, aquilo que quer escrever e como começar, o fim a gente nunca sabe, mas por sua vez ele aparece.
Raramente trabalho com pesquisa, ou ficção, meu forte é falar do entorno, dos cantos esquecidos de tudo aquilo que não querem falar. Muitas vezes eu junto as revoltas e escrevo, ou recolho os amores e escrevo, tudo depende da disposição e ação que da sentindo ao que passamos.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Procrastinar, travar, esquecer o que ia falar, bloqueio criativo são os desafios mais compreensivos desse ciclo. Respira, não pira e está tudo ou vai ficar, só acreditar.
Mantenho sempre um caderno e caneta por perto, para escrever palavras, ideias e afins que serão gatilho quando o bloqueio bater. Costumo dizer que a minha meta é virar melhor amiga da ansiedade, ela vive comigo, tenho que enfrentá-la diariamente. Conseguir que ela também seja inspiração para uma nova poesia, que a minha terapia seja gratuita. Escrever é se conhecer todos os dias, é necessário.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Escrevo e leio três vezes, a primeira é para compreender o conteúdo e sentido. A segunda é para sentir e fazer doer/curar. A terceira é para confirmar se consegui descrever os sentimentos. E solto ao mundo, é como gerar em pouco tempo, as vezes em longo prazo, mais ele sai e quando está pronto, corto o cordão umbilical para que ligue em outras pessoas, quando publicamos nossos textos, eles não pertencem somente a nós.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tecnologia é minha segunda opção. Não quero nunca perder o hábito de estar em contato com a caneta e o papel, o desenvolvimento da escrita é libertadora ainda mais.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Existem alguns exércitos que criei que são os despertar da criatividade, que passo aos alunos de oficinas e projetos. São alguns hábitos para não perder a escrita criativa e manter dentro das cabeças um universo mais amplo e comunicativo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Escrevo desde os 11 anos, então assim como a vida, na escrita amadureci. Quando permito a folhear cadernos antigos, consigo acessar ao mundo completamente diferente do agora, mais eu entendo o propósito de escolhas e ideais. Se pudesse dizer algo, diria, para além de ser poeta, continue sendo sua melhor poesia.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O projeto da continuidade, daqui um tempo ver o processo de cada semente que plantei. Todo o trabalho é voltado pela necessidade de fala, de lugar e pertencimento. Minha missão é propagar cura para cicatrizes que não se fecham nunca. Gostaria muito de ler pronto a segunda edição do meu livro “resistir para existir” quando esse dia de glória chegar, irei festejar intensamente.